O perfil dos militares que vão disputar cargos no Poder Executivo neste ano vai de fãs do deputado federal Jair Bolsonaro, presidenciável do PSL, até “militares de esquerda”. Em comum, eles têm falta de experiência na vida política, programas de governo ainda pouco estruturados e um sentimento declarado de rejeição a propostas de nova intervenção militar.

É o caso do major Adriano Costa e Silva, de 41 anos, 24 dos quais passados no Exército. Ele vai disputar o governo de São Paulo pelo partido Democracia Cristã (antigo Partido Social Democrata Cristão). “Nunca fui candidato a nada. Nem a síndico do prédio. Estava quietinho no quartel quando recebi o convite para sair candidato”, disse.

Ele diz rejeitar a hipótese de uma nova intervenção militar, mas vê os pedidos como o grande motivador dessas candidaturas. “Acho que é esse clamor da população que faz com que a gente saia dos quartéis e se ofereça como alternativa”, afirmou.

O general de Brigada do Exército Paulo Chagas, de 69 anos, disse que decidiu se “oferecer” ao nanico Partido Republicano Progressista (PRP) para “incursão” na política: é candidato a governador do Distrito Federal. Na reserva desde 2006, depois de um período como chefe da seleção de equitação, e integrante do Ternuma (acrônimo para Terrorismo Nunca Mais, coletivo criado para se opor ao movimento Tortura Nunca Mais, do fim dos anos 1980), ele fala com saudosismo sobre a ditadura militar. Mas argumenta que “as circunstâncias” hoje são “completamente diferentes”.

“Como diz o nosso comandante (Eduardo Villas Bôas, do Exército), (intervenção militar) é um retrocesso. O Brasil não pode andar para trás.” Conservador e de direita, o oficial costuma vestir terno e ostenta bigode de fios brancos. Em fotos de perfil, ainda aparece de farda e quepe. Diz que os militares desprezaram o ingresso em grandes partidos porque, segundo ele, estavam contaminados por filiados corruptos. “Tinha de ser partido de centro direita e não ter tornozeleira eletrônica.”

‘Preconceito’

Candidato ao governo do Sergipe, o policial militar Márcio Souza, de 41 anos, diz enfrentar “preconceitos” – por ser militar, cristão e filiado ao PSOL, um partido de orientação de esquerda. Nessa condição, diz que sempre é visto com desconfiança. “Ao ver apenas pela profissão, muitos fazem avaliações equivocadas. Já a vanguarda da esquerda me vê como um milico infiltrado. E, na caserna, muitos interpretam como se eu fosse contra a existência da polícia”.

Segundo ele, a formação católica o levou para a militância de esquerda. Souza defende uma PM “com olhar mais humanizado” e desmilitarizada, além de ser contrário à liberação do porte de armas para civis. “A Polícia é algo importante para evitar a barbárie”, afirmou.

Planos

A rejeição de Souza às propostas de Bolsonaro não poderia divergir mais da admiração professada por outro militar, Carlos Moisés da Silva, de 51 anos, candidato ao governo de Santa Catarina. Ele se filiou há quatro meses ao PSL pelo alinhamento de ideias com Bolsonaro. “Acreditamos numa política sem troca-troca. Nossa principal defesa é o combate à corrupção.”

O candidato fez carreira no Corpo de Bombeiros de Tubarão (a 138 km da capital), onde em 18 anos de serviço passou de comandante a tenente-coronel e corregedor adjunto. Na reserva, se mudou de volta para a capital há cinco meses e, a convite de Lucas Esmeraldino, presidente estadual da sigla e candidato ao Senado, se tornou tesoureiro do PSL.

Como Bolsonaro, Moisés não tem uma plataforma política estruturada. Diz que “não adianta fazer planos. Se planos resolvessem, o Brasil seria a Europa”. Uma proposta, diz, é diminuir o tamanho da máquina pública, reduzindo o número de secretarias no Estado. (FELIPE FRAZÃO, ANA BEATRIZ ASSAM, JONATHAS COTRIM e ALINE TORRES, ESPECIAL PARA A AE) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.