Poucos setores passavam imunes às crises como o de tecnologia. Por conta da baixa penetração de computadores e smartphones entre os consumidores brasileiros, ele mostrava resiliência no tempo de vacas magras e bombava quando tudo ia bem. Nos últimos três anos, nem essa área conseguiu sobreviver à recessão. Para complicar, o fim da Lei do Bem, em 2016, que dava incentivos às empresas do setor, contribuiu para deixar pior aquilo que já estava ruim. Mas depois de um longo período em queda, as vendas começam a reagir. É o que revela um estudo da consultoria paulista IT Data, especializada em tecnologia, publicado com exclusividade pela DINHEIRO.

Os dados mostram que as vendas de computadores, smartphones e tevês cresceram no primeiro semestre de 2017, quando comparados com o mesmo período do ano passado. No caso de PCs, o desempenho é um alívio para as empresas de setor. Nos seis primeiros meses deste ano, foram comercializados 2,5 milhões de computadores, uma alta de 10,5%. É o primeiro resultado positivo desde o primeiro trimestre de 2012 (é isso mesmo, você não leu errado; faz cinco anos que as vendas caem trimestre a trimestre). Em smartphones e tevês, a expansão foi de 18% e 20%, respectivamente (confira quadro abaixo). “Ainda não dá para soltar rojões, mas também não dá para não comemorar um crescimento”, diz Ivair Rodrigues, diretor de pesquisa da IT Data.

Há duas formas de ler a pesquisa da IT Data. A visão pessimista avalia que esse crescimento só foi possível por conta da base de comparação. Os seis primeiros meses de 2016 foram o auge da crise política que culminou com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Portanto, mesmo uma breve brisa indicando uma melhora no cenário econômico seria suficiente para produzir um resultado positivo. Não deixa de ser verdade. A análise otimista acredita que a expansão das vendas é um sinal de que o pior ficou para trás (saiba as razões no quadro ao final da reportagem). “Tivemos o maior crescimento de nossa história no Brasil”, diz Samir Vani, gerente-geral da Mediatek, empresa taiwanesa que vende chips para todas as fabricantes de celulares no Brasil, com exceção da Apple.

Durante a crise, as empresas tiveram ainda que ser criativas e buscar fontes de receitas para sobreviver. Considere o caso da americana Dell, que lidera o mercado brasileiro de PCs. A companhia sempre foi forte no mercado corporativo, onde tinha ampla vantagem sobre os seus concorrentes. No varejo, suas vendas eram fracas. Uma das estratégias foi aumentar o investimento nesse canal. “Saímos de oitavo lugar, em 2013, para o primeiro em 2017”, afirma Diego Puerta, vice-presidente para consumidor final e para pequenas empresas da Dell no Brasil.

A participação de mercado saltou de quase 5% para 9,6%. A fabricante de celulares Alcatel também multiplicou por três os seus pontos de venda, saindo de três mil para quase 10 mil. “Estamos crescendo 30%, acima da média do mercado”, diz Fernando Pezzotti, presidente da Alcatel Brasil. Em tevês, o fim do sinal analógico em praças importantes, como São Paulo, e algumas novidades tecnológicas impulsionaram as vendas. “As tevês com conexão a internet, chamadas de smartTVs, se tornaram uma realidade para todas as telas”, afirma Ricardo Freitas, presidente da Semp TCL. A partir da agora, a tendência é retomar a normalidade. Mas não espere taxas de expansão espetaculares.

Dificilmente, o setor conseguirá repetir seus desempenhos históricos no curto prazo. Em PCs, por exemplo, foram vendidos 14,7 milhões de equipamentos em 2011. Neste ano, d.eve chegar a 5,4 milhões de unidades, segundo estimativa da IT Data. O mercado de celulares atingiu 68,3 milhões de unidades em 2013 (esse dado inclui smartphones e features phones, aparelhos com conexão limitada à internet). Neste ano, ficará na casa 50,6 milhões, sem incluir os features phones, cujas vendas devem somar aproximadamente 3 milhões de unidades. Em tevês, a estimativa é de vendas na casa dos 11 milhões – o recorde é de 14,5 milhões em 2014, ano de Copa do Mundo. Não é um espetáculo, mas é um crescimento.