A demora na decisão da Prefeitura de São Paulo e a proximidade com o fim do ano fizeram com que 24% das escolas particulares da capital que responderam a uma enquete feita pelo Estadão decidissem não dar aulas presenciais a partir do dia 3. Elas optaram por continuar apenas com atividades extracurriculares na escola ou sequer abriram ainda. Entre os que continuarão com aulas só online estão colégios de elite, como Bandeirantes e Santa Cruz. A reportagem questionou 40 escolas particulares de todas as regiões da cidade, com perfis diferentes.

Sete meses após o fechamento das escolas por causa da pandemia do coronavírus, a Prefeitura liberou, há uma semana, a reabertura de escolas públicas e privadas para aulas regulares no ensino médio. Não foi definido porcentual máximo de estudantes que podem voltar agora, mas deve haver distância de 1,5 metro entre eles. Antes disso, colégios haviam sido autorizados a funcionar, mas só para atividades extracurriculares, como aulas de idiomas e esportes.

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O grupo das nove escolas que responderam que não devem retomar as aulas na próxima terça-feira inclui ainda Santa Maria e Móbile, ambos na zona sul. Duas escolas consultadas ainda não decidiram. A reabertura na capital, em meio à queda nas infecções pelo coronavírus, era uma demanda dos colégios particulares, que identificavam necessidade de convívio entre estudantes e de acolhimento emocional.

Mas, agora, parte deles avaliou que um retorno às aulas em novembro, a um mês do fim do ano letivo, prejudicaria o andamento das atividades finais. A maioria dos colégios privados conseguiu oferecer aulas remotas e prevê concluir o ano letivo em dezembro. Além disso, seria preciso mobilizar toda uma estrutura para poucos estudantes interessados e por pouco tempo.

“Seria refazer toda a logística do colégio e das famílias por causa de duas semanas”, diz Mayra Ivanoff, diretora pedagógica do Bandeirantes. Isso porque depois desse período o colégio entra em semanas de provas, que já estão organizadas para serem feitas online. Em seguida, em dezembro, os alunos saem de férias. O Band abriu no dia 7 apenas para reforço.

Para a diretora do Colégio Santa Maria, na zona sul, a volta agora poderia desequilibrar a rotina dos estudantes do ensino médio. “Os alunos estão se concentrando mais e conseguindo acompanhar bem o ensino remoto”, diz Diane Clay Cundiff. “Faltando um mês para o fim do ano letivo, seria correr um risco desnecessário.” O colégio deve continuar com aulas online por enquanto.

No Santa Cruz, a avaliação é de que o retorno híbrido (parte online e parte presencial) “prejudicaria bastante” a programação das últimas atividades do 1.º e do 2.º ano, segundo comunicado da escola. A opção das escolas também está ligada à baixa demanda dos pais dos alunos nessa faixa etária. Diane, do Santa Maria, diz que o pedido maior de retorno vem das crianças da educação infantil. Por isso, a maior parte das atividades presenciais tem sido direcionada aos mais novos.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) justificou a volta apenas do ensino médio com o argumento de que os jovens já estão circulando pela cidade e, portanto, a abertura não teria tanto impacto na evolução da pandemia. A poucas semanas das eleições municipais e sob pressão de professores, Covas adiou a decisão sobre o retorno de alunos da educação infantil e fundamental. Com isso, a maior parte das escolas municipais não deve abrir na próxima terça. A rede tem só nove escolas com ensino médio que vão obrigatoriamente dar aulas presenciais.

Emocional

Entre os colégios particulares que pretendem voltar às aulas no dia 3, a avaliação é de que precisam atender à necessidade de convívio dos alunos na escola e a volta agora seria também uma forma de os alunos se acostumarem aos protocolos de segurança e ao formato de classes híbridas.

“Se foi dada a autorização, eu acho que devo isso aos alunos. Muitos deles estão ansiosos em casa, tristes, pedindo para voltar”, diz a diretora do Colégio Magno, Cláudia Tricate. “Eles precisam mudar de cenário por causa da saúde emocional.” Segundo ela, cerca de 50% dos adolescentes do ensino médio querem voltar à escola. Para ir às aulas, eles devem se inscrever em cada disciplina que querem fazer presencialmente. Serão ate 15 estudantes por sala.

O colégio Agostiniano Mendel, na zona leste, também deve receber estudantes em turmas pequenas, de até 12 alunos. Apenas um terço dos estudantes vai frequentar a escola em cada dia.

Dentro da sala, câmeras vão filmar o professor e a aula será transmitida simultaneamente aos que ficam em casa. Não deve haver contato de uma turma com outra. “Esses meninos ficaram muito tempo em isolamento. Por mais curto que seja (o período de retorno), é importante fazer essa organização para que eles voltem ao ambiente escolar e estejam em contato com o professor”, diz Vagner da Silva, coordenador pedagógico do ensino médio. O colégio espera frequência maior dos alunos do 3.º ano por causa do vestibular. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.