O aumento de 7,25 pontos porcentuais na taxa referencial Selic, que subiu de 2% para 9,25% ao ano em apenas nove meses, fez as aplicações de renda fixa retornarem ao centro do cenário dos investimentos. E esse processo não se encerrou. Com a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima de dois dígitos, o Banco Central (BC) deve seguir elevando as taxas. “O Copom já avisou que o movimento de alta vai continuar e devemos chegar a uma Selic de 12% ou mais em 2022”, disse o especialista em renda fixa da Valor Investimentos, Victor Zucchi Meneghel.Acrescente-se a isso a turbulência inerente a qualquer ano eleitoral e o resultado é explosivo. Segundo o especialista de investimentos da Santander Asset Management, Clayton Calixto, os desafios serão muitos e importantes, principalmente se forem confirmadas as expectativas de elevação dos juros norte-americanos, atualmente em zero. “Não será um ano tranquilo, por isso é preciso monitorar a economia dos Estados Unidos”, afirmou. Um aperto na política monetária fará os grandes investidores resgatarem suas aplicações dos mercados de maior risco e voltar para lá. Para o responsável pela alocação em fundos da XP, Rodrigo Sgavioli, “a alta dos juros americanos e de outros países vai determinar os caminhos do dinheiro”.

Para ele, as questões políticas estruturais do Brasil determinam muitas coisas. “Vivemos numa espiral”, disse Sgavioli. “Não vamos para o fundo do poço e também não deslanchamos, e esse ambiente não é propício para os negócios.” Por isso, as questões fiscais darão o tom na economia brasileira. Elas devem reduzir o crescimento da economia não apenas em 2022, mas também para o próximo ano. Calixto, do Santander, disse que “o debate fiscal e as eleições merecem atenção, porque trazem riscos no curto prazo e adicionam muita incerteza ao cenário dos investimentos”. O especialista disse esperar um crescimento de 0,5% para o País neste ano.

O que fazer com as aplicações de renda fixa? Segundo Meneghel, da Valor Investimentos, o ideal é que o investidor tenha alguns ativos pós-fixados para garantir a liquidez no curto prazo. Podem ser Certificados de Depósito Bancário (CDB), ou ainda títulos lastreados em imóveis ou no agronegócio, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) ou as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), que oferecem a vantagem adicional de ter seus rendimentos isentos de imposto de renda. “Isso faz a diferença, especialmente para aplicações com prazos inferiores a dois anos, em que a tributação é maior”, disse o analista. Outra alternativa segura são os títulos públicos do Tesouro Direto. A alta dos juros melhorou o desempenho do Tesouro Selic, títulos corrigidos pela taxa referencial.

Se o investidor quiser um pouco mais de rentabilidade e puder deixar seu dinheiro aplicado por prazos mais longos, os títulos públicos ligados a índices de inflação, como o Tesouro IPCA, são atraentes. “O investidor deve optar por títulos com vencimento em 2026 ou de prazos ainda mais longos se for agressivo”, disse Meneghel.

ativos de baixo risco O chamado crédito privado, que são papéis de dívida de empresas, é mais arriscado do que os títulos públicos, mas oferece retornos melhores. Ativos como debêntures incentivadas, Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), também são corrigidos pela inflação, em geral o IPCA, pagam juros e seu rendimento é isento de imposto. A sugestão é buscar por ativos de baixo risco de calote. Ou seja, que tenham uma nota AAA ou AA, concedida por uma agência de classificação de risco.

Durante a crise, muitas empresas fizeram a lição de casa. Sanearam seus balanços, cortaram custos e investiram na eficiência. O resultado foi que conseguiram tomar empréstimos pagando juros menores. De acordo com Calixto, o spread de crédito privado caiu de 4% para 1,6%. Para comparar, antes da pandemia a média para a primeira linha era de 1,3%. Com isso, o risco de calote diminuiu e a qualidade do crédito melhorou. “As companhias se fortaleceram muito e é provável que iniciem 2022 emitindo títulos e rolando créditos, o que vai gerar mais oportunidades de investimentos”, disse Calixto.