A médica cubana Evelyn Fernandes, de 28 anos, foi liberada do atendimento numa Unidade Básica de Saúde (UBS) de São Miguel Arcanjo, interior de São Paulo, para cumprir tarefas que nada têm a ver com sua profissão. Em lojas de móveis usados de Sorocaba, ela tentava vender geladeira, cama e outros acessórios de sua casa para voltar para Cuba. Depois de um ano e meio atendendo principalmente a população rural da cidade, ela soube da decisão do governo cubano de interromper o programa Mais Médicos. “Devo embarcar segunda ou terça da próxima semana, estou só esperando a passagem”, disse.

Dos sete médicos cubanos que o programa destinou a São Miguel Arcanjo, cidade de 33 mil habitantes, cerca de um terço na zona rural, seis já foram notificados para retornar a Cuba. “Não sei o que vai acontecer, porque a gente fazia muito atendimento. Eram vinte ou mais consultas todo dia. Tem idosos e crianças que acompanho desde que cheguei.” A médica, que já atuou três anos na Venezuela, disse que vai de “coração partido”, porque gosta do Brasil.

Colega de Evelyn no Programa Saúde da Família (PSF) de São Miguel Arcanjo, a médica cubana Lissete Romero Quiñones, de 32 anos, vai permanecer no Brasil. Ela foi enviada à cidade pelo Mais Médicos em 2014 e, em julho de 2016, casou-se com um administrador de empresas brasileiro. “Por ser casada aqui, o governo cubano mandou uma declaração de que posso ficar, mas ainda tenho muita incerteza. Tenho contrato até 31 de dezembro, mas e depois?”

Lissete ainda não tem a cidadania brasileira, mas por ser casada aqui, espera que o governo permita que ela entre na contratação emergencial que vai suprir as vagas abertas pela saída dos cubanos. “Eu gostaria de continuar trabalhando até conseguir fazer o Revalida.”

A secretária da Saúde de São Miguel Arcanjo, Kátia Raskevicius, disse que o impacto da saída dos seis médicos cubanos só será avaliado na próxima semana. “São 162 atendimentos que deixarão de ser feitos por dia. Estamos esperando que o governo federal reponha o mesmo número de profissionais, através da contratação emergencial.”

Segundo a secretária, o município não tem condições financeiras de contratar os médicos necessários para manter o mesmo atendimento. “Entramos no programa justamente porque não conseguíamos trazer médico para cá.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.