Quando começou 2019 a perspectiva de um novo governo fez com que o mercado, empresários e consumidores se mostrassem otimistas com o futuro. A expectativa era que o dólar caísse, a dívida pública encolhesse, o emprego melhorasse e a economia, finalmente, deixasse para trás os dois anos de recessão e os dois anos de crescimento na casa dos 1,3% vistos em 2017 e 2018. No entanto, com o passar dos meses esse ânimo arrefeceu, e aquela previsão de alta de 2,5% no Produto Interno Bruto (PIB) aventada pelo Banco Central, deu lugar aos 1,1% de crescimento efetuado. Agora, em seu segundo ano de mandato, o presidente Jair Bolsonaro cobra resultados mais pujantes do seu, até então intocável, superministro Paulo Guedes, que se limitou a dizer que não entende porque as pessoas ficaram “surpresas com o resultado”.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) o resultado do PIB em 2019 representa, em termos de riquezas, no mesmo patamar de 2013, com R$ 7,2 trilhões. A alta tímida esconde alguns resultados positivos, como a construção civil, que interrompeu cinco anos seguidos de retração e cresceu 1,6%, valor considerado bom dentro de um contexto de grande estagnação e fuga de investimentos. “Apesar do resultado da construção ser positivo, é preciso lembrar que o setor perdeu quase 30% da sua contribuição para o PIB entre 2014 e 2018”, diz o economista Sérgio Sallas, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na avaliação do acadêmico, outro dado que precisa ser considerado é que, apesar de alta no ano, a construção apresentou queda no último trimestre de 2019. “Isso mostra a fragilidade da economia e a falta de sustentabilidade em um crescimento de longo prazo”, completa.

Dentro dos outros setores, o crescimento em serviços e comércio reflete uma economia fraca e empresários temerosos. “Claramente os empresários estão em compasso de espera. Idependentemente se eles se identificam ou não com o governo, ninguém arrisca investir”, afirma Cláudia Rocco, doutora em economia e professora convidada da USP. Para ela, esse efeito de arrocho se dá pelas incertezas criadas pelo governo. “Bolsonaro gastou o primeiro ano de mandato com fofoquinhas e ruídos. Perdeu o melhor ciclo da gestão (quando há alta popularidade, com coisas menores, enquanto a economia patinava).”

Sallas, da UFRJ, ressalta outro dado do PIB: a diminuição de 0,5% dos gastos do governo. O número, reflexo do contingenciamento de mais de R$ 30 bilhões, teve um efeito na economia. “As pessoas confundem cortar custos e cortar investimento. Se o governo corta custos ele reduz a dívida, mas se corta investimento ele reduz o crescimento do País”, diz. Com obras paradas, menor recurso para compra de equipamentos, material escolar – além da diminuição até do cafezinho no Planalto, o governo conseguiu diminuir os gastos, mas no processo prejudicou também a economia.

MILAGRE DAS REFORMAS Há alguns anos que as reformas estruturantes eram vistas como a tábua de salvação da economia. Primeiro foi o teto dos gastos, em 2016. Na sequência, a reforma trabalhista de 2017, período em que o PIB avançou 1,3%. Em 2019, mesmo com a reforma da Previdência, o PIB desacelerou. E o motivo para isso não está nas reformas. A falta de um projeto amplo de estabilidade política atinge diretamente o avanço econômico. “As reformas criam um ambiente mais propício para o crescimento, mas se os sinais políticos forem contrários, não há como sairmos do pibinho”, diz Sallas.

Apesar dessa perspectiva, reside na reforma tributária alguma esperança de melhora no ambiente econômico. Segundo o coordenador de Economia Aplicada do FGV/Ibre, Armando Castelar só com ela podemos pensar em um crescimento do PIB na casa dos 2,5% e 3%. Para ele, mesmo com os esforços do governo para estimular a economia, sem a reforma tributária, a alta não vai superar 1,5%. “Há um manicômio tributário gerado pelas constantes mudanças de regras e insegurança jurídica”,diz. Por essas razões, o investidor acaba por fazer planos de curto prazo no País. “Pois ele não sabe até quando o que vale hoje ainda valerá. É um freio gigantesco”.

Também na linha dos otimistas o economista da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, diz que o consumo das famílias foi destaque no PIB, e deve continuar neste ano. “Tivemos uma pequena retomada do consumo, e temos a expectativa de crescimento da indústria, segundo o boletim Focus, que elevou de 2,33% para 2,41%, aliado aos juros que são os mais baixos da história”. Agora, só nos resta saber se o
otimismo previsto pelo Banco Central não vai se esvair, com o PIB, no atravessar dos meses.

O futuro da indústria

O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, estiveram na quinta-feira 5 na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O encontro foi o segundo em menos de um mês, com o presidente mostrando interesse em reindustrializar o País.

Além de tratar do futuro da indústria, o encontro também serviu para discutir o resultado do PIB industrial, que segundo o IBGE, subiu 0,5% em 2019. O resultado, ainda tímido, traz dados promissores, como a alta de 1,6% da construção civil, que interrompeu cinco anos de retração. “O resultado geral do PIB (+1,1%) ficou em linha com os três anos anteriores e dentro das expectativas, afinal, 2019 começou com a atividade estagnada e observamos leve retomada econômica a partir de agosto”, diz Paulo Skaf, presidente da Federação.

Para este ano, a expectativa é de continuidade da retomada, com o PIB podendo avançar 2,5%. “Porém, estamos sujeitos a fatos inesperados, como os efeitos negativos do coronavírus na atividade econômica”, diz Skaf.

No encontro na Fiesp, além de Guedes e Bolsonaro estavam os ministros da Secretaria de Governo, Luiz Ramos, da Casa Civil, Walter Braga Netto, do Meio Ambiente, Ricardo Salles, da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, além do Presidente da Embratur, Gilson Machado. O evento da Fiesp teve34 empresários e executivos, entre eles André Bier Gerdau Johannpeter (Gerdau), Carlos Alberto de Oliveira Andrade (Caoa), Flavio Rocha (Riachuelo) e Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco).