Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar subiu com força frente ao real nesta segunda-feira, apesar de nova intervenção do Banco Central no mercado à vista, o que investidores atribuíram à demanda sazonal pela moeda e a expectativas de que o Federal Reserve se mostre mais duro com a inflação nesta semana.

A divisa norte-americana spot fechou em alta de 1,09%, a 5,6747 reais na venda, seu maior patamar em uma semana e valorização mais acentuada desde 28 de outubro (+1,27%), mesmo após o BC vender 905 milhões de dólares em moeda física.

A operação foi anunciada às 13h10 (horário de Brasília), quando o dólar era negociado perto das máximas do dia, flertando com o patamar de 5,68 reais.

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Essa foi a segunda sessão consecutiva que contou com intervenção da autarquia no mercado de câmbio à vista, o que alguns investidores atribuíram a um período tradicionalmente marcado por liquidez reduzida.

Roberto Motta, responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos, comentou no Twitter que no “mês de dezembro o fluxo é apertado”, chamando a atenção ainda para a aproximação de um pagamento de dividendos de ADRs (recibos de ações negociados nos EUA) pela Petrobras.

Enquanto isso, participantes do mercado aguardavam a decisão da reunião de política monetária de dois dias do banco central norte-americano, a ser anunciada na quarta-feira.

A expectativa de investidores é de que o Fed anuncie a aceleração do ritmo de redução de suas compras mensais de títulos, uma vez que o mercado de trabalho dos EUA tem dado sinais contínuos de aperto e a inflação segue em patamares elevados, mostrando-se mais persistente do que as autoridades estimavam inicialmente.

O Fed também divulgará seu gráfico de pontos trimestral, que mostrará as projeções de seu comitê de definição de política monetária para os custos dos empréstimos. Há ampla expectativa de que as autoridades anteciparão suas estimativas para aumentos de juros no país, prevendo pelo menos duas altas para o ano que vem.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira, a equipe de macro e estratégia do BTG Pactual disse que tanto um cenário de duas altas de juros quanto um cenário de três altas de juros nas projeções medianas do Fed para 2022 tenderão a impulsionar o dólar globalmente, mas destacou que a segunda possibilidade poderia trazer maior volatilidade para ativos de mercados emergentes.

Juros mais altos nos EUA tendem a beneficiar o dólar, já que aumentam a rentabilidade de investimentos em títulos soberanos norte-americanos, considerados o ativo mais seguro do mundo, potencialmente atraindo mais recursos para o país.

“Não vejo outro movimento do dólar a não ser para cima, levando em consideração a política monetária nos EUA”, disse à Reuters Anilson Moretti, chefe de câmbio da HCI Invest.

Além disso, ele apontou incertezas fiscais domésticas, sinais de desaceleração econômica e a aproximação das eleições presidenciais de 2022 como fatores de suporte para a moeda norte-americana frente ao real, apesar do patamar elevado dos juros básicos brasileiros.

O Banco Central iniciou neste ano um intenso ciclo de aperto monetário, elevando a taxa Selic em 7,25 pontos percentuais ante uma mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia de Covid-19. Isso, teoricamente, beneficiaria o real ao elevar a rentabilidade do mercado de renda fixa doméstico.

Mas “não adianta ter uma Selic a 9,25% se o risco Brasil é alto; não vamos atrair (investidor) estrangeiro”, afirmou Moretti.

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