Os dias já foram muito melhores para o empresário Paulo Izzo, presidente do Grupo Izzo, de São Paulo, até pouco tempo atrás conhecido como uma das maiores importadoras independentes de motocicletas de luxo do Brasil. Por suas concessionárias já passaram marcas como Buell, Triumph, Husqvarna, Polaris, Malaguti, MV Agusta, Benelli e Harley-Davidson. Para os não aficionados do mundo das duas rodas, basta dizer que todas elas têm preços que começam a partir de R$ 20 mil e podem ultrapassar a casa dos R$ 100 mil. Hoje, no entanto, o grupo está longe de seus dias de glória, que duraram do início dos anos 2000 até 2008. Agora, Izzo representa apenas duas marcas: a italiana Ducati e a austríaca KTM. 

 

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Paulo Izzo: em 2011, o grupo Izzo vendeu cerca de 800 motos,

um quinto do resultado de 2008.

 

Com esse portfólio, emplacou menos de mil motos em 2011, um quinto do resultado de 2008, quando era líder do segmento de alta cilindrada, representando a Harley-Davidson, da qual era importador desde 1993. Sua parceria com a montadora contava até com uma fábrica em Manaus, a única unidade produtiva fora dos Estados Unidos. Os problemas do grupo Izzo começaram depois que a Harley-Davidson, por meio de uma ação na Justiça, quebrou o contrato com a empresa brasileira, em 2011. Uma de suas alegações era de que o importador havia rompido uma das cláusulas do contrato ao vender motos de concorrentes nas lojas exclusivas da Harley-Davidson. 

 

“Outra prática espúria é que a empresa demorava para emplacar e entregar as motocicletas, na medida em que empenhava tais veículos a alguns bancos, dentre eles o Banco Cacique e o Cruzeiro do Sul”, registrou o juiz Carlos Eduardo Borges Fantacini, em sentença proferida em junho de 2010. Uma busca pelo site Reclame Aqui demonstra que o grupo Izzo ainda enfrenta problemas com alguns de seus clientes. Em 2010, quando vendeu mais de três mil motos, foram registradas 12 reclamações. Nos últimos 12 meses, até junho deste ano, teve mais de 90 queixas. No ano passado, foram vendidas aproximadamente 800 motocicletas. Esse tipo de conduta fez com que o Ministério Público do Rio Grande do Sul reabrisse um inquérito para apurar “eventuais práticas comerciais abusivas” do grupo. 

 

De acordo com o promotor Rossano Biazus, da Promotoria de Justiça Especializada de Porto Alegre, o inquérito havia sido arquivado em 2010, pois a empresa, por meio de um compromisso de ajustamento, tinha prometido mudar sua postura. Por conta de novas reclamações, o inquérito voltou a tramitar em janeiro deste ano. “A maioria das denúncias está ligada à dificuldade de emplacar as motos”, diz Biazus. Esse é o caso do advogado Marcel de Melo Santos, 39 anos, que comprou uma motocicleta Ducati, em setembro do ano passado. O pagamento de R$ 34.900, segundo ele, foi feito em duas vezes. A nota fiscal foi emitida em seu nome. Mesmo assim, até hoje ele não conseguiu fazer a transferência da moto, pois ela está alienada ao banco Cruzeiro do Sul. 

 

“O meu sonho de ter uma Ducati virou um pesadelo”, diz Santos. Depois de muitos contatos com o grupo, especialmente com o diretor-comercial Alvaro Sandre, a empresa emplacou a moto em novembro de 2011, mas a colocou em nome do próprio Grupo Izzo. “Eles me venderam a moto, não quitaram a alienação com o banco e ainda continuam como proprietários”, afirma Santos, que se prepara para entrar com uma ação na Justiça pedindo a devolução do dinheiro. O processo de Santos aumentará uma lista de 17 ações registradas nos últimos quatro anos contra o Grupo Izzo, no Estado de São Paulo. A mais recente é a da administradora de imóveis Omar Macksoud. 

 

Em 29 de maio, ela deu entrada no Foro Regional de Santo Amaro a uma ação de despejo por falta de pagamento de aluguel do prédio em que está instalada a sede da empresa, na avenida Bandeirantes, zona sul de São Paulo. O valor da ação é de R$ 1,7 milhão, correspondente a um ano de aluguel. “Eles já estão negociando para desocupar o imóvel”, disse um advogado envolvido nas tratativas. Em entrevista à DINHEIRO (leia abaixo), o empresário Paulo Izzo nega que esteja em dificuldades e contesta os problemas que tem enfrentado com os consumidores. “Pretendemos vender 2,5 mil unidades neste ano”, afirmou Izzo.

 

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“Não houve perda de representação”

 

O empresário Paulo Izzo, presidente do grupo Izzo, concedeu a seguinte entrevista à DINHEIRO:

 

Quais têm sido as atividades do Grupo Izzo depois de perder a representação da Harley-Davidson?

É importante esclarecer que não houve perda da representação.Fizemos um acordo que nos remunerou adequadamente para que abríssemos mão do nosso direito de exclusividade.

 

Quantas motos o Grupo Izzo pretende vender este ano?

Pretendemos vender 2,5 mil unidades.

 

Por que os consumidores estão com dificuldades para emplacar suas motos?

Trabalhamos com operações de floor plan, uma modalidade totalmente legalizada que sofreu nesses últimos meses uma mudança operacional. Isso trouxe uma adaptação que não estamos preparados, exigindo de nossa parte um processo documental burocrático. Junto a isso, há o caso de bancos, como o Cruzeiro do Sul, que, de forma surpreendente, tiveram suas operações bloqueadas,  nos trazendo transtornos.

 

Na semana passada, vocês sofreram uma ação de despejo onde está a sede da empresa. O sr. confirma essa informação?

Essa ação foi feita sem devermos nenhum aluguel e por estarmos negociando o ponto em comum acordo com o dono do imóvel. Já estamos com outro imóvel locado para nossa operação.

 

O Ministério Público do Rio Grande do Sul reabriu um inquérito para apurar eventuais “práticas comerciais abusivas” do grupo Izzo. Qual é a sua posição?

Esse processo já existe desde nossa discussão jurídica com a Harley-Davidson. Nós temos um termo de acordo assinado. Não existe nada em andamento a não ser processos antigos que estamos respondendo de forma legal e imediata.