O ambiente de investimentos brasileiros parece favorável como nunca para o iniciante em bolsa de valores. Além de muita informação gratuita sobre como funciona o mercado de capitais, a baixa taxa básica de juros estimula o investidor a partir para a renda variável em busca de melhor retorno financeiro. Dessa forma, o número de investidores na bolsa disparou. Em julho de 2019, havia 1 milhão de CPFs cadastrados na B3. Atualmente, já superam os 2,5 milhões. Ainda assim, muita gente tem receio em aplicar suas economias em ações quando tem pouco a investir. A solução é aportar uma quantia inicial pequena em papéis de cada empresa, abaixo do lote mínimo disponível. O chamado mercado fracionário.

Tradicionalmente, as ações estão disponíveis em lotes, formados por 100 ações de uma determinada companhia. Vamos supor que o papel de uma empresa esteja precificado em R$ 60. Isso significa que um lote de 100 ações custará R$ 6 mil. Trata-se de um preço alto para quem dispõe de pouco dinheiro ou se inicia e quer minimizar riscos. É aí que o mercado fracionário se mostra uma boa oportunidade. No caso, o investidor pode adquirir apenas uma ação a R$ 60 ou dez ações, por R$ 600, ou qualquer outra quantidade até o limite de 99. “A compra fracionada abre um leque de oportunidades para o pequeno investidor. Nesse modelo, ele tem a chance de diversificar seu portfólio”, disse Matheus Soares, analista da corretora Rico Investimentos. Isso é ainda mais importante neste momento, uma vez que a bolsa brasileira vê a chegada de iniciantes. O saldo mediano dos participantes da B3 baixou de R$ 16 mil, em 2018, para R$ 6 mil, este ano.

MAIS POPULAR Em um levantamento com 3 mil pessoas cadastradas em sua plataforma, a Rico descobriu que 71% delas já negociam ações no mercado fracionário. De todas, 59% escolheram essa modalidade por ter pouco dinheiro, enquanto 41% apostam no mecanismo por ser iniciante em ações. Segundo Soares, o mercado fracionário tem se popularizado agora devido a uma mudança de estratégia das empresas de investimentos, que baixaram os custos de corretagem – algo que vem acontecendo com força no último ano. Não fazia sentido investir R$ 100 e pagar
R$ 10 de taxa na compra e outros R$ 10 na venda do ativo. A ação teria de se valorizar 20% para que a relação entre o investimento e o custo ficasse no zero a zero. Era muito risco para pouca possibilidade de lucro. “Para atrair os pequenos investidores, essas taxas começaram a cair”, afirmou. Na Rico, por exemplo, era de R$ 7,50 e agora está em R$ 1,90. “Não é necessário que a ação suba muito para dar retorno.”

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“A compra fracionada abre um leque de oportunidades para o pequeno investidor. nesse modelo, ele tem a chance de diversificar seu portfólio” Matheus Soares, Rico Investimentos.

Mas, isso não significa que o interessado poderá comprar cinco ações de uma empresa, dez de outra, 25 de uma terceira e pagar uma única taxa de corretagem. A taxa é cobrada sobre as ações de cada companhia. Se a ideia é diversificar em ativos de três companhias, ele pagará R$ 5,70, ou seja, R$ 1,90 para cada. Para Rafael Ribeiro, analista da Clear, além da atenção com taxas de corretagem (na Clear, há isenção de taxa), o investidor deve notar que pode haver diferença de preços em relação ao mercado tradicional. Isso acontece porque há menos liquidez no segmento fracionado, por causa do volume menor negociado diariamente. “A ação de uma empresa pode custar R$ 27 no mercado tradicional e estar dois ou cinco centavos mais alta no fracionário”, afirmou. Antigamente, a diferença era bem maior, o que também contribuía para desmotivar o pequeno investidor, mas agora esse fator tem peso quase que irrisório. “É uma boa porta de entrada”, disse. “Faz um aporte pequeno todos os meses, vai rendendo, incrementando o conhecimento do mercado financeiro e, dessa forma, vai construindo um patrimônio.”

No Brasil, o mercado fracionário ainda é limitado à compra e venda de frações de um lote de ações, mas nos Estados Unidos já é possível fracionar uma única ação. No fim do ano passado, a plataforma californiana Robinhood, focada no investidor da geração millenial, anunciou essa possibilidade. Com o objetivo de atrair investidores iniciantes, a empresa passou a permitir a compra, com apenas US$ 1, de uma fatia da ação de empresas como a Amazon, que na quarta-feira (29) custava em torno de R$ 7,8 mil. Dessa forma, a Robinhood ampliou a ameaça à plataforma dominante no mercado americano, a Charles Schwab. A tal ponto que a empresa veterana entrou também, em maio, nas vendas de frações de ações. Por aqui, segundo a B3, ainda “não existe essa possibilidade, tanto do ponto de vista operacional quanto do regulatório”.