O mercado de ações concentra as economias de metade das famílias americanas. Com a queda assustadora da Nasdaq e o clima ruim na Bolsa de Nova York, toda essa gente está preocupada em saber se o colchão onde enfiou seus dólares não está sendo corroído por traças invisíveis. O livro The Fortune Tellers, lançado no início do mês, aumentou essa desconfiança. Escrito pelo jornalista Howard Kurtz, do Washington Post, ele conclui que as informações que os investidores recebem pela imprensa especializada não são confiáveis e estão sujeitas a manipulação. Para provar sua tese, enumera uma série de casos em que papéis de companhias fajutas foram inflados por meio de notícias duvidosas, e outras em que empreendimentos mergulharam no vinagre devido a matérias desfavoráveis.

São 310 páginas recheadas de casos como o da Xybernaut, empresa de tecnologia que tinha ações cotadas a US$ 30. Um repórter iniciante publicou, com base pífia, uma matéria na Internet prevendo problemas financeiros para a empresa. As ações desmoronaram para US$ 1,31. Elas se recuperaram um mês depois, não por conta de relatórios sólidos de analistas, mas porque alguns de seus produtos (roupas com computadores embutidos) foram apresentados num programa de tevê. Atualmente, estão em US$ 5. Kurtz considera que há tanta informação econômica hoje que o público não consegue distinguir o que é real do que é foguetório. A natureza da Nova Economia torna essa missão difícil. Para ele, jornalistas, analistas, economistas, ninguém sabe realmente o que está acontecendo. ?São candidatos a videntes, adivinhadores do futuro?, sentencia.

O livro contém acusações relevantes. A questão é que a maior parte das manipulações denunciadas por Kurtz funciona apenas no curtíssimo prazo. Em períodos longos, tende a prevalecer a lógica, como indica a própria queda da Nasdaq. E as tentativas de enganar o público, citadas no livro, só emplacam em meios de comunicação ?rápidos?, como tevês ou sites que dão notícia em tempo real. As poucas histórias envolvendo meios de comunicação bem estabelecidos são antigas (a que fala de um repórter do The Wall Street Journal é de 1985). Se Kurtz queria falar sobre falta de transparência, poderia pesquisar o mercado brasileiro. Qualquer acionista minoritário teria histórias cabeludas para contar.