O déficit comercial dos Estados Unidos aumentou 7,3% em junho e alcançou seu nível mais alto em 19 meses, principalmente por uma queda das exportações de veículos e aviões, apesar da determinação de Donald Trump de reequilibrar as trocas comerciais.

O déficit de bens e serviços foi de 46,3 bilhões de dólares, com uma queda de 0,7% (213,8 bilhões) nas exportações e um aumento de 0,6% (260,2 bilhões) nas importações.

Os dados do Departamento do Comércio foram publicados nesta sexta-feira (3), quando a China fez novas ameaças de represálias comerciais contra os Estados Unidos.

Pequim disse estar pronta para adotar novas tarifas aduaneiras punitivas sobre as importações de bens americanos, representando 60 bilhões de dólares por ano.

A aplicação dessas novas tarifas pelo gigante asiático está “pendente das ações dos Estados Unidos” – referência à ameaça feita pela Casa Branca nesta semana de elevar de 10% a 25% as taxas sobre 200 bilhões de dólares em importações chinesas que devem ser aplicadas em setembro.

Em entrevista à Bloomberg Television, o conselheiro econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, alertou Pequim para não minimizar as ameaças americanas.

“É melhor eles não subestimarem a determinação de (Donald) Trump de ir adiante”, afirmou.

O aumento do déficit é superior ao previsto pelos analistas, que o haviam calculado em 45,6 bilhões depois de, em maio, ter sido de 43,1 bilhões.

No acumulado desde o início do ano, o déficit subiu consideravelmente (+7,2%), chegando a 291,2 bilhões.

– Soja em jogo –

Em junho, as exportações de aviões civis caíram 200 milhões, as exportações de carros em 900 milhões, enquanto as importações de preparações farmacêuticas e derivados de petróleo aumentaram 1,5 bilhão e 1,2 bilhão, respectivamente.

As exportações no setor de bebidas e alimentos também caíram (-0,3%), o que pode ser explicado pelas tensões comerciais entre os Estados Unidos e seus principais parceiros.

Desde 1º de junho, Washington impôs tarifas aduaneiras adicionais sobre o aço e o alumínio europeus, canadenses e mexicanos. O México, por exemplo, reagiu sobre as importações de produtos americanos do setor alimentício e agrícola.

Já as exportações de soja aumentaram (+1,6%, a 4,2 bilhões). Como no mês anterior, os importadores dessa commodity, especialmente os chineses, provavelmente queriam aumentar o volume comprado antes da entrada em vigor das tarifas alfandegárias americanas no início de julho.

A China é o principal mercado da soja americana.

Isso não impediu, porém, o déficit comercial entre Estados Unidos e China de crescer ainda mais em junho (+1,3%, a 32,45 bilhões de dólares), enquanto Donald Trump exige de Pequim uma redução de 200 bilhões do déficit americano.

O déficit comercial também aumentou com Canadá (+22,4%) e México (+14,25%), os dois parceiros dos Estados Unidos no Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), que está sendo renegociado há quase um ano.

Com a União Europeia (UE), o déficit recuou 7,8%.

Washington e Bruxelas acertaram uma trégua comercial na semana passada, após um encontro do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, com Trump na capital americana.

O apaziguamento permitiu à UE afastar, pelo menos por ora, a ameaça de novas tarifas sobre as importações americanas de veículos – que preocupava especialmente a Alemanha, grande exportadora de carros para a América do Norte.