A taxa de desemprego atinge mais mulheres que homens, mas elas são cada vez mais relevantes como arrimo de família e buscam alternativas para compor renda e tentar manter o padrão de vida. Segundo a Pesquisa Nacional de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2021, do IBGE, a taxa de desocupação está em 11,1%, sendo que entre os homens é de 9% e entre as mulheres 13,9%. Apesar de ganharem menos que os homens, na média, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstram que quase metade dos lares brasileiros são sustentados por mulheres.

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A médica de 23 anos, Isabela Soares, está entre as mulheres que vivem esta realidade. Mãe solteira, com uma filha, Mirella, hoje com 8 anos, ela se formou no fim de 2021 e, antes de receber o diploma, enfrentou o desafio de precisar arcar sozinha com as despesas da casa. “Embora a UFBA seja pública e gratuita, o curso era em tempo integral e eu precisava de uma renda, pois tinha outros compromissos, contas para pagar e minha própria filha para criar”, conta.

Sua saída foi estudar e começar a operar na Bolsa de Valores através da mesa proprietária Axia Investing, que treina e contrata profissionais para atuar no day trade. “Com o dinheiro que ganhei ao longo desse tempo eu consegui pagar os R$ 12 mil da minha formatura e manter minha casa. Moro com minha mãe, que no ano passado ficou desempregada por causa da pandemia. Então, fazer day trade foi algo muito bom para mim”, diz. Ela lembra que os ganhos não são fixos.

“Às vezes eu tiro mais e às vezes menos. Assim, o valor mensal é relativo. Em média eu garanto uma renda entre R$ 2.000 e R$ 3.000 por mês, mas já aconteceu de eu obter resultado negativo e não receber nada”, ressalta.

Mulheres que não investem representam 72% da população feminina do país, enquanto 66% dos homens não são investidores. O público feminino alega que o principal motivo para não investir é a falta de dinheiro. Os dados fazem parte da 5ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, pesquisa realizada pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) em parceria com o Datafolha, que ouviu 5,8 mil pessoas das classes A, B, C e D/E, de todas as regiões do país. Na Bolsa de Valores, conforme dados da B3 (Bolsa de Valores brasileira), no fim de janeiro deste ano – último dado disponível – eram mais de 5 milhões de investidores no mercado acionário, sendo que mais de 1 milhão eram mulheres.

Além dos investimentos, uma modalidade que cresceu nos últimos anos e também tem protagonismo feminino é o freelancer. Uma pesquisa recente mostrou que mais da metade da população empregada no Brasil faz algum tipo de bico para complementar a renda, enquanto um levantamento feito pela Closeer, startup que conecta profissionais às empresas que querem contratar um serviço, mostrou que 70% da mão de obra freelancer é formada por mulheres.

Muitas, porém, têm os freelas como única fonte de sustento. Caso da assistente de cozinha Silvia Gama, de 48 anos. Ela mantém a família por meio do aplicativo da Closeer desde que perdeu o emprego que tinha em uma escola, onde trabalhou por nove anos. E garante que, dependendo do volume de vagas para freelas, os ganhos ultrapassam o que ela recebia no emprego formal.

“A vantagem do aplicativo é poder me candidatar para vários tipos de vagas relacionadas à minha área e fazer uma renda maior. Como os serviços de cozinha estão sendo bastante solicitados desde o retorno dos estabelecimentos, em alguns meses eu consigo ganhar mais com eles do que quando estava em um emprego fixo”, revela.