Há duas maneiras de entender o trabalho do agricultor Eduardo Zenker. Uma delas é ver este pequeníssimo produtor gaúcho como um rapaz irrequieto, que aposta em pequenas fermentações na garagem de sua casa, trabalha sem produtos químicos e quer trilhar o incipiente caminho do vinho natural no Brasil. A outra é vê-lo como um agricultor que não segue todas as regras do Ministério da Agricultura, elaborando vinhos que podem contaminar as pessoas e, ainda, não paga todos os impostos na venda de suas poucas garrafas.

A partir de uma denúncia, Zenker foi enquadrado nesta segunda categoria. Na quarta-feira, dia 7 de junho, fiscais do Ministério da Agricultura interditaram a vinícola de Zenker e de sua mulher Gabriela Schãfer, transformando os dois em fiéis depositários dos vinhos que não podem ser comercializados – são cerca de 7 mil litros, entre pequenos tanques e garrafas.

No estrito senso da lei, os fiscais estão certos. Zenker não segue todas as normas definidas pelo Ministério da Saúde – sua “adega”, se é que podemos chamá-la assim, não é totalmente azulejada, por exemplo. Além disso, ele não paga todos os impostos, como, aliás, a grande maioria dos pequenos viticultores brasileiros e, ouso afirmar, agricultores.

Mas vale pensar um pouco nestas duas “culpas” de Zenker. No lado dos impostos, ele espera a entrada em vigor do Super Simples, que começa a valer em 2018. “Sem o Simples é impossível para um pequeno produtor regularizar a sua situação”, afirma ele. E acrescenta: “vendo meus vinhos para financiar os meus estudos em vinificação.”

No lado do Ministério da Agricultura, além de algumas obras de engenharia, ele precisa contratar um biólogo para fiscalizar sua atividade e, para isso, conta com a sua mulher Gabriela, que está para se formar na área. Zenker diz que a ideia era resolver essas duas pendências logo no começo do ano que vem. Só não esperava a denúncia.

E há quem acredite que a denúncia foi motivada por ciúmes do setor. Zenker foi um dos destaques de um programa sobre o vinho brasileiro, veiculado no Globo Repórter, em novembro do ano passado, que focou nos pequenos produtores, muitos deles, artesanais. Um grupo liderado por Lis Cereja, sócio da Enoteca Saint Vin Saint, está coordenando ações de solidariedade e ajuda a Zenker.