Enquanto o segmento de voos domésticos começou a retomar no mundo, as viagens internacionais são uma incógnita para o setor. Cinco meses após o início da pandemia, a norte-americana Delta ainda vê no Brasil uma fração da demanda que tinha antes da covid-19, disse o diretor geral da empresa no Brasil, Fabio Camargo, em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

“O Brasil não está diferente do que os outros países. É difícil comentar em termos de demanda. Se olhamos em relação ao que tínhamos antes, ela é uma fração. Super baixa. Mas, por outro lado, está em linha com o que esperávamos encontrar quando decidimos voltar as operações no País. Mas temos muitos assentos para vender ainda”, disse o executivo.

A empresa, que sempre encontrou suporte na demanda corporativa, hoje busca passageiros em viagens essenciais e começou a ver um “fluxo razoável” de pessoas comprando passagens a lazer.

Depois de suspender as operações no Brasil no fim de março por causa da pandemia, a Delta retomou os voos por aqui no dia 3 de agosto. A empresa, que tinha três voos diários (São Paulo – Atlanta, São Paulo – Nova York e Rio de Janeiro – Atlanta) reabriu o negócio com quatro frequências semanais de Guarulhos para Atlanta.

A estimativa, segundo o executivo, é voltar a ligação de São Paulo com Nova York em outubro, com três frequências semanais e, em dezembro, religar o Rio de Janeiro à malha. “Ao invés de um voo diário, estamos retomando cada uma das rotas com frequências menores. Planejamos retomar as três rotas até o final do ano. Mas dezembro é o longuíssimo prazo. Semana a semana estamos adaptando a demanda”, disse.

Camargo destacou que o grupo está cauteloso para não ofertar mais voos do que o mercado precisa. O tema, por sinal, tem tirado o sono do setor. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) afirmou que as empresas, de modo geral, estão elevando a oferta de voos em um ritmo mais acelerado do que a procura e isso tende a enfraquecer o caixa.

A demanda global por voos (medida em passageiros quilômetros pagos, RPK) apresentou queda de 79,8% em julho na comparação com igual mês de 2019. Já a oferta (medida em Assentos-Quilômetros Oferecidos, ou ASK, no jargão do setor) se recuperou mais rápido e atingiu queda de 70% em julho na comparação anual.

O fator de utilização das aeronaves continua baixo. Em julho, o indicador ficou em 57,9%, contra 85,6% um ano antes. Na América Latina, as aéreas têm conseguido administrar melhor os seus voos e apresentaram um fator de utilização médio de 63,1% em julho, contra 85,1% em julho de 2019.

Na disputa por espaço no setor, que é marcado por margens apertadas, a Delta tem se aproveitado de um caixa mais sólido para conquistar os poucos passageiros que estão voando. A empresa investiu intensamente em protocolos de limpeza em cada voo e bloqueou todos os assentos do meio para elevar o distanciamento – ação que deve continuar até janeiro.

Há uma resistência no setor em bloquear o assento do meio, uma vez o sistema de filtro dentro das aeronaves conseguiria limpar mais de 99% das partículas do ar. A própria Iata já se posicionou contra. Camargo, entretanto, disse que a Delta tem conseguido colher frutos com a ação. “Temos escutado os passageiros e eles têm nos dito que o que mais gostam na Delta hoje é esse espaço maior. Queremos garantir que a primeira experiência desse passageiro o faça voltar convencido de que é seguro”, afirmou, ponderando que a medida não é sustentável no longo prazo.

O grupo aposta também na recém iniciada parceria com a Latam, anunciada no fim do ano passado. O primeiro voo dentro do acordo de compartilhamento no Brasil foi no dia 3 de agosto, junto da retomada no País.

A Delta antes tinha um acordo com a Gol. A Latam, entretanto, mostrou-se mais favorável diante da sua presença equivalente no Brasil com o bônus de alcançar mais países na América Latina. “A integração com a Latam foi feita em tempo recorde”, disse, destacando que o grupo aproveitou a pandemia para acelerar o processo.