O setor de Papel e Celulose do anuário As Melhores da Dinheiro 2019 registra uma situação sui generis: a vencedora e a segunda colocada, escolhidas com base nos dados de 2018, agora são uma só empresa. Estamos falando, é claro, do processo de aquisição da Fibria pela Suzano Papel e Celulose, confirmada em janeiro deste ano, e que deu origem à nova Suzano – umas das líderes mundiais no setor. De acordo com os números referentes ao ano passado, a Fibria esteve um pequeno passo à frente da (ex) rival. Mais do que o prêmio que a nova Suzano leva para casa, quem ganha é o Brasil, com o surgimento de uma nova companhia que soma os pontos fortes de ambas.

Um ponto curioso dessa história é que se trata de um daqueles casos onde a empresa de menor porte absorveu outra maior. Ao longo de 2018, a Fibria obteve receita de R$ 18,2 bilhões, contra os R$ 13,4 bilhões da Suzano Papel e Celulose. Na produção de celulose, a Fibria registrou 6.758 mil toneladas, frente às 3.501 mil toneladas da concorrente. Uma bela amostra de que, às vezes, tamanho não é o bastante: saúde financeira e uma estrutura adequada ao seu tamanho falam mais alto. Que o diga, por exemplo, a ex-gigante Sadia, comprada pela rival Perdigão na operação que deu origem à atual BRF.

A vitória na categoria Papel e Celulose, no entanto, mostra que a união das duas partes pode resultar na absorção das melhores qualidades de cada uma delas. Um exemplo está no segmento de governança corporativa, onde ambas já eram referência. Segundo o CEO da Suzano, Walter Schalka, o desafio passou a ser a busca da harmonização das práticas em níveis de transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa, além daquelas já exigidas para ter ações negociadas no Novo Mercado, na B3 e na bolsa NYSE, nos EUA. “Nossa atuação tem como objetivo construir uma empresa que gere e compartilhe valor com seus stakeholders e com a sociedade”, diz.

Walter Schalka / Empresa: Suzano / Cargo: CEO / Principal realização da gestão: Conduzir a aquisição, pela Suzano Papel e Celulose, da Fibria, criando uma das maiores empresas do setor no mundo (Crédito:Divulgação)

Isso se reflete na direção da companhia. Além do Conselho de Administração, a nova Suzano possui um comitê de auditoria estatutário composto por membros independentes, um conselho fiscal permanente e comitês de Conduta e Riscos. Também existem outros quatro comitês, formados por membros externos independentes, que assessoram o Conselho nas principais questões estratégicas: Pessoas e Remuneração, Estratégia e Inovação, Gestão e Finanças e Sustentabilidade.

A direção também está se movendo no sentido de agilizar seus processos internos. Schalka afirma que pretende aproximar os processos da companhia daqueles praticados em uma estrutura tão ágil quanto a de uma startup. A ideia é descentralizar a organização, reduzir a burocracia e estimular a autonomia dos funcionários. “Colocar o colaborador no centro desse processo é fundamental porque acreditamos que o avanço de uma cultura digital não está na tecnologia, mas sim nas pessoas”, diz o executivo. Criada após a fusão das empresas, a divisão digital também está encarregada de capturar novas tendências e aproximar a Suzano de startups – e de possíveis novos parceiros estratégicos.

O nascimento, no entanto, não vem sendo um processo fácil para a nova Suzano. Ao mesmo tempo em que tenta transformar em uma só as duas empresas com trajetórias, estruturas e culturas distintas, o comando da companhia enfrenta um cenário global desafiador. A crescente desaceleração econômica nos países desenvolvidos e a tensão sobre uma possível guerra comercial entre Estados Unidos e China esfriaram a demanda por celulose. Os chineses, maiores compradores mundiais da fibra, optaram por usar seus estoques ao invés de realizar novas encomendas. Ao mesmo tempo, a produção das grandes companhias globais seguiu a todo vapor. A consequência é um prejuízo de R$ 1,2 bilhão no primeiro trimestre de 2019.

Para reverter o quadro, a Suzano está empenhada em uma série de medidas para recuperar o seu fôlego. Uma das estratégias é produzir um volume menor do que as vendas, de forma a reduzir o nível dos estoques próprios. Também houve uma redução nas previsões de investimento para este ano. A expectativa da companhia é que haja uma retomada a médio e longo prazo tanto dos preços da celulose quanto da demanda na China. Como um dos grandes players globais, a Suzano possui peso para influenciar a formação do preço da celulose e assim diminuir a volatilidade no mercado mundial. Além disso, a busca por sinergias entre as antigas estruturas da Fibria e da Suzano Papel e Celulose é outro ponto-chave. Desde janeiro, as equipes estão focadas na integração de sistemas e nos ganhos logísticos e operacionais, como a otimização do uso da madeira plantada e a redução de custos com a compra de insumos, por exemplo. A previsão é que o valor economizado possa chegar até R$ 900 milhões ao ano.

Além das mudanças econômicas, o mercado global também passa por uma alteração cultural, com um consumidor cada vez mais preocupado com seus hábitos de consumo. A empresa acredita em um aumento contínuo no consumo de papéis para embalagens e demais usos, em substituição a outros materiais. “O consumidor está cada vez mais exigente e demandante de produtos mais amigáveis ao meio ambiente. E por isso o papel se destaca, afinal ele é produzido a partir da madeira, uma fonte renovável”, afirma o CEO, lembrando ainda que a Suzano produz 100% de sua celulose – a matéria-prima da madeira – a partir do uso de eucaliptos plantados para essa finalidade. Segundo Schalka, “vamos continuar antevendo o surgimento de novas frentes de atuação para o setor e, a partir disso, desbravar as novas formas de aproveitamento da madeira plantada” – e assim levar a nova gigante a navegar por mares bem mais calmos.