Os carros, os edifícios, os operários e as chaminés industriais presentes em pinturas dão pistas do que foi a São Paulo de Tarsila do Amaral. Vinda do interior, a artista passou a maior parte da vida na capital – a exemplo da arquiteta Lina Bo Bardi, que emigrou da Itália e criou alguns dos prédios mais simbólicos da história paulistana.

As autoras estão em evidência com a abertura de exposições no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Nascidas com duas décadas de diferença, elas vivenciaram e marcaram períodos distintos da capital paulista. O Estado foi atrás dessas trajetórias para contar o que foi a São Paulo de Lina e Tarsila.

“Elas viveram cidades muito diferentes. A Lina viveu em São Paulo a partir dos anos 40. Já a Tarsila se mudou na década de 10”, compara Aracy Amaral, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora 34/Edusp).

Aracy lembra que Tarsila circulava principalmente pela região central de São Paulo. De Capivari, no interior, ela chegou a morar na capital durante a infância, quando estudou em uma instituição em Santana e no Colégio Sion, mas se fixou de vez em 1913. “Ela se deslocava de casa até o Parque Jardim da Luz, onde desenhava. Depois (em 1920), monta um ateliê na Rua Vitória.”

Naquela época, morou em Campos Elísios, “o bairro residencial da época”, mas, décadas depois, residiu em Perdizes, na zona oeste, e em Higienópolis. “Esses bairros centrais foram o mundo de Tarsila.”

Tendo exposto em vários espaços da cidade, exibiu obras na inauguração da Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada por Gregori Warchavchik.

Segundo Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista, Tarsila costumava fazer viagens para a Serra do Mar e Santana, na zona norte, para “se inspirar” junto dos demais componentes do Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade). Quando mais nova, a inspiração vinha da região central. “Ela fazia desenhos andando pelo centro. Tenho um moleskine dela com vários desenhos. Então, dá para perceber um pouco dela andando pelas ruas, fazendo alguns esboços de pessoas, de lugares, até de cemitério.”

Ela costumava frequentar a casa de Mário de Andrade, na Barra Funda, zona oeste, hoje transformada em centro cultural pelo governo do Estado. Outro local visitado era o palacete da mecenas Olívia Guedes Penteado, em Santa Cecília.

Após alguns anos morando em Perdizes, na zona oeste, se fixou em Higienópolis. Foi nesse período que Tarsilinha conviveu com a artista. “Eu tinha 8 anos quando ela morreu, mas tenho uma lembrança muito forte dela. Lembro de uma vez em que foi homenageada no Buffet França (em Higienópolis), que já era um lugar muito prestigiado. Ela também foi algumas vezes ao Palácio dos Bandeirantes receber homenagens, almoços. Tinha também uma relação muito forte com museus.”

Vida e obra

Essas vivências na cidade estiveram presentes na obra de Tarsila desde os primeiros esboços, quando começou a estudar desenho, até pinturas icônicas como São Paulo, de 1931, que retrata o Vale do Anhangabaú de forma estilizada.

“O tema é realmente a cidade de São Paulo, com uma figura humana que parece uma bomba de gasolina. Com os casarios ao longe, as avenidas. É uma espécie de registro urbano da cidade de acordo com a técnica cubista, de geometria de formas”, diz Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de Tarsila do Amaral: A modernista (Edições Sesc São Paulo).

A professora cita que Tarsila pintou outras cidades, como o Rio e Ouro Preto, em Minas, mas que a capital paulista era presente de diversas formas. “Era a terra dela, tinha uma coisa mais forte. Em Operários (de 1933), o tema é geral, mas a gente associa à industrialização de São Paulo. Tem aquela célebre pirâmide humana, como uma esteira de produção. Tem as chaminés, isso sempre remonta à industrialização de São Paulo, embora o tema seja mais vasto que os limites da cidade”, aponta.

Lina

Enquanto a trajetória de Tarsila está muito ligada às antigas edificações e espaços da região central no período áureo, a história de Lina Bo Bardi esteve majoritariamente alinhada com o modernismo e a requalificação de espaços históricos.

Como explica Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi, a arquiteta se mudou para São Paulo em 1947, após breve período no Rio. Ela se fixou temporariamente no Pacaembu, zona oeste, com o marido Pietro, enquanto procuravam o terreno da futura residência. Após a seleção da área, no Morumbi, zona sul, fez toda a obra da Casa de Vidro, inaugurada em 1951 e hoje espaço cultural.

“Ela era uma europeia que se encantou com a nossa cultura, que repensou isso na Casa de Vidro, com o aço, o ferro, o vidro, que eram materiais novos para a época”, conta. “A Casa de Vidro era um lugar para ver São Paulo, para poder desfrutar da cidade. Totalmente de vidro, mostrava que uma casa não deve impedir o morador de ter contato com a natureza.”

Sonia ressalta que Lina também projetou outra residência no Morumbi, hoje conhecida como Casa do Jardim de Cristal, construída para Valéria Cirell, amiga da arquiteta, em 1958. O imóvel é particular, mas pode ser parcialmente avistado da Rua Brigadeiro Armando Trompowsky, 65. A casa é de tijolos de barro, troncos de madeira e pedras, sendo revestida com cacos cerâmicos, de modo que lembra obras de Antoni Gaudí.

Antes disso, Lina participou das obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em sua antiga sede, na Rua 7 de Abril, 230, no centro, que também abrigava os Diários Associados. O projeto atual do museu foi inaugurado em 1968 e ganhou o vermelho característico nos anos 90. “Ele alterou completamente o paisagismo da cidade”, pontua Aracy Amaral.

Da parte de baixo, o projeto permite que os pedestres contemplem a região central. “O vão livre era para ser o lugar onde tudo acontecesse, de balé a circo, com a cidade ao fundo”, ressalta Sonia Guarita do Amaral.

Lina também se envolveu em projetos em imóveis históricos, como o Palácio das Indústrias, que adaptou para receber a Prefeitura de São Paulo nos anos 90. Hoje, o local é o Catavento Cultural.

Fora do País, ganhou destaque com o projeto da sede do Teatro Oficina, companhia para a qual colaborou em projetos cênicos. Outro caso é o Sesc Pompeia, na zona oeste, criado em uma antiga fábrica. “Ela tinha a preocupação de que funcionasse como se fosse uma avenida, para que o povo circulasse como se estivesse na rua.

Endereços paulistanos

Tarsila (1886-1973)

De 1920 a 1973, entre períodos no exterior, no interior e no Rio, a artista morou na Rua Vitória, 133 (Santa Ifigênia), nas Alamedas Barão de Piracicaba, 56, e Barão de Limeira, 14 (ambos Campos Elísios), na Rua Tabatinguera (Sé), Rua Caiubi, 666 (Perdizes), na Avenida Angélica, 75, e na Rua Albuquerque Lins, 1.129 (ambos na Santa Cecília), segundo Aracy Amaral. Nenhum dos locais foi preservado. Há também relatos de que viveu no Edifício Santo André, na Rua Piauí, 752 (Higienópolis).

Lina (1914-1992)

Morou no Pacaembu e na Casa de Vidro (Rua Gal. Almério de Moura, 200, Morumbi).


Os carros, os edifícios, os operários e as chaminés industriais presentes em pinturas dão pistas do que foi a São Paulo de Tarsila do Amaral. Vinda do interior, a artista passou a maior parte da vida na capital – a exemplo da arquiteta Lina Bo Bardi, que emigrou da Itália e criou alguns dos prédios mais simbólicos da história paulistana.

As autoras estão em evidência com a abertura de exposições no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Nascidas com duas décadas de diferença, elas vivenciaram e marcaram períodos distintos da capital paulista. O Estado foi atrás dessas trajetórias para contar o que foi a São Paulo de Lina e Tarsila.

“Elas viveram cidades muito diferentes. A Lina viveu em São Paulo a partir dos anos 40. Já a Tarsila se mudou na década de 10”, compara Aracy Amaral, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora 34/Edusp).

Aracy lembra que Tarsila circulava principalmente pela região central de São Paulo. De Capivari, no interior, ela chegou a morar na capital durante a infância, quando estudou em uma instituição em Santana e no Colégio Sion, mas se fixou de vez em 1913. “Ela se deslocava de casa até o Parque Jardim da Luz, onde desenhava. Depois (em 1920), monta um ateliê na Rua Vitória.”

Naquela época, morou em Campos Elísios, “o bairro residencial da época”, mas, décadas depois, residiu em Perdizes, na zona oeste, e em Higienópolis. “Esses bairros centrais foram o mundo de Tarsila.”

Tendo exposto em vários espaços da cidade, exibiu obras na inauguração da Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada por Gregori Warchavchik.

Segundo Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista, Tarsila costumava fazer viagens para a Serra do Mar e Santana, na zona norte, para “se inspirar” junto dos demais componentes do Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade). Quando mais nova, a inspiração vinha da região central. “Ela fazia desenhos andando pelo centro. Tenho um moleskine dela com vários desenhos. Então, dá para perceber um pouco dela andando pelas ruas, fazendo alguns esboços de pessoas, de lugares, até de cemitério.”

Ela costumava frequentar a casa de Mário de Andrade, na Barra Funda, zona oeste, hoje transformada em centro cultural pelo governo do Estado. Outro local visitado era o palacete da mecenas Olívia Guedes Penteado, em Santa Cecília.

Após alguns anos morando em Perdizes, na zona oeste, se fixou em Higienópolis. Foi nesse período que Tarsilinha conviveu com a artista. “Eu tinha 8 anos quando ela morreu, mas tenho uma lembrança muito forte dela. Lembro de uma vez em que foi homenageada no Buffet França (em Higienópolis), que já era um lugar muito prestigiado. Ela também foi algumas vezes ao Palácio dos Bandeirantes receber homenagens, almoços. Tinha também uma relação muito forte com museus.”

Vida e obra

Essas vivências na cidade estiveram presentes na obra de Tarsila desde os primeiros esboços, quando começou a estudar desenho, até pinturas icônicas como São Paulo, de 1931, que retrata o Vale do Anhangabaú de forma estilizada.

“O tema é realmente a cidade de São Paulo, com uma figura humana que parece uma bomba de gasolina. Com os casarios ao longe, as avenidas. É uma espécie de registro urbano da cidade de acordo com a técnica cubista, de geometria de formas”, diz Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de Tarsila do Amaral: A modernista (Edições Sesc São Paulo).

A professora cita que Tarsila pintou outras cidades, como o Rio e Ouro Preto, em Minas, mas que a capital paulista era presente de diversas formas. “Era a terra dela, tinha uma coisa mais forte. Em Operários (de 1933), o tema é geral, mas a gente associa à industrialização de São Paulo. Tem aquela célebre pirâmide humana, como uma esteira de produção. Tem as chaminés, isso sempre remonta à industrialização de São Paulo, embora o tema seja mais vasto que os limites da cidade”, aponta.

Lina

Enquanto a trajetória de Tarsila está muito ligada às antigas edificações e espaços da região central no período áureo, a história de Lina Bo Bardi esteve majoritariamente alinhada com o modernismo e a requalificação de espaços históricos.

Como explica Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi, a arquiteta se mudou para São Paulo em 1947, após breve período no Rio. Ela se fixou temporariamente no Pacaembu, zona oeste, com o marido Pietro, enquanto procuravam o terreno da futura residência. Após a seleção da área, no Morumbi, zona sul, fez toda a obra da Casa de Vidro, inaugurada em 1951 e hoje espaço cultural.

“Ela era uma europeia que se encantou com a nossa cultura, que repensou isso na Casa de Vidro, com o aço, o ferro, o vidro, que eram materiais novos para a época”, conta. “A Casa de Vidro era um lugar para ver São Paulo, para poder desfrutar da cidade. Totalmente de vidro, mostrava que uma casa não deve impedir o morador de ter contato com a natureza.”

Sonia ressalta que Lina também projetou outra residência no Morumbi, hoje conhecida como Casa do Jardim de Cristal, construída para Valéria Cirell, amiga da arquiteta, em 1958. O imóvel é particular, mas pode ser parcialmente avistado da Rua Brigadeiro Armando Trompowsky, 65. A casa é de tijolos de barro, troncos de madeira e pedras, sendo revestida com cacos cerâmicos, de modo que lembra obras de Antoni Gaudí.

Antes disso, Lina participou das obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em sua antiga sede, na Rua 7 de Abril, 230, no centro, que também abrigava os Diários Associados. O projeto atual do museu foi inaugurado em 1968 e ganhou o vermelho característico nos anos 90. “Ele alterou completamente o paisagismo da cidade”, pontua Aracy Amaral.

Da parte de baixo, o projeto permite que os pedestres contemplem a região central. “O vão livre era para ser o lugar onde tudo acontecesse, de balé a circo, com a cidade ao fundo”, ressalta Sonia Guarita do Amaral.

Lina também se envolveu em projetos em imóveis históricos, como o Palácio das Indústrias, que adaptou para receber a Prefeitura de São Paulo nos anos 90. Hoje, o local é o Catavento Cultural.

Fora do País, ganhou destaque com o projeto da sede do Teatro Oficina, companhia para a qual colaborou em projetos cênicos. Outro caso é o Sesc Pompeia, na zona oeste, criado em uma antiga fábrica. “Ela tinha a preocupação de que funcionasse como se fosse uma avenida, para que o povo circulasse como se estivesse na rua.

Endereços paulistanos

Tarsila (1886-1973)

De 1920 a 1973, entre períodos no exterior, no interior e no Rio, a artista morou na Rua Vitória, 133 (Santa Ifigênia), nas Alamedas Barão de Piracicaba, 56, e Barão de Limeira, 14 (ambos Campos Elísios), na Rua Tabatinguera (Sé), Rua Caiubi, 666 (Perdizes), na Avenida Angélica, 75, e na Rua Albuquerque Lins, 1.129 (ambos na Santa Cecília), segundo Aracy Amaral. Nenhum dos locais foi preservado. Há também relatos de que viveu no Edifício Santo André, na Rua Piauí, 752 (Higienópolis).

Lina (1914-1992)

Morou no Pacaembu e na Casa de Vidro (Rua Gal. Almério de Moura, 200, Morumbi).


Os carros, os edifícios, os operários e as chaminés industriais presentes em pinturas dão pistas do que foi a São Paulo de Tarsila do Amaral. Vinda do interior, a artista passou a maior parte da vida na capital – a exemplo da arquiteta Lina Bo Bardi, que emigrou da Itália e criou alguns dos prédios mais simbólicos da história paulistana.

As autoras estão em evidência com a abertura de exposições no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Nascidas com duas décadas de diferença, elas vivenciaram e marcaram períodos distintos da capital paulista. O Estado foi atrás dessas trajetórias para contar o que foi a São Paulo de Lina e Tarsila.

“Elas viveram cidades muito diferentes. A Lina viveu em São Paulo a partir dos anos 40. Já a Tarsila se mudou na década de 10”, compara Aracy Amaral, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora 34/Edusp).

Aracy lembra que Tarsila circulava principalmente pela região central de São Paulo. De Capivari, no interior, ela chegou a morar na capital durante a infância, quando estudou em uma instituição em Santana e no Colégio Sion, mas se fixou de vez em 1913. “Ela se deslocava de casa até o Parque Jardim da Luz, onde desenhava. Depois (em 1920), monta um ateliê na Rua Vitória.”

Naquela época, morou em Campos Elísios, “o bairro residencial da época”, mas, décadas depois, residiu em Perdizes, na zona oeste, e em Higienópolis. “Esses bairros centrais foram o mundo de Tarsila.”

Tendo exposto em vários espaços da cidade, exibiu obras na inauguração da Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada por Gregori Warchavchik.

Segundo Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista, Tarsila costumava fazer viagens para a Serra do Mar e Santana, na zona norte, para “se inspirar” junto dos demais componentes do Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade). Quando mais nova, a inspiração vinha da região central. “Ela fazia desenhos andando pelo centro. Tenho um moleskine dela com vários desenhos. Então, dá para perceber um pouco dela andando pelas ruas, fazendo alguns esboços de pessoas, de lugares, até de cemitério.”

Ela costumava frequentar a casa de Mário de Andrade, na Barra Funda, zona oeste, hoje transformada em centro cultural pelo governo do Estado. Outro local visitado era o palacete da mecenas Olívia Guedes Penteado, em Santa Cecília.

Após alguns anos morando em Perdizes, na zona oeste, se fixou em Higienópolis. Foi nesse período que Tarsilinha conviveu com a artista. “Eu tinha 8 anos quando ela morreu, mas tenho uma lembrança muito forte dela. Lembro de uma vez em que foi homenageada no Buffet França (em Higienópolis), que já era um lugar muito prestigiado. Ela também foi algumas vezes ao Palácio dos Bandeirantes receber homenagens, almoços. Tinha também uma relação muito forte com museus.”

Vida e obra

Essas vivências na cidade estiveram presentes na obra de Tarsila desde os primeiros esboços, quando começou a estudar desenho, até pinturas icônicas como São Paulo, de 1931, que retrata o Vale do Anhangabaú de forma estilizada.

“O tema é realmente a cidade de São Paulo, com uma figura humana que parece uma bomba de gasolina. Com os casarios ao longe, as avenidas. É uma espécie de registro urbano da cidade de acordo com a técnica cubista, de geometria de formas”, diz Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de Tarsila do Amaral: A modernista (Edições Sesc São Paulo).

A professora cita que Tarsila pintou outras cidades, como o Rio e Ouro Preto, em Minas, mas que a capital paulista era presente de diversas formas. “Era a terra dela, tinha uma coisa mais forte. Em Operários (de 1933), o tema é geral, mas a gente associa à industrialização de São Paulo. Tem aquela célebre pirâmide humana, como uma esteira de produção. Tem as chaminés, isso sempre remonta à industrialização de São Paulo, embora o tema seja mais vasto que os limites da cidade”, aponta.

Lina

Enquanto a trajetória de Tarsila está muito ligada às antigas edificações e espaços da região central no período áureo, a história de Lina Bo Bardi esteve majoritariamente alinhada com o modernismo e a requalificação de espaços históricos.

Como explica Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi, a arquiteta se mudou para São Paulo em 1947, após breve período no Rio. Ela se fixou temporariamente no Pacaembu, zona oeste, com o marido Pietro, enquanto procuravam o terreno da futura residência. Após a seleção da área, no Morumbi, zona sul, fez toda a obra da Casa de Vidro, inaugurada em 1951 e hoje espaço cultural.

“Ela era uma europeia que se encantou com a nossa cultura, que repensou isso na Casa de Vidro, com o aço, o ferro, o vidro, que eram materiais novos para a época”, conta. “A Casa de Vidro era um lugar para ver São Paulo, para poder desfrutar da cidade. Totalmente de vidro, mostrava que uma casa não deve impedir o morador de ter contato com a natureza.”

Sonia ressalta que Lina também projetou outra residência no Morumbi, hoje conhecida como Casa do Jardim de Cristal, construída para Valéria Cirell, amiga da arquiteta, em 1958. O imóvel é particular, mas pode ser parcialmente avistado da Rua Brigadeiro Armando Trompowsky, 65. A casa é de tijolos de barro, troncos de madeira e pedras, sendo revestida com cacos cerâmicos, de modo que lembra obras de Antoni Gaudí.

Antes disso, Lina participou das obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em sua antiga sede, na Rua 7 de Abril, 230, no centro, que também abrigava os Diários Associados. O projeto atual do museu foi inaugurado em 1968 e ganhou o vermelho característico nos anos 90. “Ele alterou completamente o paisagismo da cidade”, pontua Aracy Amaral.

Da parte de baixo, o projeto permite que os pedestres contemplem a região central. “O vão livre era para ser o lugar onde tudo acontecesse, de balé a circo, com a cidade ao fundo”, ressalta Sonia Guarita do Amaral.

Lina também se envolveu em projetos em imóveis históricos, como o Palácio das Indústrias, que adaptou para receber a Prefeitura de São Paulo nos anos 90. Hoje, o local é o Catavento Cultural.

Fora do País, ganhou destaque com o projeto da sede do Teatro Oficina, companhia para a qual colaborou em projetos cênicos. Outro caso é o Sesc Pompeia, na zona oeste, criado em uma antiga fábrica. “Ela tinha a preocupação de que funcionasse como se fosse uma avenida, para que o povo circulasse como se estivesse na rua.

Endereços paulistanos

Tarsila (1886-1973)

De 1920 a 1973, entre períodos no exterior, no interior e no Rio, a artista morou na Rua Vitória, 133 (Santa Ifigênia), nas Alamedas Barão de Piracicaba, 56, e Barão de Limeira, 14 (ambos Campos Elísios), na Rua Tabatinguera (Sé), Rua Caiubi, 666 (Perdizes), na Avenida Angélica, 75, e na Rua Albuquerque Lins, 1.129 (ambos na Santa Cecília), segundo Aracy Amaral. Nenhum dos locais foi preservado. Há também relatos de que viveu no Edifício Santo André, na Rua Piauí, 752 (Higienópolis).

Lina (1914-1992)

Morou no Pacaembu e na Casa de Vidro (Rua Gal. Almério de Moura, 200, Morumbi).


Os carros, os edifícios, os operários e as chaminés industriais presentes em pinturas dão pistas do que foi a São Paulo de Tarsila do Amaral. Vinda do interior, a artista passou a maior parte da vida na capital – a exemplo da arquiteta Lina Bo Bardi, que emigrou da Itália e criou alguns dos prédios mais simbólicos da história paulistana.

As autoras estão em evidência com a abertura de exposições no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Nascidas com duas décadas de diferença, elas vivenciaram e marcaram períodos distintos da capital paulista. O Estado foi atrás dessas trajetórias para contar o que foi a São Paulo de Lina e Tarsila.

“Elas viveram cidades muito diferentes. A Lina viveu em São Paulo a partir dos anos 40. Já a Tarsila se mudou na década de 10”, compara Aracy Amaral, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora 34/Edusp).

Aracy lembra que Tarsila circulava principalmente pela região central de São Paulo. De Capivari, no interior, ela chegou a morar na capital durante a infância, quando estudou em uma instituição em Santana e no Colégio Sion, mas se fixou de vez em 1913. “Ela se deslocava de casa até o Parque Jardim da Luz, onde desenhava. Depois (em 1920), monta um ateliê na Rua Vitória.”

Naquela época, morou em Campos Elísios, “o bairro residencial da época”, mas, décadas depois, residiu em Perdizes, na zona oeste, e em Higienópolis. “Esses bairros centrais foram o mundo de Tarsila.”

Tendo exposto em vários espaços da cidade, exibiu obras na inauguração da Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada por Gregori Warchavchik.

Segundo Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista, Tarsila costumava fazer viagens para a Serra do Mar e Santana, na zona norte, para “se inspirar” junto dos demais componentes do Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade). Quando mais nova, a inspiração vinha da região central. “Ela fazia desenhos andando pelo centro. Tenho um moleskine dela com vários desenhos. Então, dá para perceber um pouco dela andando pelas ruas, fazendo alguns esboços de pessoas, de lugares, até de cemitério.”

Ela costumava frequentar a casa de Mário de Andrade, na Barra Funda, zona oeste, hoje transformada em centro cultural pelo governo do Estado. Outro local visitado era o palacete da mecenas Olívia Guedes Penteado, em Santa Cecília.

Após alguns anos morando em Perdizes, na zona oeste, se fixou em Higienópolis. Foi nesse período que Tarsilinha conviveu com a artista. “Eu tinha 8 anos quando ela morreu, mas tenho uma lembrança muito forte dela. Lembro de uma vez em que foi homenageada no Buffet França (em Higienópolis), que já era um lugar muito prestigiado. Ela também foi algumas vezes ao Palácio dos Bandeirantes receber homenagens, almoços. Tinha também uma relação muito forte com museus.”

Vida e obra

Essas vivências na cidade estiveram presentes na obra de Tarsila desde os primeiros esboços, quando começou a estudar desenho, até pinturas icônicas como São Paulo, de 1931, que retrata o Vale do Anhangabaú de forma estilizada.

“O tema é realmente a cidade de São Paulo, com uma figura humana que parece uma bomba de gasolina. Com os casarios ao longe, as avenidas. É uma espécie de registro urbano da cidade de acordo com a técnica cubista, de geometria de formas”, diz Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de Tarsila do Amaral: A modernista (Edições Sesc São Paulo).

A professora cita que Tarsila pintou outras cidades, como o Rio e Ouro Preto, em Minas, mas que a capital paulista era presente de diversas formas. “Era a terra dela, tinha uma coisa mais forte. Em Operários (de 1933), o tema é geral, mas a gente associa à industrialização de São Paulo. Tem aquela célebre pirâmide humana, como uma esteira de produção. Tem as chaminés, isso sempre remonta à industrialização de São Paulo, embora o tema seja mais vasto que os limites da cidade”, aponta.

Lina

Enquanto a trajetória de Tarsila está muito ligada às antigas edificações e espaços da região central no período áureo, a história de Lina Bo Bardi esteve majoritariamente alinhada com o modernismo e a requalificação de espaços históricos.

Como explica Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi, a arquiteta se mudou para São Paulo em 1947, após breve período no Rio. Ela se fixou temporariamente no Pacaembu, zona oeste, com o marido Pietro, enquanto procuravam o terreno da futura residência. Após a seleção da área, no Morumbi, zona sul, fez toda a obra da Casa de Vidro, inaugurada em 1951 e hoje espaço cultural.

“Ela era uma europeia que se encantou com a nossa cultura, que repensou isso na Casa de Vidro, com o aço, o ferro, o vidro, que eram materiais novos para a época”, conta. “A Casa de Vidro era um lugar para ver São Paulo, para poder desfrutar da cidade. Totalmente de vidro, mostrava que uma casa não deve impedir o morador de ter contato com a natureza.”

Sonia ressalta que Lina também projetou outra residência no Morumbi, hoje conhecida como Casa do Jardim de Cristal, construída para Valéria Cirell, amiga da arquiteta, em 1958. O imóvel é particular, mas pode ser parcialmente avistado da Rua Brigadeiro Armando Trompowsky, 65. A casa é de tijolos de barro, troncos de madeira e pedras, sendo revestida com cacos cerâmicos, de modo que lembra obras de Antoni Gaudí.

Antes disso, Lina participou das obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em sua antiga sede, na Rua 7 de Abril, 230, no centro, que também abrigava os Diários Associados. O projeto atual do museu foi inaugurado em 1968 e ganhou o vermelho característico nos anos 90. “Ele alterou completamente o paisagismo da cidade”, pontua Aracy Amaral.

Da parte de baixo, o projeto permite que os pedestres contemplem a região central. “O vão livre era para ser o lugar onde tudo acontecesse, de balé a circo, com a cidade ao fundo”, ressalta Sonia Guarita do Amaral.

Lina também se envolveu em projetos em imóveis históricos, como o Palácio das Indústrias, que adaptou para receber a Prefeitura de São Paulo nos anos 90. Hoje, o local é o Catavento Cultural.

Fora do País, ganhou destaque com o projeto da sede do Teatro Oficina, companhia para a qual colaborou em projetos cênicos. Outro caso é o Sesc Pompeia, na zona oeste, criado em uma antiga fábrica. “Ela tinha a preocupação de que funcionasse como se fosse uma avenida, para que o povo circulasse como se estivesse na rua.

Endereços paulistanos

Tarsila (1886-1973)

De 1920 a 1973, entre períodos no exterior, no interior e no Rio, a artista morou na Rua Vitória, 133 (Santa Ifigênia), nas Alamedas Barão de Piracicaba, 56, e Barão de Limeira, 14 (ambos Campos Elísios), na Rua Tabatinguera (Sé), Rua Caiubi, 666 (Perdizes), na Avenida Angélica, 75, e na Rua Albuquerque Lins, 1.129 (ambos na Santa Cecília), segundo Aracy Amaral. Nenhum dos locais foi preservado. Há também relatos de que viveu no Edifício Santo André, na Rua Piauí, 752 (Higienópolis).

Lina (1914-1992)

Morou no Pacaembu e na Casa de Vidro (Rua Gal. Almério de Moura, 200, Morumbi).


Os carros, os edifícios, os operários e as chaminés industriais presentes em pinturas dão pistas do que foi a São Paulo de Tarsila do Amaral. Vinda do interior, a artista passou a maior parte da vida na capital – a exemplo da arquiteta Lina Bo Bardi, que emigrou da Itália e criou alguns dos prédios mais simbólicos da história paulistana.

As autoras estão em evidência com a abertura de exposições no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Nascidas com duas décadas de diferença, elas vivenciaram e marcaram períodos distintos da capital paulista. O Estado foi atrás dessas trajetórias para contar o que foi a São Paulo de Lina e Tarsila.

“Elas viveram cidades muito diferentes. A Lina viveu em São Paulo a partir dos anos 40. Já a Tarsila se mudou na década de 10”, compara Aracy Amaral, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora 34/Edusp).

Aracy lembra que Tarsila circulava principalmente pela região central de São Paulo. De Capivari, no interior, ela chegou a morar na capital durante a infância, quando estudou em uma instituição em Santana e no Colégio Sion, mas se fixou de vez em 1913. “Ela se deslocava de casa até o Parque Jardim da Luz, onde desenhava. Depois (em 1920), monta um ateliê na Rua Vitória.”

Naquela época, morou em Campos Elísios, “o bairro residencial da época”, mas, décadas depois, residiu em Perdizes, na zona oeste, e em Higienópolis. “Esses bairros centrais foram o mundo de Tarsila.”

Tendo exposto em vários espaços da cidade, exibiu obras na inauguração da Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada por Gregori Warchavchik.

Segundo Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista, Tarsila costumava fazer viagens para a Serra do Mar e Santana, na zona norte, para “se inspirar” junto dos demais componentes do Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade). Quando mais nova, a inspiração vinha da região central. “Ela fazia desenhos andando pelo centro. Tenho um moleskine dela com vários desenhos. Então, dá para perceber um pouco dela andando pelas ruas, fazendo alguns esboços de pessoas, de lugares, até de cemitério.”

Ela costumava frequentar a casa de Mário de Andrade, na Barra Funda, zona oeste, hoje transformada em centro cultural pelo governo do Estado. Outro local visitado era o palacete da mecenas Olívia Guedes Penteado, em Santa Cecília.

Após alguns anos morando em Perdizes, na zona oeste, se fixou em Higienópolis. Foi nesse período que Tarsilinha conviveu com a artista. “Eu tinha 8 anos quando ela morreu, mas tenho uma lembrança muito forte dela. Lembro de uma vez em que foi homenageada no Buffet França (em Higienópolis), que já era um lugar muito prestigiado. Ela também foi algumas vezes ao Palácio dos Bandeirantes receber homenagens, almoços. Tinha também uma relação muito forte com museus.”

Vida e obra

Essas vivências na cidade estiveram presentes na obra de Tarsila desde os primeiros esboços, quando começou a estudar desenho, até pinturas icônicas como São Paulo, de 1931, que retrata o Vale do Anhangabaú de forma estilizada.

“O tema é realmente a cidade de São Paulo, com uma figura humana que parece uma bomba de gasolina. Com os casarios ao longe, as avenidas. É uma espécie de registro urbano da cidade de acordo com a técnica cubista, de geometria de formas”, diz Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de Tarsila do Amaral: A modernista (Edições Sesc São Paulo).

A professora cita que Tarsila pintou outras cidades, como o Rio e Ouro Preto, em Minas, mas que a capital paulista era presente de diversas formas. “Era a terra dela, tinha uma coisa mais forte. Em Operários (de 1933), o tema é geral, mas a gente associa à industrialização de São Paulo. Tem aquela célebre pirâmide humana, como uma esteira de produção. Tem as chaminés, isso sempre remonta à industrialização de São Paulo, embora o tema seja mais vasto que os limites da cidade”, aponta.

Lina

Enquanto a trajetória de Tarsila está muito ligada às antigas edificações e espaços da região central no período áureo, a história de Lina Bo Bardi esteve majoritariamente alinhada com o modernismo e a requalificação de espaços históricos.

Como explica Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi, a arquiteta se mudou para São Paulo em 1947, após breve período no Rio. Ela se fixou temporariamente no Pacaembu, zona oeste, com o marido Pietro, enquanto procuravam o terreno da futura residência. Após a seleção da área, no Morumbi, zona sul, fez toda a obra da Casa de Vidro, inaugurada em 1951 e hoje espaço cultural.

“Ela era uma europeia que se encantou com a nossa cultura, que repensou isso na Casa de Vidro, com o aço, o ferro, o vidro, que eram materiais novos para a época”, conta. “A Casa de Vidro era um lugar para ver São Paulo, para poder desfrutar da cidade. Totalmente de vidro, mostrava que uma casa não deve impedir o morador de ter contato com a natureza.”

Sonia ressalta que Lina também projetou outra residência no Morumbi, hoje conhecida como Casa do Jardim de Cristal, construída para Valéria Cirell, amiga da arquiteta, em 1958. O imóvel é particular, mas pode ser parcialmente avistado da Rua Brigadeiro Armando Trompowsky, 65. A casa é de tijolos de barro, troncos de madeira e pedras, sendo revestida com cacos cerâmicos, de modo que lembra obras de Antoni Gaudí.

Antes disso, Lina participou das obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em sua antiga sede, na Rua 7 de Abril, 230, no centro, que também abrigava os Diários Associados. O projeto atual do museu foi inaugurado em 1968 e ganhou o vermelho característico nos anos 90. “Ele alterou completamente o paisagismo da cidade”, pontua Aracy Amaral.

Da parte de baixo, o projeto permite que os pedestres contemplem a região central. “O vão livre era para ser o lugar onde tudo acontecesse, de balé a circo, com a cidade ao fundo”, ressalta Sonia Guarita do Amaral.

Lina também se envolveu em projetos em imóveis históricos, como o Palácio das Indústrias, que adaptou para receber a Prefeitura de São Paulo nos anos 90. Hoje, o local é o Catavento Cultural.

Fora do País, ganhou destaque com o projeto da sede do Teatro Oficina, companhia para a qual colaborou em projetos cênicos. Outro caso é o Sesc Pompeia, na zona oeste, criado em uma antiga fábrica. “Ela tinha a preocupação de que funcionasse como se fosse uma avenida, para que o povo circulasse como se estivesse na rua.

Endereços paulistanos

Tarsila (1886-1973)

De 1920 a 1973, entre períodos no exterior, no interior e no Rio, a artista morou na Rua Vitória, 133 (Santa Ifigênia), nas Alamedas Barão de Piracicaba, 56, e Barão de Limeira, 14 (ambos Campos Elísios), na Rua Tabatinguera (Sé), Rua Caiubi, 666 (Perdizes), na Avenida Angélica, 75, e na Rua Albuquerque Lins, 1.129 (ambos na Santa Cecília), segundo Aracy Amaral. Nenhum dos locais foi preservado. Há também relatos de que viveu no Edifício Santo André, na Rua Piauí, 752 (Higienópolis).

Lina (1914-1992)

Morou no Pacaembu e na Casa de Vidro (Rua Gal. Almério de Moura, 200, Morumbi).


Os carros, os edifícios, os operários e as chaminés industriais presentes em pinturas dão pistas do que foi a São Paulo de Tarsila do Amaral. Vinda do interior, a artista passou a maior parte da vida na capital – a exemplo da arquiteta Lina Bo Bardi, que emigrou da Itália e criou alguns dos prédios mais simbólicos da história paulistana.

As autoras estão em evidência com a abertura de exposições no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Nascidas com duas décadas de diferença, elas vivenciaram e marcaram períodos distintos da capital paulista. O Estado foi atrás dessas trajetórias para contar o que foi a São Paulo de Lina e Tarsila.

“Elas viveram cidades muito diferentes. A Lina viveu em São Paulo a partir dos anos 40. Já a Tarsila se mudou na década de 10”, compara Aracy Amaral, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora 34/Edusp).

Aracy lembra que Tarsila circulava principalmente pela região central de São Paulo. De Capivari, no interior, ela chegou a morar na capital durante a infância, quando estudou em uma instituição em Santana e no Colégio Sion, mas se fixou de vez em 1913. “Ela se deslocava de casa até o Parque Jardim da Luz, onde desenhava. Depois (em 1920), monta um ateliê na Rua Vitória.”

Naquela época, morou em Campos Elísios, “o bairro residencial da época”, mas, décadas depois, residiu em Perdizes, na zona oeste, e em Higienópolis. “Esses bairros centrais foram o mundo de Tarsila.”

Tendo exposto em vários espaços da cidade, exibiu obras na inauguração da Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada por Gregori Warchavchik.

Segundo Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista, Tarsila costumava fazer viagens para a Serra do Mar e Santana, na zona norte, para “se inspirar” junto dos demais componentes do Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade). Quando mais nova, a inspiração vinha da região central. “Ela fazia desenhos andando pelo centro. Tenho um moleskine dela com vários desenhos. Então, dá para perceber um pouco dela andando pelas ruas, fazendo alguns esboços de pessoas, de lugares, até de cemitério.”

Ela costumava frequentar a casa de Mário de Andrade, na Barra Funda, zona oeste, hoje transformada em centro cultural pelo governo do Estado. Outro local visitado era o palacete da mecenas Olívia Guedes Penteado, em Santa Cecília.

Após alguns anos morando em Perdizes, na zona oeste, se fixou em Higienópolis. Foi nesse período que Tarsilinha conviveu com a artista. “Eu tinha 8 anos quando ela morreu, mas tenho uma lembrança muito forte dela. Lembro de uma vez em que foi homenageada no Buffet França (em Higienópolis), que já era um lugar muito prestigiado. Ela também foi algumas vezes ao Palácio dos Bandeirantes receber homenagens, almoços. Tinha também uma relação muito forte com museus.”

Vida e obra

Essas vivências na cidade estiveram presentes na obra de Tarsila desde os primeiros esboços, quando começou a estudar desenho, até pinturas icônicas como São Paulo, de 1931, que retrata o Vale do Anhangabaú de forma estilizada.

“O tema é realmente a cidade de São Paulo, com uma figura humana que parece uma bomba de gasolina. Com os casarios ao longe, as avenidas. É uma espécie de registro urbano da cidade de acordo com a técnica cubista, de geometria de formas”, diz Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de Tarsila do Amaral: A modernista (Edições Sesc São Paulo).

A professora cita que Tarsila pintou outras cidades, como o Rio e Ouro Preto, em Minas, mas que a capital paulista era presente de diversas formas. “Era a terra dela, tinha uma coisa mais forte. Em Operários (de 1933), o tema é geral, mas a gente associa à industrialização de São Paulo. Tem aquela célebre pirâmide humana, como uma esteira de produção. Tem as chaminés, isso sempre remonta à industrialização de São Paulo, embora o tema seja mais vasto que os limites da cidade”, aponta.

Lina

Enquanto a trajetória de Tarsila está muito ligada às antigas edificações e espaços da região central no período áureo, a história de Lina Bo Bardi esteve majoritariamente alinhada com o modernismo e a requalificação de espaços históricos.

Como explica Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi, a arquiteta se mudou para São Paulo em 1947, após breve período no Rio. Ela se fixou temporariamente no Pacaembu, zona oeste, com o marido Pietro, enquanto procuravam o terreno da futura residência. Após a seleção da área, no Morumbi, zona sul, fez toda a obra da Casa de Vidro, inaugurada em 1951 e hoje espaço cultural.

“Ela era uma europeia que se encantou com a nossa cultura, que repensou isso na Casa de Vidro, com o aço, o ferro, o vidro, que eram materiais novos para a época”, conta. “A Casa de Vidro era um lugar para ver São Paulo, para poder desfrutar da cidade. Totalmente de vidro, mostrava que uma casa não deve impedir o morador de ter contato com a natureza.”

Sonia ressalta que Lina também projetou outra residência no Morumbi, hoje conhecida como Casa do Jardim de Cristal, construída para Valéria Cirell, amiga da arquiteta, em 1958. O imóvel é particular, mas pode ser parcialmente avistado da Rua Brigadeiro Armando Trompowsky, 65. A casa é de tijolos de barro, troncos de madeira e pedras, sendo revestida com cacos cerâmicos, de modo que lembra obras de Antoni Gaudí.

Antes disso, Lina participou das obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em sua antiga sede, na Rua 7 de Abril, 230, no centro, que também abrigava os Diários Associados. O projeto atual do museu foi inaugurado em 1968 e ganhou o vermelho característico nos anos 90. “Ele alterou completamente o paisagismo da cidade”, pontua Aracy Amaral.

Da parte de baixo, o projeto permite que os pedestres contemplem a região central. “O vão livre era para ser o lugar onde tudo acontecesse, de balé a circo, com a cidade ao fundo”, ressalta Sonia Guarita do Amaral.

Lina também se envolveu em projetos em imóveis históricos, como o Palácio das Indústrias, que adaptou para receber a Prefeitura de São Paulo nos anos 90. Hoje, o local é o Catavento Cultural.

Fora do País, ganhou destaque com o projeto da sede do Teatro Oficina, companhia para a qual colaborou em projetos cênicos. Outro caso é o Sesc Pompeia, na zona oeste, criado em uma antiga fábrica. “Ela tinha a preocupação de que funcionasse como se fosse uma avenida, para que o povo circulasse como se estivesse na rua.

Endereços paulistanos

Tarsila (1886-1973)

De 1920 a 1973, entre períodos no exterior, no interior e no Rio, a artista morou na Rua Vitória, 133 (Santa Ifigênia), nas Alamedas Barão de Piracicaba, 56, e Barão de Limeira, 14 (ambos Campos Elísios), na Rua Tabatinguera (Sé), Rua Caiubi, 666 (Perdizes), na Avenida Angélica, 75, e na Rua Albuquerque Lins, 1.129 (ambos na Santa Cecília), segundo Aracy Amaral. Nenhum dos locais foi preservado. Há também relatos de que viveu no Edifício Santo André, na Rua Piauí, 752 (Higienópolis).

Lina (1914-1992)

Morou no Pacaembu e na Casa de Vidro (Rua Gal. Almério de Moura, 200, Morumbi).


Os carros, os edifícios, os operários e as chaminés industriais presentes em pinturas dão pistas do que foi a São Paulo de Tarsila do Amaral. Vinda do interior, a artista passou a maior parte da vida na capital – a exemplo da arquiteta Lina Bo Bardi, que emigrou da Itália e criou alguns dos prédios mais simbólicos da história paulistana.

As autoras estão em evidência com a abertura de exposições no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Nascidas com duas décadas de diferença, elas vivenciaram e marcaram períodos distintos da capital paulista. O Estado foi atrás dessas trajetórias para contar o que foi a São Paulo de Lina e Tarsila.

“Elas viveram cidades muito diferentes. A Lina viveu em São Paulo a partir dos anos 40. Já a Tarsila se mudou na década de 10”, compara Aracy Amaral, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora 34/Edusp).

Aracy lembra que Tarsila circulava principalmente pela região central de São Paulo. De Capivari, no interior, ela chegou a morar na capital durante a infância, quando estudou em uma instituição em Santana e no Colégio Sion, mas se fixou de vez em 1913. “Ela se deslocava de casa até o Parque Jardim da Luz, onde desenhava. Depois (em 1920), monta um ateliê na Rua Vitória.”

Naquela época, morou em Campos Elísios, “o bairro residencial da época”, mas, décadas depois, residiu em Perdizes, na zona oeste, e em Higienópolis. “Esses bairros centrais foram o mundo de Tarsila.”

Tendo exposto em vários espaços da cidade, exibiu obras na inauguração da Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada por Gregori Warchavchik.

Segundo Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista, Tarsila costumava fazer viagens para a Serra do Mar e Santana, na zona norte, para “se inspirar” junto dos demais componentes do Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade). Quando mais nova, a inspiração vinha da região central. “Ela fazia desenhos andando pelo centro. Tenho um moleskine dela com vários desenhos. Então, dá para perceber um pouco dela andando pelas ruas, fazendo alguns esboços de pessoas, de lugares, até de cemitério.”

Ela costumava frequentar a casa de Mário de Andrade, na Barra Funda, zona oeste, hoje transformada em centro cultural pelo governo do Estado. Outro local visitado era o palacete da mecenas Olívia Guedes Penteado, em Santa Cecília.

Após alguns anos morando em Perdizes, na zona oeste, se fixou em Higienópolis. Foi nesse período que Tarsilinha conviveu com a artista. “Eu tinha 8 anos quando ela morreu, mas tenho uma lembrança muito forte dela. Lembro de uma vez em que foi homenageada no Buffet França (em Higienópolis), que já era um lugar muito prestigiado. Ela também foi algumas vezes ao Palácio dos Bandeirantes receber homenagens, almoços. Tinha também uma relação muito forte com museus.”

Vida e obra

Essas vivências na cidade estiveram presentes na obra de Tarsila desde os primeiros esboços, quando começou a estudar desenho, até pinturas icônicas como São Paulo, de 1931, que retrata o Vale do Anhangabaú de forma estilizada.

“O tema é realmente a cidade de São Paulo, com uma figura humana que parece uma bomba de gasolina. Com os casarios ao longe, as avenidas. É uma espécie de registro urbano da cidade de acordo com a técnica cubista, de geometria de formas”, diz Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de Tarsila do Amaral: A modernista (Edições Sesc São Paulo).

A professora cita que Tarsila pintou outras cidades, como o Rio e Ouro Preto, em Minas, mas que a capital paulista era presente de diversas formas. “Era a terra dela, tinha uma coisa mais forte. Em Operários (de 1933), o tema é geral, mas a gente associa à industrialização de São Paulo. Tem aquela célebre pirâmide humana, como uma esteira de produção. Tem as chaminés, isso sempre remonta à industrialização de São Paulo, embora o tema seja mais vasto que os limites da cidade”, aponta.

Lina

Enquanto a trajetória de Tarsila está muito ligada às antigas edificações e espaços da região central no período áureo, a história de Lina Bo Bardi esteve majoritariamente alinhada com o modernismo e a requalificação de espaços históricos.

Como explica Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi, a arquiteta se mudou para São Paulo em 1947, após breve período no Rio. Ela se fixou temporariamente no Pacaembu, zona oeste, com o marido Pietro, enquanto procuravam o terreno da futura residência. Após a seleção da área, no Morumbi, zona sul, fez toda a obra da Casa de Vidro, inaugurada em 1951 e hoje espaço cultural.

“Ela era uma europeia que se encantou com a nossa cultura, que repensou isso na Casa de Vidro, com o aço, o ferro, o vidro, que eram materiais novos para a época”, conta. “A Casa de Vidro era um lugar para ver São Paulo, para poder desfrutar da cidade. Totalmente de vidro, mostrava que uma casa não deve impedir o morador de ter contato com a natureza.”

Sonia ressalta que Lina também projetou outra residência no Morumbi, hoje conhecida como Casa do Jardim de Cristal, construída para Valéria Cirell, amiga da arquiteta, em 1958. O imóvel é particular, mas pode ser parcialmente avistado da Rua Brigadeiro Armando Trompowsky, 65. A casa é de tijolos de barro, troncos de madeira e pedras, sendo revestida com cacos cerâmicos, de modo que lembra obras de Antoni Gaudí.

Antes disso, Lina participou das obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em sua antiga sede, na Rua 7 de Abril, 230, no centro, que também abrigava os Diários Associados. O projeto atual do museu foi inaugurado em 1968 e ganhou o vermelho característico nos anos 90. “Ele alterou completamente o paisagismo da cidade”, pontua Aracy Amaral.

Da parte de baixo, o projeto permite que os pedestres contemplem a região central. “O vão livre era para ser o lugar onde tudo acontecesse, de balé a circo, com a cidade ao fundo”, ressalta Sonia Guarita do Amaral.

Lina também se envolveu em projetos em imóveis históricos, como o Palácio das Indústrias, que adaptou para receber a Prefeitura de São Paulo nos anos 90. Hoje, o local é o Catavento Cultural.

Fora do País, ganhou destaque com o projeto da sede do Teatro Oficina, companhia para a qual colaborou em projetos cênicos. Outro caso é o Sesc Pompeia, na zona oeste, criado em uma antiga fábrica. “Ela tinha a preocupação de que funcionasse como se fosse uma avenida, para que o povo circulasse como se estivesse na rua.

Endereços paulistanos

Tarsila (1886-1973)

De 1920 a 1973, entre períodos no exterior, no interior e no Rio, a artista morou na Rua Vitória, 133 (Santa Ifigênia), nas Alamedas Barão de Piracicaba, 56, e Barão de Limeira, 14 (ambos Campos Elísios), na Rua Tabatinguera (Sé), Rua Caiubi, 666 (Perdizes), na Avenida Angélica, 75, e na Rua Albuquerque Lins, 1.129 (ambos na Santa Cecília), segundo Aracy Amaral. Nenhum dos locais foi preservado. Há também relatos de que viveu no Edifício Santo André, na Rua Piauí, 752 (Higienópolis).

Lina (1914-1992)

Morou no Pacaembu e na Casa de Vidro (Rua Gal. Almério de Moura, 200, Morumbi).


Os carros, os edifícios, os operários e as chaminés industriais presentes em pinturas dão pistas do que foi a São Paulo de Tarsila do Amaral. Vinda do interior, a artista passou a maior parte da vida na capital – a exemplo da arquiteta Lina Bo Bardi, que emigrou da Itália e criou alguns dos prédios mais simbólicos da história paulistana.

As autoras estão em evidência com a abertura de exposições no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Nascidas com duas décadas de diferença, elas vivenciaram e marcaram períodos distintos da capital paulista. O Estado foi atrás dessas trajetórias para contar o que foi a São Paulo de Lina e Tarsila.

“Elas viveram cidades muito diferentes. A Lina viveu em São Paulo a partir dos anos 40. Já a Tarsila se mudou na década de 10”, compara Aracy Amaral, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora 34/Edusp).

Aracy lembra que Tarsila circulava principalmente pela região central de São Paulo. De Capivari, no interior, ela chegou a morar na capital durante a infância, quando estudou em uma instituição em Santana e no Colégio Sion, mas se fixou de vez em 1913. “Ela se deslocava de casa até o Parque Jardim da Luz, onde desenhava. Depois (em 1920), monta um ateliê na Rua Vitória.”

Naquela época, morou em Campos Elísios, “o bairro residencial da época”, mas, décadas depois, residiu em Perdizes, na zona oeste, e em Higienópolis. “Esses bairros centrais foram o mundo de Tarsila.”

Tendo exposto em vários espaços da cidade, exibiu obras na inauguração da Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada por Gregori Warchavchik.

Segundo Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista, Tarsila costumava fazer viagens para a Serra do Mar e Santana, na zona norte, para “se inspirar” junto dos demais componentes do Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade). Quando mais nova, a inspiração vinha da região central. “Ela fazia desenhos andando pelo centro. Tenho um moleskine dela com vários desenhos. Então, dá para perceber um pouco dela andando pelas ruas, fazendo alguns esboços de pessoas, de lugares, até de cemitério.”

Ela costumava frequentar a casa de Mário de Andrade, na Barra Funda, zona oeste, hoje transformada em centro cultural pelo governo do Estado. Outro local visitado era o palacete da mecenas Olívia Guedes Penteado, em Santa Cecília.

Após alguns anos morando em Perdizes, na zona oeste, se fixou em Higienópolis. Foi nesse período que Tarsilinha conviveu com a artista. “Eu tinha 8 anos quando ela morreu, mas tenho uma lembrança muito forte dela. Lembro de uma vez em que foi homenageada no Buffet França (em Higienópolis), que já era um lugar muito prestigiado. Ela também foi algumas vezes ao Palácio dos Bandeirantes receber homenagens, almoços. Tinha também uma relação muito forte com museus.”

Vida e obra

Essas vivências na cidade estiveram presentes na obra de Tarsila desde os primeiros esboços, quando começou a estudar desenho, até pinturas icônicas como São Paulo, de 1931, que retrata o Vale do Anhangabaú de forma estilizada.

“O tema é realmente a cidade de São Paulo, com uma figura humana que parece uma bomba de gasolina. Com os casarios ao longe, as avenidas. É uma espécie de registro urbano da cidade de acordo com a técnica cubista, de geometria de formas”, diz Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de Tarsila do Amaral: A modernista (Edições Sesc São Paulo).

A professora cita que Tarsila pintou outras cidades, como o Rio e Ouro Preto, em Minas, mas que a capital paulista era presente de diversas formas. “Era a terra dela, tinha uma coisa mais forte. Em Operários (de 1933), o tema é geral, mas a gente associa à industrialização de São Paulo. Tem aquela célebre pirâmide humana, como uma esteira de produção. Tem as chaminés, isso sempre remonta à industrialização de São Paulo, embora o tema seja mais vasto que os limites da cidade”, aponta.

Lina

Enquanto a trajetória de Tarsila está muito ligada às antigas edificações e espaços da região central no período áureo, a história de Lina Bo Bardi esteve majoritariamente alinhada com o modernismo e a requalificação de espaços históricos.

Como explica Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi, a arquiteta se mudou para São Paulo em 1947, após breve período no Rio. Ela se fixou temporariamente no Pacaembu, zona oeste, com o marido Pietro, enquanto procuravam o terreno da futura residência. Após a seleção da área, no Morumbi, zona sul, fez toda a obra da Casa de Vidro, inaugurada em 1951 e hoje espaço cultural.

“Ela era uma europeia que se encantou com a nossa cultura, que repensou isso na Casa de Vidro, com o aço, o ferro, o vidro, que eram materiais novos para a época”, conta. “A Casa de Vidro era um lugar para ver São Paulo, para poder desfrutar da cidade. Totalmente de vidro, mostrava que uma casa não deve impedir o morador de ter contato com a natureza.”

Sonia ressalta que Lina também projetou outra residência no Morumbi, hoje conhecida como Casa do Jardim de Cristal, construída para Valéria Cirell, amiga da arquiteta, em 1958. O imóvel é particular, mas pode ser parcialmente avistado da Rua Brigadeiro Armando Trompowsky, 65. A casa é de tijolos de barro, troncos de madeira e pedras, sendo revestida com cacos cerâmicos, de modo que lembra obras de Antoni Gaudí.

Antes disso, Lina participou das obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em sua antiga sede, na Rua 7 de Abril, 230, no centro, que também abrigava os Diários Associados. O projeto atual do museu foi inaugurado em 1968 e ganhou o vermelho característico nos anos 90. “Ele alterou completamente o paisagismo da cidade”, pontua Aracy Amaral.

Da parte de baixo, o projeto permite que os pedestres contemplem a região central. “O vão livre era para ser o lugar onde tudo acontecesse, de balé a circo, com a cidade ao fundo”, ressalta Sonia Guarita do Amaral.

Lina também se envolveu em projetos em imóveis históricos, como o Palácio das Indústrias, que adaptou para receber a Prefeitura de São Paulo nos anos 90. Hoje, o local é o Catavento Cultural.

Fora do País, ganhou destaque com o projeto da sede do Teatro Oficina, companhia para a qual colaborou em projetos cênicos. Outro caso é o Sesc Pompeia, na zona oeste, criado em uma antiga fábrica. “Ela tinha a preocupação de que funcionasse como se fosse uma avenida, para que o povo circulasse como se estivesse na rua.

Endereços paulistanos

Tarsila (1886-1973)

De 1920 a 1973, entre períodos no exterior, no interior e no Rio, a artista morou na Rua Vitória, 133 (Santa Ifigênia), nas Alamedas Barão de Piracicaba, 56, e Barão de Limeira, 14 (ambos Campos Elísios), na Rua Tabatinguera (Sé), Rua Caiubi, 666 (Perdizes), na Avenida Angélica, 75, e na Rua Albuquerque Lins, 1.129 (ambos na Santa Cecília), segundo Aracy Amaral. Nenhum dos locais foi preservado. Há também relatos de que viveu no Edifício Santo André, na Rua Piauí, 752 (Higienópolis).

Lina (1914-1992)

Morou no Pacaembu e na Casa de Vidro (Rua Gal. Almério de Moura, 200, Morumbi).


Os carros, os edifícios, os operários e as chaminés industriais presentes em pinturas dão pistas do que foi a São Paulo de Tarsila do Amaral. Vinda do interior, a artista passou a maior parte da vida na capital – a exemplo da arquiteta Lina Bo Bardi, que emigrou da Itália e criou alguns dos prédios mais simbólicos da história paulistana.

As autoras estão em evidência com a abertura de exposições no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Nascidas com duas décadas de diferença, elas vivenciaram e marcaram períodos distintos da capital paulista. O Estado foi atrás dessas trajetórias para contar o que foi a São Paulo de Lina e Tarsila.

“Elas viveram cidades muito diferentes. A Lina viveu em São Paulo a partir dos anos 40. Já a Tarsila se mudou na década de 10”, compara Aracy Amaral, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora 34/Edusp).

Aracy lembra que Tarsila circulava principalmente pela região central de São Paulo. De Capivari, no interior, ela chegou a morar na capital durante a infância, quando estudou em uma instituição em Santana e no Colégio Sion, mas se fixou de vez em 1913. “Ela se deslocava de casa até o Parque Jardim da Luz, onde desenhava. Depois (em 1920), monta um ateliê na Rua Vitória.”

Naquela época, morou em Campos Elísios, “o bairro residencial da época”, mas, décadas depois, residiu em Perdizes, na zona oeste, e em Higienópolis. “Esses bairros centrais foram o mundo de Tarsila.”

Tendo exposto em vários espaços da cidade, exibiu obras na inauguração da Casa Modernista, na Vila Mariana, projetada por Gregori Warchavchik.

Segundo Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista, Tarsila costumava fazer viagens para a Serra do Mar e Santana, na zona norte, para “se inspirar” junto dos demais componentes do Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade). Quando mais nova, a inspiração vinha da região central. “Ela fazia desenhos andando pelo centro. Tenho um moleskine dela com vários desenhos. Então, dá para perceber um pouco dela andando pelas ruas, fazendo alguns esboços de pessoas, de lugares, até de cemitério.”

Ela costumava frequentar a casa de Mário de Andrade, na Barra Funda, zona oeste, hoje transformada em centro cultural pelo governo do Estado. Outro local visitado era o palacete da mecenas Olívia Guedes Penteado, em Santa Cecília.

Após alguns anos morando em Perdizes, na zona oeste, se fixou em Higienópolis. Foi nesse período que Tarsilinha conviveu com a artista. “Eu tinha 8 anos quando ela morreu, mas tenho uma lembrança muito forte dela. Lembro de uma vez em que foi homenageada no Buffet França (em Higienópolis), que já era um lugar muito prestigiado. Ela também foi algumas vezes ao Palácio dos Bandeirantes receber homenagens, almoços. Tinha também uma relação muito forte com museus.”

Vida e obra

Essas vivências na cidade estiveram presentes na obra de Tarsila desde os primeiros esboços, quando começou a estudar desenho, até pinturas icônicas como São Paulo, de 1931, que retrata o Vale do Anhangabaú de forma estilizada.

“O tema é realmente a cidade de São Paulo, com uma figura humana que parece uma bomba de gasolina. Com os casarios ao longe, as avenidas. É uma espécie de registro urbano da cidade de acordo com a técnica cubista, de geometria de formas”, diz Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de Tarsila do Amaral: A modernista (Edições Sesc São Paulo).

A professora cita que Tarsila pintou outras cidades, como o Rio e Ouro Preto, em Minas, mas que a capital paulista era presente de diversas formas. “Era a terra dela, tinha uma coisa mais forte. Em Operários (de 1933), o tema é geral, mas a gente associa à industrialização de São Paulo. Tem aquela célebre pirâmide humana, como uma esteira de produção. Tem as chaminés, isso sempre remonta à industrialização de São Paulo, embora o tema seja mais vasto que os limites da cidade”, aponta.

Lina

Enquanto a trajetória de Tarsila está muito ligada às antigas edificações e espaços da região central no período áureo, a história de Lina Bo Bardi esteve majoritariamente alinhada com o modernismo e a requalificação de espaços históricos.

Como explica Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi, a arquiteta se mudou para São Paulo em 1947, após breve período no Rio. Ela se fixou temporariamente no Pacaembu, zona oeste, com o marido Pietro, enquanto procuravam o terreno da futura residência. Após a seleção da área, no Morumbi, zona sul, fez toda a obra da Casa de Vidro, inaugurada em 1951 e hoje espaço cultural.

“Ela era uma europeia que se encantou com a nossa cultura, que repensou isso na Casa de Vidro, com o aço, o ferro, o vidro, que eram materiais novos para a época”, conta. “A Casa de Vidro era um lugar para ver São Paulo, para poder desfrutar da cidade. Totalmente de vidro, mostrava que uma casa não deve impedir o morador de ter contato com a natureza.”

Sonia ressalta que Lina também projetou outra residência no Morumbi, hoje conhecida como Casa do Jardim de Cristal, construída para Valéria Cirell, amiga da arquiteta, em 1958. O imóvel é particular, mas pode ser parcialmente avistado da Rua Brigadeiro Armando Trompowsky, 65. A casa é de tijolos de barro, troncos de madeira e pedras, sendo revestida com cacos cerâmicos, de modo que lembra obras de Antoni Gaudí.

Antes disso, Lina participou das obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp) em sua antiga sede, na Rua 7 de Abril, 230, no centro, que também abrigava os Diários Associados. O projeto atual do museu foi inaugurado em 1968 e ganhou o vermelho característico nos anos 90. “Ele alterou completamente o paisagismo da cidade”, pontua Aracy Amaral.

Da parte de baixo, o projeto permite que os pedestres contemplem a região central. “O vão livre era para ser o lugar onde tudo acontecesse, de balé a circo, com a cidade ao fundo”, ressalta Sonia Guarita do Amaral.

Lina também se envolveu em projetos em imóveis históricos, como o Palácio das Indústrias, que adaptou para receber a Prefeitura de São Paulo nos anos 90. Hoje, o local é o Catavento Cultural.

Fora do País, ganhou destaque com o projeto da sede do Teatro Oficina, companhia para a qual colaborou em projetos cênicos. Outro caso é o Sesc Pompeia, na zona oeste, criado em uma antiga fábrica. “Ela tinha a preocupação de que funcionasse como se fosse uma avenida, para que o povo circulasse como se estivesse na rua.

Endereços paulistanos

Tarsila (1886-1973)

De 1920 a 1973, entre períodos no exterior, no interior e no Rio, a artista morou na Rua Vitória, 133 (Santa Ifigênia), nas Alamedas Barão de Piracicaba, 56, e Barão de Limeira, 14 (ambos Campos Elísios), na Rua Tabatinguera (Sé), Rua Caiubi, 666 (Perdizes), na Avenida Angélica, 75, e na Rua Albuquerque Lins, 1.129 (ambos na Santa Cecília), segundo Aracy Amaral. Nenhum dos locais foi preservado. Há também relatos de que viveu no Edifício Santo André, na Rua Piauí, 752 (Higienópolis).

Lina (1914-1992)

Morou no Pacaembu e na Casa de Vidro (Rua Gal. Almério de Moura, 200, Morumbi).