Por Maria Carolina Marcello e Eduardo Simões

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) -O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, disse em depoimento à CPI da Covid no Senado nesta terça-feira que a decisão da agência contrária à vacina russa Sputnik V é uma questão regulatória que não deve afetar as relações entre Brasil e Rússia e que os problemas apontados pela agência podem ser superados para eventual aprovação do imunizante no futuro.

Segundo ele, a Anvisa aguarda o envio das informações pendentes para retomar a análise da vacina tão logo esses dados sejam apresentados pela União Química, laboratório brasileiro que irá produzir a vacina russa. Ele afirmou ainda que a decisão da agência, que negou pedido de Estados do Nordeste para importar doses da vacina russa, não deve implicar em receio na utilização do imunizante, uma vez que ele seja aprovado pela Anvisa.

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“É uma questão regulatória. Ela tem começo, meio e fim, e nós esperamos que ela chegue a um bom fim”, disse, reiterando que as portas seguem abertas para a Sputnik V.

Ao negar o pedido de importação da vacina em 26 de abril, a Anvisa alegou falta de informações suficientes para garantir a segurança, a qualidade e a eficácia do imunizante. Uma questão crucial apontada pela Anvisa foi o risco de outros vírus usados na vacina para induzir uma resposta imune se reproduzirem nos pacientes, o que a agência classificou de um defeito grave.

A recusa da Anvisa gerou uma resposta dura dos desenvolvedores da vacina russa, que ameaçam processar por difamação, acusando o órgão regulador de deliberadamente disseminar informações falsas.

Indagado sobre a ameaça dos desenvolvedores da Sputnik V durante seu depoimento à CPI, Barra Torres garantiu que isso não preocupa os funcionários da agência.

“Entendemos que é algo que pode acontecer e, se acontecer, nós teremos os canais em quem confiamos, isentos, legítimos, para efetuar nossa resposta. Não temos preocupação em relação a isso e não temos também reação em relação a isso”, afirmou.

O diretor-presidente da Anvisa negou ainda conhecer ou ter se reunido com qualquer representante diplomático dos Estados Unidos, em meio a questionamentos sobre eventual interferência dos norte-americanos para a negativa à importação da vacina russa. Também negou que o Ministério da Saúde esteja trabalhando ou interferindo no processo de análise de autorização da Sputnik V.

“Sobre o caso concreto dos Estados Unidos, que o senhor perguntou, eu sou incapaz de reconhecer o embaixador se ele passar na minha frente”, disse Barra Torres ao relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

O diretor-presidente da Anvisa afastou ainda insinuações sobre decisões políticas na agência. Explicou que o órgão é composto por servidores concursados especializados, e que há dificuldades para “poder de mando” de superiores, uma vez que os funcionários precisam inscrever seus CPFs nas análises técnicas.

Indagado sobre a China, Barra Torres afirmou que não existe nada, do ponto de vista técnico, que desabone produtos médicos, incluindo vacinas, vindos daquele país.

Ele também destacou no depoimento que o fato de a Anvisa ter rejeitado um pedido do Ministério da Saúde para importar doses da Covaxin, vacina contra Covid-19 do laboratório indiano Bharat Biotech, não implica que a vacina seja ruim. Ele disse esperar que os problemas apontados pelo órgão regulador sejam superados em breve.

“Foram eventos que acontecem em protocolos de análise, e esperamos que sejam superados. Acrescento que a Índia tem uma tradição muito forte de superação de discrepâncias apontadas”, afirmou.

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