Nascida na Hungria, a confeiteira Anna Ofner encontrou na São Paulo da década de 1950 um ambiente próspero para confeccionar doces e quitutes sofisticados. Com as receitas trazidas na bagagem, ingredientes de qualidade e apuro na apresentação, ela logo conquistou uma clientela abastada. Fornecia para famílias tradicionais e até para o Palácio do Governo. Foi assim por 20 anos. Até que, em 1972, já com a idade avançada e sem que seus herdeiros demonstrassem interesse pela continuidade do negócio, preferiu vendê-lo. Os compradores foram três imigrantes portugueses: os irmãos Américo e Mario Martins da Costa e o sócio José da Costa (apesar do mesmo sobrenome, não é parente). Eles optaram por manter a marca, àquela altura já bastante prestigiada, e os pilares que haviam garantido o sucesso da Ofner por duas décadas. Passados 50 anos desde a troca de controle, e 70 de sua fundação, a empresa segue abrindo novas frentes de negócio que a colocam em uma escala muito maior, dentro e fora do Brasil.

O número de lojas saltou para 25, algumas funcionando 24 horas. Da atual fábrica de 6,5 mil m² na capital paulista saem diariamente mais de 30 mil itens. E a atual geração de gestores, formada pela segunda geração dos Costa, está bastante empenhada em ampliar as receitas. Literalmente. Segundo o diretor-executivo Mario Martins da Costa Junior, que responde pelas áreas comercial e de marketing, o plano de expansão prevê crescimento orgânico, com capital próprio e pés no chão. “Damos os passos até onde nosso bolso alcança”, afirmou. No plano traçado pela empresa, a meta é chegar a 35 lojas nos próximos cinco anos, duas delas ainda em 2022. Mas não é apenas com mais unidades que a companhia pretende aumentar seu público e faturamento. “Temos uma capacidade instalada de fábrica bastante grande e vemos boas possibilidades para atender lojas especializadas e empórios gourmets de outras praças”, disse Junior. Produtos de vida útil mais longa, como salgados congelados, caixas de bombons e panetones estão entre os itens que já abastecem esse mercado — e que não se limitam às fronteiras do País.

“Quando nos apresentamos como empresa na Expo Dubai, os importadores se encantaram com nosso portifólio todo” Mario Martins da Costa Junior diretor comercial e de marketing da Ofner.

Entre os dias 12 e 14 de junho, a Ofner participou do Summer Fancy Food, em Nova York. A feira tem como objetivo unir produtores, distribuidores e importadores de diversos países e é uma das principais portas de entrada para o mercado norte-americano de alimentos gourmet, regionais, orgânicos e naturais. Este ano foi o terceiro em que a empresa participou do evento, que ficou suspenso desde 2019 devido à pandemia. As exportações de panetones e de outros produtos da Ofner para os Estados Unidos deverão somar 45 mil unidades este ano. Outro importante mercado internacional que a empresa acaba de acessar é Dubai, nos Emirados Árabes. “É um mercado com apelo por produtos sofisticados, desde as embalagens”, disse Junior. Depois de um primeiro teste, a empresa recebeu um pedido expressivo de panetones de tâmaras e damasco seco, que atendem ao gosto local. E espera receber novas encomendas. “Quando nos apresentamos na Expo Dubai, os importadores se encantaram com nosso portfólio todo, não apenas com esse produto.” Segundo ele, a empresa investe em pesquisa e desenvolvimento para entregar qualidade.

Embora a pandemia tenha acelerado as transformações na operação da companhia, principalmente pelo fortalecimento do e-commerce, as mudanças haviam começado bem antes, com o lançamento da linha L’Atelier, em 2017. Segundo o diretor financeiro Fernando Costa, a ideia surgiu como forma de segmentar os negócios e atender eventos sociais e corporativos. Aproveitando uma reforma da unidade da rede nos Jardins, bairro nobre da capital paulista, foram criadas duas salas que funcionam como showroom dos produtos voltados para festas. Passado o período de isolamento social da Covid-19, os eventos que haviam sido postergados foram retomados com força total e as vendas desse segmento dispararam. “O faturamento da linha L’Atelier em abril foi o dobro do nosso melhor mês antes da pandemia”, afirmou o responsável pelas finanças do grupo.

DivulgaçãoSOFISTICAÇÃO A mesma qualidade que acompanha a marca desde a fundação, há 70 anos, evolui a partir de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. (Crédito:Divulgação)

CAFÉS Para atender o mercado corporativo, a Ofner vem criando novos produtos e investindo em canais alternativos. Um deles é o inCompany, por meio do qual a marca oferece brindes e presentes personalizados para outras empresas. Com o FoodTruck, leva aos clientes boa parte dos produtos comercializados nas lojas. O portfólio também passa por ampliação. Depois do sucesso do capuccino com a receita Ofner, já à venda, vem aí uma linha de cafés produzidos na cidade de Piumhi, em Minas Gerais. A novidade foi antecipada pelo diretor industrial, Alexandre Martins da Costa: “Nos próximos meses teremos café em cápsula, drip coffee e grão torrado em embalagens de 250 gramas”. Com a nova geração aproveitando cada oportunidade, a marca com 70 anos de história parece ter todos os ingredientes para seguir crescendo.