Olá, pessoal! Tudo bem? Quem acompanha o meu trabalho sabe que eu elogio constantemente a agenda econômica do ministro Paulo Guedes. Considero que é a agenda correta para colocar o Brasil de volta aos trilhos do crescimento econômico. Isso, no entanto, não me impede de criticar a sua declaração extremamente infeliz sobre as empregadas domésticas que supostamente foram à Disney quando a cotação do dólar estava abaixo de R$ 2,00.

A frase dita pelo ministro nesta quarta-feira 12, em Brasília, foi a seguinte: “Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. (…) [Era] todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada”.

Do ponto de vista econômico, dólar barato estimula viagens e gastos no exterior, mas atrapalha as exportações brasileiras. Na visão do ministro, a cotação atual acima de R$ 4,00 é, portanto, melhor para o País do que a cotação abaixo de R$ 2,00 no passado.

Isso dito, trago a minha análise. O ministro poderia ter colocado a sua opinião sobre o câmbio sem deixar escapar um preconceito terrível. Ele pode até dizer que não teve a intenção, mas o raciocínio por trás da sua declaração foi o seguinte: empregadas domésticas são pessoas pobres e pessoas pobres não podem ter dinheiro para ir à Disney. Se até elas conseguiram viajar é porque o câmbio estava completamente errado. Ele inclusive sugeriu que as viagens fossem feitas dentro do Brasil.

Deixo aqui alguns pontos de reflexão ao ministro Guedes:

1) Qual o problema de empregadas domésticas irem à Disney? Há algum crime em preferir viajar ao exterior a fazer turismo no Brasil? Realizar sonhos não é exclusividade de nenhuma classe social.

2) Do jeito que a situação econômica anda difícil, a população mais carente teria muita dificuldade de ir à Disney mesmo que o dólar estivesse a R$ 1,80. Se no passado empregadas domésticas foram à Disney (há alguma pesquisa que comprove isso?), é porque a situação econômica estava melhor. Elas tinham mais dinheiro no bolso. O câmbio, sozinho, não faz milagres.

3) É uma ilusão achar que o turismo doméstico seja uma alternativa barata. É muito caro viajar para o Nordeste ou para Foz do Iguaçu, como sugeriu o ministro. Aliás, o que o governo pretende fazer para incentivar de verdade o turismo doméstico?

4) Se a agenda econômica do ministro Guedes der certo e o Brasil voltar a crescer 3% ao ano, haverá mais emprego e renda. O sucesso econômico, se ocorrer, tenderá a valorizar um pouco o câmbio (baratear o dólar), e a consequência lógica será um aumento no número de brasileiros em viagem ao exterior. Isso deveria ser motivo de orgulho e comemoração por parte de um ministro da Economia, pois seria a prova de que a sua política econômica estaria dando certo.

Enfim, havia formas mais inteligentes e elegantes de o ministro ter explicado a sua defesa de um câmbio desvalorizado (dólar caro) como algo positivo para o País. O preconceito enraizado na sua fala ficou ainda pior justamente por ter vindo de alguém que trabalhou e morou muitos anos no exterior – e que provavelmente já foi inúmeras vezes à Disney, a Nova York, a Paris…