O inverno começa apenas em 21 de junho, mas no outono já é possível perceber reduções bruscas de temperatura que podem afetar os brasileiros. Além de gripes sazonais típicas da época, as baixas temperaturas podem afetar a produção agrícola nacional e contribuir ainda mais com a inflação dos alimentos.

Apenas no mês de março, os preços dos alimentos subiram 3,09%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), abaixo da inflação geral do mês de 1,62%.

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O principal temor dos produtores nos meses de outono e inverno é a formação de geadas, que podem destruir safras inteiras em poucas horas, como aconteceu com o café em 2021.

“Tem culturas atingidas pelo frio e isso responde pela questão inflacionária: hortaliças, legumes, café, cana de açúcar, laranja milho, plantado no Paraná e Mato Grosso do Sul, trigo do Rio Grande do Sul e Paraná e feijão no Paraná podem ser atingidos. É muito comum em São Paulo ter geadas no outono e inverno, e isso gera efeito nos preços até 15 dias depois”, explica Celso Oliveira, agrometeorologista do Clima Tempo.

As massas de ar geladas oriundas do Polo Sul avançam sobre o continente e reduzem drasticamente as temperaturas, o que pode influenciar na formação de geadas. No entanto, a temperatura dos oceanos, cada vez mais altas devido ao aquecimento global, e até a atividade solar podem auxiliar na formação de geadas.

Oliveira diz que as geadas costumam ser mais frequentes no intervalo entre os fenômenos El Niño e La Niña, o segundo em atividade desde 2021.

“Estamos em La Niña, mas há possibilidade de breve período de neutralidade no inverno, o que aumenta a preocupação com geadas”, diz Oliveira.

As geadas impactam de maneira diferente em cada cultura: para afetar a produção de café, por exemplo, é necessária uma geada mais longa e abaixo de zero grau. As hortaliças, mais sensíveis, podem ser afetadas já em temperaturas entre 5ºC e 6ºC. O tempo de exposição à geada também é determinante à destruição de algumas sagras agrícolas.

Trigo

A guerra entre Rússia e Ucrânia, dois produtores internacionais de trigo, fez o preço do cereal aumentar 46,25% desde o início do conflito. Se houver uma geada na produção de trigo nacional, o preço do pão irá subir ainda mais. Uma das alternativas seria a importação do trigo argentino, mas o mesmo problema pode ocorrer no país vizinho.

“Se tiver geada aqui, tem também na Argentina, que fornece trigo e milho. O problema é a Argentina ter geada no final do inverno. No Brasil, o problema é a geada entre maio e julho. Na Argentina, só planta do meio do inverno para frente, se não a plantação é perdida. Mesmo assim, pode ter frio e prejudicar a produção do trigo”, ressalta Oliveira.

Apesar de produtor, o Brasil importa trigo. No Sul, o trigo é argentino, mas, para o Norte e Nordeste do País, é mais barato importar dos Estados Unidos.

A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e tem sido boicotada economicamente pela invasão na Ucrânia – juntos, os dois países respondem por 29% das exportações mundiais de trigo.

No Brasil, os maiores produtores nacionais são Rio Grande do Sul e Paraná, que, juntos, produzem 85% do trigo nacional.