Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – A primeira imagem famosa de Mayra Pinheiro, atual secretária de gestão do trabalho do Ministério da Saúde, é uma foto de 2013 em que aparece vaiando médicos cubanos que chegavam ao Brasil para o programa Mais Médicos, mas quando chegar à CPI da Covid nesta terça-feira para depor, é com o apelido de “Capitã Cloroquina” que a pediatra cearense precisa se preocupar.

Mayra é, junto com o secretário de saúde indígena do ministério, Robson Santos, um dos únicos nomes de segundo escalão remanescentes da equipe de Henrique Mandetta. Apesar de ter sido nomeada pelo ex-ministro –hoje um adversário estridente do presidente Jair Bolsonaro–, a secretária não foi escolhida por ele e nunca teve espaço significativa em sua equipe.

Fontes que conviveram com Mayra no ministério disseram à Reuters que a indicação da pediatra pode ser traçada a grupos de médicos bolsonaristas que apoiaram o governo na eleição, mas ninguém sabe apontar um padrinho exato.

Depois de ser fotografada gritando aos médicos cubanos que voltassem “para a senzala”, em 2013, a pediatra neonatologista presidiu o sindicato dos médicos do Ceará e entrou para a política. Em 2014, filiada ao PSDB, foi candidata à Câmara dos Deputados. Em 2018, tentou o Senado e ficou em 4º lugar, com 11,3% dos votos. Em 2020, filiou-se ao partido Novo.

Enquanto Mandetta era ministro, Mayra tinha pouco espaço no ministério. A interlocutores, o ex-ministro dizia que a médica cumpria a cota bolsonarista, mas em uma equipe de gestores de saúde experientes, não tinha espaço. Perdeu até mesmo a reformulação do programa Mais Médicos, que foi transferido para a Secretaria de Assistência à Saúde.

Durante a gestão Mandetta, Mayra era pouco ouvida e pouco conhecida. Colegas recordam uma médica educada e tranquila, sem grandes ideias e também sem grandes conflitos, mas em quem o então ministro não confiava.

Pouco antes de ir ao Planalto para ser demitido, Mandetta reuniu seus secretários e auxiliares de confiança para avisá-los que deixaria o cargo. Mayra não estava entre eles. A secretária também não estava na despedida pública do ex-ministro.

Foi depois da saída de Mandetta que surgiu a persona “Capitã Cloroquina”.

“Isso começou depois. Ela era mais comedida na gestão do Mandetta e Teich (Nelson)”, disse uma fonte.

Em uma equipe chefiada por Pazuello, em que profissionais médicos eram escassos, Mayra ganhou relevância. Defensora do tratamento precoce desde o início, quando o presidente Jair Bolsonaro invocou as supostas vantagens do uso da cloroquina contra a Covid-19, a secretária ganhou espaço, passou a frequentar entrevistas e virou a porta-voz do tema pelo ministério, mesmo que sua secretarias não tenha qualquer relação com o tema.

Mayra ganhou mais notoriedade –não exatamente positiva– quando explodiu a crise em Manaus. Mayra coordenou a visita de um grupo de médicos à cidade para insistir na necessidade de uso da cloroquina.

Em um ofício para a Secretaria de Saúde de Manaus, Mayra pede autorização para visitar Unidades Básicas de Saúde para falar do “tratamento precoce” e chega a dizer que seria “inadmissível” que o Estado não estivesse investindo no método, apesar de estudos científicos já terem demonstrado que os medicamentos não funcionam.

Em suas redes sociais, sobram referências de Mayra ao tratamento precoce – -pesar de terem rareado nas últimas semanas, à medida que seu depoimento na CPI se aproxima. Em sua fala, Mayra terá que convencer os senadores da validade do uso da cloroquina, mesmo depois do consenso internacional sobre sua ineficácia contra a Covid-19.

Ardoroso defensor do medicamento para uso contra a Covid-19, Bolsonaro continua fazendo propaganda. Em sua live semanal, na última quinta-feira, disse que tomou o remédio há pouco tempo novamente quando não se sentiu bem, antes mesmo de falar com um médico.

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