Em uma segunda-feira qualquer de 2013, o francês Fabien Mendez observava o tráfego intenso de veículos na movimentada Avenida 9 de Julho, na região central de São Paulo. Um detalhe nesse típico cartão postal paulistano chamou a atenção do, até então, executivo do mercado financeiro recém-chegado ao Brasil: a grande quantidade de motociclistas entregadores. Menos de um ano depois, em 2014, nascia a Loggi, empresa focada em serviços de entrega. A startup com 5 mil motoristas cadastrados tem objetivos ousados. “Queremos nos tornar a UPS brasileira 2.0”, conta Mendez, em referência à empresa de entregas americana. “Vamos usar a tecnologia para criar um novo tipo de logística.”

A ascensão da Loggi envolve três fatores: a aposta em um mercado disruptivo, a conquista de investidores de peso e a diversificação dos negócios. A aposta, no caso, foi na economia colaborativa, modelo de negócios impulsionado por companhias como Uber e Airbnb. Os motoristas parceiros da Loggi não possuem contratos empregatícios com a empresa, mas são remunerados de acordo com as entregas que realizam recebidas por meio de um aplicativo, assim como na Uber. Segundo Mendez, eles chegam a receber até R$ 5 mil por mês. O piso salarial da categoria é de R$ 1.063,05. O modus operandi moderno chamou a atenção de fundos de investimentos como Monashees Capital, Qualcomm Ventures e Dragoneer Investiment Group que, em agosto de 2015, despejaram R$ 50 milhões na operação da startup brasileira, a terceira e maior captação da empresa até então. Em 2016, com dinheiro em caixa para expandir, a companhia passou a fazer o delivery de encomendas e refeições para empresas de e-commerce e restaurantes.

A estratégia ajudou a Loggi a passar de R$ 20 milhões de receita em 2015 para os mais de R$ 200 milhões nesse ano. Para 2018, a previsão é de que os números atuais dobrem. Para isso, serão investidos R$ 40 milhões em seus negócios, sendo R$ 23 milhões na expansão das entregas para o e-commerce, hoje o carro-chefe. O plano leva em conta o crescimento das vendas online no Brasil que neste ano devem ter alta de 12% e faturamento de R$ 59,91 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). “O e-commerce resiste à crise econômica no País e segue crescendo”, afirma Mauricio Salvador, presidente da ABComm. “É um mercado que continua contratando e gerando emprego.”

Entre os varejistas digitais que são clientes da Loggi, destacam-se a Netshoes, a Saraiva, a C&A e o Mercado Livre. Este último, inclusive, já está testando os serviços da Loggi para o envio de encomendas no mesmo dia da compra. “Pretendemos expandir nessa direção”, diz Leandro Soares, diretor do Mercado Envios, unidade logística do Mercado Livre, para a América Latina. “Queremos atender a demanda de consumidores que estão cada vez mais exigentes em relação ao prazo.”

A Loggi, entretanto, não está sozinha neste mercado. A Mandaê, que transporta encomendas adquiridas no comércio eletrônico, tem uma operação mais tímida. São 7 mil clientes contra 255 mil da Loggi e a área de atuação se restringe à região metropolitana de São Paulo, enquanto a rival já atende todas as capitais das regiões Sul e Sudeste. O Rapiddo Entregas, que faz parte da Movile, companhia que controla os aplicativos iFood e PlayKids, é outro rival. Focado no transporte de refeições, com 3,5 mil motociclistas em oito cidades do País, o Rapiddo também oferece o envio de encomendas, mas apenas quando a entrega parte de uma loja próxima da residência do cliente, e não de um centro de distribuição, como no caso da Loggi. “É um mercado informal e pouco profissional e tecnológico”, diz Guilherme Bonifácio, CEO do Rapiddo. A empresa não revela seu faturamento e quantidade de entregas.

O crescimento veloz fez com que a Loggi chamasse a atenção do Google. Em 2018, a startup de entregas, ao lado da Nubank e do Grupo ZAP VivaReal, vai participar do Launchpad Accelerator, programa de aceleração de startups criado pelo Google nos Estados Unidos. A iniciativa vai apresentar novas tecnologias às startups e aproximá-las dos serviços da gigante de Mountain View. “São empresas com potencial disruptivo e que atuam na solução de programas em regiões emergentes”, diz José Papo, gerente de relacionamento com desenvolvedores e startups para a América Latina. Enquanto se aproxima do Vale do Silício, a Loggi vai acelerando seus negócios no Brasil.