A inflação acumulada em 12 meses segue acima dos dois dígitos. Nesse cenário, uma das principais preocupações do investidor é preservar seu poder de compra e, se possível, contabilizar um lucro. Além de comprar títulos corrigidos por índices de inflação, os especialistas recomendam outra estratégia: commodities, cujos preços têm avançado mais que os das ações. No ano, até a quarta-feira (29), o índice americano Dow Jones Commodity valorizou-se 19,53% em dólar, ante 2,62% do Ibovespa. Em reais, porém, o principal indicador do mercado acionário brasileiro amarga baixa de 4%.

Esse movimento é o contrário do esperado. Commodities são compradas apenas por empresas. Em momentos de desaceleração da economia, como o que se espera para o segundo semestre, suas cotações deveriam recuar. “As condições do mercado são excepcionais, devido ao conflito na Ucrânia e às expectativas de retomada da economia chinesa”, disse Bruce Barbosa, analista da Nord Research. Isso deve manter as cotações no patamar atual. Na quarta-feira (29), os contratos futuros para agosto do petróleo Brent, referência para o mercado europeu e a Petrobras, fecharam a US$ 115, alta de quase 55% em 12 meses.

Como aproveitar essa valorização em potencial? Para sorte do investidor brasileiro, atualmente há várias alternativas possíveis para surfar nessa onda. Por exemplo, ações de empresas do setor. Ou Exchange Traded Funds (ETF), que investem em commodities e cujas cotas são negociadas em bolsa. Ou buscar uma alternativa um pouco mais sofisticada e investir diretamente nesses ativos. Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, “há inúmeros caminhos, tanto no Brasil quanto no exterior”.

POSSIBILIDADES O roteiro mais conhecido é comprar ações de petrolíferas e mineradoras, ou então contratos futuros de produtos do agronegócio, todos eles negociados nos pregões da B3. Segundo o analista da Terra Investimentos Geraldo Isoldi, as melhores opções para quem vai começar são os contratos futuros de milho ou de boi gordo. “São os mais negociados, e essa liquidez elevada facilita se o investidor quiser sair da posição”, disse Isoldi.

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“As condições do mercado são excepcionais, devido ao conflito na Ucrânia e às expectativas de retomada da economia chinesa” Bruce Barbosa analista da Nord Research.

No entanto, os analistas reconhecem que o cardápio para o investidor brasileiro é restrito. Igor Cavaca, executivo da gestora Warren, diz que no Brasil os fundos e os ETFs dedicados a commodities se dedicam principalmente a ações de empresas desse segmento. “Se quiser um fundo que compre diretamente esses ativos, o investidor deve procurar o mercado internacional”, afirmou.

Para fazer isso, o caminho mais simples é buscar uma corretora brasileira que seja intermediária de uma congênere internacional, ou que tenha autorização para trabalhar fora. Também é possível abrir uma conta em uma corretora estrangeira. Porém, os especialistas advertem que esse é o caminho mais trabalhoso. Uma vez que os trâmites burocráticos sejam superados, é só enviar o dinheiro para o exterior e começar a operar.

Há pregões específicos para cada commodity. Quem gosta do agronegócio deve preferir a Bolsa de Chicago. O petróleo é mais negociado em Nova York, mas isso não vale para o minério de ferro. Isoldi, da Terra Investimentos, diz que “os preços são definidos no porto chinês de Dalian, mas, para fazer negócios, o investidor deve ir para a London Metal Exchange, a Bolsa de Metais de Londres, pois a burocracia é muito menor”.

Vale a pena? Para os especialistas, sim. Arbetman afirma que “as commodities são uma ótima proteção contra a inflação, porque esse segmento está conseguindo repassar o aumento dos custos para os consumidores”. Um bom exemplo é o minério de ferro. A tonelada era negociada no porto chinês de Dalian a US$ 124,50 na quarta-feira (29), alta de 27,9% no acumulado do ano. Mas é preciso ficar atento aos riscos. Bruce Barbosa reforça que essa valorização deveu-se às expectativas de retomada da economia chinesa, o que leva a um risco. “Se as expectativas forem frustradas, é provável que as cotações recuem.”