Ao mirar o horizonte, era como se a Rodovia Anchieta estivesse pintada por milhares pontinhos de tons neon. Os capacetes e as roupas em amarelo, laranja, roxo e outras tantas cores seguiam em direção a Santos, em um percurso de 73 quilômetros, com saída de São Bernardo do Campo. O motivo é o 2° Pedal Anchieta, evento ciclístico que reúne participantes de diversas partes do Estado de São Paulo.

O trajeto sai de uma das maiores cidades do ABC Paulista, passando por área urbana, pontes, parte da Serra do Mar até a chegada, no litoral. Os participantes chegaram até o local de partida de van ou ônibus de excursão, metrô, carro e, claro, também de bicicleta.

Morador da Vila Guilherme, o consultor Roberto Perucelli, de 41 anos, pedalou de casa até o ponto de partida com um pelotão de três grupos ciclistas, todos da zona norte da capital. O trajeto começou às 4h15, chegando à rodovia antes do horário da largada, às 6h30. “Viemos com mais dois grupos, até por questão de segurança.”

Como esteve na edição passada, desta vex instalou uma câmera no capacete para gravar todo o percurso. “Vai ficar legal, é uma vista muito diferente.”

Grande parte dos participantes dedicaram alguns minutos para fazer fotos e vídeos do evento. Além das imagens em grupo e da massa de participantes, o taxista Wagner Gercov, de 54 anos, também era procurado para selfies, pois vestia uma fantasia de Jack Sparrow, do filme Piratas do Caribe.

Ele também personalizou a própria bicicleta com um barril (com chá gelado, para imitar rum), um baú do tesouro (com quatro garrafinhas de água) e uma bandeira de pirata. Diz que é um pouco mais difícil pedalar fantasiado, mas que vale a pena.

“Gosto de vir assim, também usei no ano passado. Gosto de filmes de pirata, de tudo que é contravenção. Ano que vem quero vir de Coringa”, diz o taxista, que pedala acompanhado da esposa, a autônoma Lourdes Gercov, de 51 anos.

Já o motoboy Luciano Aparecido do Amaral, de 40 anos, participou do passeio junta da filha, Nicole Letícia, de 11 anos. “Quando falo que vou pedalar, ela sempre quer vir também. Se sair sol, vamos aproveitar e ir para a praia”, conta. Nicole, por sua vez, também está interessada na vista, mas não gosta de tirar fotos. “Vim pelo passeio.”

O empresário Raniel Marsílio, de 59 anos, saiu de Uberaba, no interior paulista, às 19 horas, em uma van do grupo Quebra Morro. “Nós vamos de boa, não tem meta nenhuma, é mais visual, a vontade de ver as curvas de Santos.”

A maioria de participantes é masculina, mas também há presença de mulheres, como as comerciantes Marina Karina Barros, de 30 anos, Débora Kerne, de 33, vindas de Guareí, município de 17 mil habitantes da parte sul de São Paulo. “O ônibus saiu às 11 horas (da noite). Estamos todos sem dormir. Pedalo quase todo dia há dois anos”, conta Karina. “Comecei por curiosidade, depois virou uma alegria, traz uma paz. Onde a gente mora tem bastante árvore, acalma a alma.”

O farmacêutico Rubens Manea, de 58 anos, começou a pedalar periodicamente ao adotar hábitos mais saudáveis. Dois anos depois, até virou presidente de uma associação de ciclistas do município em que vive, Ourinhos, também no interior paulista.

O grupo também reúne pessoas com deficiência, como Odair Ferreira, de 29 anos, que também é jogador de um time de futebol para amputados. Ele utiliza uma bicicleta adaptada e pedala apenas com a perna direita. “Comecei há seis meses. A bike apareceu na minha vida. Pedalava só quando era criança. Vai ser uma experiência única para mim.”

O percurso começou às 6h30. Por causa do passeio, trechos das rodovias Anchieta e Imigrantes foram parcialmente fechados.