O grupo argentino Despegar, que opera no Brasil como Decolar, comprou 51% da startup carioca Stays.net, um negócio de US$ 3 milhões (R$ 15,6 milhões) para fortalecer a vertical de aluguel de casas para temporada dentro da sua plataforma. Fundada em 2016, a Stays.net opera um software que centraliza e permite aos proprietários gerenciar reservas dos seus imóveis para hospedagem. Esse tipo de sistema é utilizado por mais de 90% dos administradores de propriedades no mercado europeu. Na América Latina, o índice de adoção está em torno de 10%. Marcelo Grether, chefe da área de M&A e de Novos Negócios do grupo Decolar, afirma que a aquisição da startup potencializará o crescimento da área, em que o objetivo é chegar a 140 mil residências dentro de três anos, para que a companhia consiga bater de frente com plataformas consolidadas nesse setor, como Airbnb e Booking. “A tendência do anywhere office [formato remoto que permite trabalhar de qualquer local] desperta cada vez mais o interesse dos brasileiros pela locação de temporada”, disse. Esse segmento específico representa cerca de 5% do faturamento do grupo — que, em 2021, foi de US$ 322 milhões — e apresenta uma avenida estratégica de crescimento para o turismo, com mais de 1,7 milhão de imóveis para hospedagem na região.

O portfólio da Stays.net adicionará 17 mil propriedades ao portfólio da Decolar, concentrado no Brasil. Em conferência com o mercado no início deste mês, o grupo indicou se tratar de um segmento altamente fragmentado e pouco profissionalizado, com mais de 21 mil gestores de imóveis e apenas quatro plataformas de reservas de hospedagem para temporada na América Latina. No longo prazo, a perspectiva da companhia é assumir a liderança neste segmento e levar a solução da Stays.net para outros mercados-chave para a operação. Mas o grupo terá um grande desafio pela frente se quiser superar marcas especializadas e robustas, como Airbnb e Booking, que dominam a demanda nesse setor.

O Airbnb, aliás, é uma das únicas empresas no mercado de turismo que já conseguiu se reerguer. Principal canal de locação de casas de temporada, em 2021 a plataforma realizou 300 milhões de reservas, aumento de 55% sobre o trágico 2020 e 10% acima do registrado em 2019. Como líder global do segmento, alcançou faturamento de US$ 5,9 bilhões no ano passado, alta de 25% em relação ao ano pré-pandemia e 18 vezes a receita total do grupo argentino em 2021.

EXPANSÃO Empresa quer ter um portfólio de casas de temporada com 140 mil imóveis em três anos. (Crédito:Reprodução)

Para avançar em um mercado cada vez mais disputado, a Decolar aposta no crescimento inorgânico. Já na sua segunda aquisição no Brasil desde o início da pandemia — e quarta na América Latina —, a empresa entende que precisa ampliar o leque de serviços para o turismo doméstico, que ganhou força nos últimos dois anos. Por isso, a operação tem ganhado características regionais, conforme a demanda evolui descompassada nos mercados. Em 2020, com a compra da fintech brasileira Koin por R$ 20 milhões, a plataforma passou a oferecer parcelamento via boleto, pagamento por Pix e até empréstimo pessoal, e este pode ser o diferencial que a fará avançar no País.

RECUPERAÇÃO Passado o baque da pandemia, que chegou a derrubar a receita da Decolar em 146% no primeiro trimestre de 2021 (quando teve prejuízo de US$ 37,4 milhões), a promessa é para um ano de aumento da demanda nesse mercado. “Sabemos que não será uma recuperação em linha reta, mas acreditamos estar em um bom caminho”, disse o chefe de M&A e de Novos Negócios do grupo. Com as vendas 75% retomadas em relação a 2019, a relevância do Brasil vem aumentando para a operação: no ano passado, o País respondeu por um terço das transações na plataforma.

Embora o otimismo volte a dominar os balanços no setor, o momento ainda não é de comemorações. A Decolar teve prejuízo líquido de R$ 102 milhões em 2021, uma melhora de 28% sobre o resultado do ano anterior, mas ainda cinco vezes pior que o registrado em 2019, quando o prejuízo foi de R$ 20 milhões. Analistas acreditam que a empresa continuará levantando o voo, com previsões do mercado financeiro de que o grupo volte ao azul em 2023, conforme o mercado decole de vez.