Os riscos e o tempo de retorno movem o mercado a investir em novos projetos em um verdadeiro jogo de apostas que considera previsões com base no presente. Foi com essa lógica que a XP Inc. anunciou o investimento de R$ 100 milhões na criação de uma faculdade com cursos de graduação na área de tecnologia. Um movimento semelhante ao da criação do Inteli, há dois anos, a partir da doação de
R$ 200 milhões da família de André Esteves, presidente do conselho de administração do BTG Pactual. A instituição financeira mantém apoio institucional à faculdade e Roberto Sallouti, CEO do BTG, é presidente do conselho do Inteli. Com execuções diferentes, mas motivações semelhantes, a falta de profissionais da área de TI e a baixa qualificação, esses gigantes do mercado financeiro nacional decidiram apostar no mundo da educação formal.

Já em atuação na frente educacional com cursos rápidos e bootcamps, a XP aumenta seu escopo com a faculdade. A missão é formar profissionais com competências de liderança. “Para a gente formar quem a XP vai contratar lá na frente, existe um espaço importante que a graduação acaba endereçando bem”, disse o CEO da XP Educação, Paulo de Tarso. O modelo adotado oferece cinco cursos gratuitos selecionados com base na demanda do mercado por profissionais e seu potencial de crescimento.

Com um sistema de ensino baseado em valores e gestão encontrados no ecossistema de trabalho da empresa, a Faculdade XP pretende formar profissionais capacitados em seu conceito de excelência, incluindo a adaptabilidade ao on-line. “O nosso modelo não é da sala de aula presencial que você vai todo dia”, disse. “É um modelo totalmente conectado com o jeito que a XP atrai e desenvolve talentos hoje. Você pode morar em qualquer lugar e trabalhar na XP .”

FOCO EM PROBLEMA REAL Maíra Habimorad diz que o objetivo do Inteli é contribuir para fomentar um ecossistema de inovação. (Crédito:Divulgação)

Para a seleção dos “alunos de altíssimo potencial”, a XP investiu em um processo de quatro etapas, que considera história do candidato, capacidade de solucionar problemas, adaptação ao modelo remoto e vestibular tradicional. Para o primeiro edital, 400 alunos serão chamados, sendo que 50% deles preencherão vagas afirmativas, em busca por mais mulheres e negros no universo da tecnologia.

BOLSISTAS Com a mesma visão focada no potencial da área de TI no Brasil foi criado o Inteli. O Instituto de Tecnologia e Liderança oferece quatro cursos de graduação de forma presencial no prédio da faculdade, instalado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo. A primeira turma teve início em fevereiro, com 170 alunos matriculados. Dos selecionados, 50% são bolsistas que recebem descontos de 25% a 100%, além de auxílio moradia, alimentação, curso de inglês e notebook, de acordo com a necessidade. A outra metade paga mensalidade completa de R$ 5,5 mil.

O sistema de ensino é baseado no desenvolvimento de projetos e na busca por soluções de problemas reais ao mundo corporativo. “Nosso propósito é contribuir para fomentar um ecossistema de inovação”, disse a CEO do Inteli, Maíra Habimorad. “Reunimos em um mesmo espaço estudantes, academia, pesquisadores e empresas para formar líderes capazes de pensar e desenvolver soluções que contribuam para o desenvolvimento do País.”

CURSOS GRATUITOS Paulo de Tarso afirma que a missão da XP é formar profissionais com competência para liderança. (Crédito:Divulgação)

As projeções que justificam esse investimento em faculdades de tecnologia estão no concorrido mercado de trabalho para profissionais de TI. Dados da Brasscom apontam que há um déficit de 106 mil graduados na área por ano. Na visão da head de produto e inovação da Fundação Estudar, Anna Valenzuela, essa situação gera boas oportunidades econômicas e sociais e reforça que “toda a iniciativa pública ou privada que puder existir para propiciar maior capacitação para esses jovens, de forma acessível e gratuita, é bem-vinda.”