Milhares de brasileiros ao longo do último ano receberam um mesmo comunicado de seus bancos: a carta ou e-mail geralmente explicava que a conta seria transferida para uma nova unidade, em virtude do fechamento da agência original. O movimento, cada vez mais comum, é um reflexo do aumento da digitalização, que ganhou força na pandemia, e também do aumento da pressão das fintechs. Neste cenário, os grandes bancos listados desativaram quase 1,8 mil agências nos 12 meses fechados em setembro.

Nesse período, o Banco do Brasil e o Bradesco lideraram os fechamentos de agências, com 765 e 762 pontos fechados, respectivamente. As duas instituições demitiram, ao longo desses 12 meses, um total de 14,7 mil trabalhadores. O movimento de encerramentos também se deu no Santander e no Itaú, mas de forma bem mais branda: os dois bancos encerraram 139 e 112 agências no período. Diferentemente do que ocorreu com os dois rivais, as instituições contrataram funcionários no período.

A tendência de fechar as portas das unidades físicas ainda vai continuar. Estudo da consultoria alemã Roland Berger apontou que os cinco grandes bancos do País poderiam reduzir em nada menos do que 30% o número de suas agências. Em alguns grandes bancos, as transações feitas em agências caíram 70% este ano, enquanto as feitas no celular saltaram mais de 90%.

BUROCRACIA. Foi em uma dessas agências que o colombiano David Vélez, fundador do Nubank, entrou quando chegou ao Brasil, em 2012, para tentar abrir uma conta corrente. As portas giratórias com detector de metais e os seguranças armados mostraram que o processo de abrir uma conta seria difícil e lento.

E assim foi. Quatro meses depois e uma série de documentos entregues, Vélez abriu sua conta e ficou convencido de que havia espaço para esse processo ser mais fácil, conforme ele conta nos documentos de abertura de capital do Nubank, que deve estrear na Bolsa valendo mais do que Itaú, Bradesco e Santander – e sem nenhuma agência física.

O estudo da Roland Berger que foi elaborado no início do ano considera duas forças motrizes que levariam os bancos a fechar agências. Uma foi a maior concorrência com fintechs, já totalmente integradas com o atendimento 100% digital, e a outra foi um cenário de juros baixos, que vinha afetando o spread bancário (diferença entre o custo de captação e de concessão de crédito), algo que afeta sua rentabilidade.

PERFIS. O diretor sênior de instituições financeiras da agência de classificação de riscos Fitch, Claudio Gallina, afirma que esse processo de fechamento de agências reflete também a mudança do perfil do cliente, com a chegada dos mais jovens – e digitalizados – à economia ativa. Gallina aponta que, além do primeiro movimento feito pelos bancos, de fechar agências muito próximas a outras, agora os pontos que restaram deverão ter menos funcionários, já que o fluxo de clientes será menor.

Os bancos reconhecem que o processo está em curso. O presidente do Bradesco, Octávio de Lazari, disse, em teleconferência recente, que o banco fechará neste ano 179 agências e transformará 377 em unidades de negócios, que não têm mais o profissional de caixa e são mais baratas.

Antes da pandemia, os caixas do Bradesco nas agências faziam 1 milhão de autenticações por dia, seja de um boleto, seja de uma conta. Hoje, esse número caiu para 112 mil.

No novo modelo de agência do Bradesco, a economia se dá principalmente com segurança. “O Bradesco chegou a ter 10 mil vigilantes armados dentro das agências. Os gastos com carros fortes eram uma enormidade de caros”, disse. Em dois anos, mil agências foram reformuladas.

Apesar disso, os bancos têm afirmado que a presença física tem um papel importante para o negócio. “Sempre digo que a gente tem a rede de agências por convicção. Fizemos um ajuste na rede nos últimos cinco anos, uma redução de mil pontos de venda. Reduzimos muito a sobreposição”, comentou o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, em teleconferência sobre os resultados do terceiro trimestre. “A gente ainda vê boa demanda nos pontos físicos”, frisa.

No Santander, a decisão tem sido de ter mais unidades físicas nas regiões centrais do País, exatamente onde a instituição financeira acredita que o potencial de crescimento é maior. “Estamos abrindo agências no centro do Brasil, onde há crescimento”, disse o diretor financeiro do banco, Angel Santodomingo.

Por isso, a instituição tomou a decisão de abrir pontos de atendimento no Centro-Oeste, onde o agronegócio está aquecido. Mesmo assim, o banco espanhol fechou 139 agências nos 12 meses encerrados em setembro.

GANHA-GANHA. Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelson Sampaio afirma que esse movimento é fruto da digitalização da sociedade – fenômeno que, no caso da relação com os bancos, trouxe benefícios tanto para as empresas, quanto para os clientes.

“Mais pessoas passaram a utilizar os serviços digitais, e os bancos querem fazer frente às fintechs e reduzir seus custos”, comenta. Segundo ele, as agências também caminharão para ter uma nova proposta, como as unidades de negócio, que podem ser focadas em outros serviços da prateleira dos bancos, como investimentos, por exemplo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.