Do outro lado do planeta, precisamente do Japão, vem uma fortuna anual para o Brasil. Não é composta de pilhas de eletroeletrônicos. Os US$ 2,5 bilhões enviados de Tóquio para o País são a poupança dos 250 mil dekasseguis, acumulada em doze meses. Os brasileiros descendentes de japoneses, ou casados com japonesas, vão trabalhar na terra do sol nascente e de lá mandam, em média, US$ 10 mil por ano cada um. Caso o ranking da balança comercial brasileira seja unido ao de serviços, os dekasseguis só perdem para o complexo soja, que exporta US$ 4 bilhões anuais, de acordo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Este volume está inspirando a criação no País de empresas para reunir os investimentos dos dekasseguis. ?Os brasileiros, quando voltam do Japão, desconhecem a realidade econômica do País e precisam de apoio?, conta Márcio Landes Claussen, coordenador do Sebrae. De acordo com ele, a melhor saída é o conceito de Participação, que reúne sócios-empreendedores em uma mesma empresa.

Há um mês, foi constituída em São José dos Campos (SP), a Nikkei Vale Participações S.A., com capital inicial de R$ 320 mil e 190 acionistas. Pretende ser uma incubadora de pequenas empresas de tecnologia. Em Curitiba, já existe desde 1998 a Dekasseguis S.A., que vai investir em empreendimentos imobiliários e corretagem de seguro. ?Pretendemos criar empresas de tecnologia e até de fornecedores de peças para a indústria?, afirma o presidente do Conselho de Administração da Nikkei, Yoshihiro Yosida. Sua intenção é garantir suporte gerencial e recursos aos sonhos dos dekasseguis e, assim, mudar a realidade de fracassos que freqüentemente assola aqueles que voltam ao Brasil. Eles trazem do Japão em média US$ 60 mil, fruto das economias feitas em quatro anos de trabalho. Lá, recebem salários que vão de US$ 2 mil a US$ 3 mil. Aqui, compram casa própria e tentam a sorte em pequenos negócios, como pastelarias ou casas de sushis. Mas 70% destes empreendimentos são fechados, por falta de experiência na área comercial ou má administração.

O dinheiro dos dekasseguis chamou a atenção até mesmo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que estuda a possibilidade de criar um fundo de participação em capital de risco em empresas criadas por brasileiros que regressam do exterior. Em outubro, será inaugurado oficialmente o portal www.desa.com.br trilingüe (português, inglês e japonês). É a oportunidade dos dekasseguis manterem-se atualizados sobre os negócios no Brasil, mesmo estando do outro lado do mundo.