O rugido do tigre da Esso, que há tempos não se fazia ouvir no mercado brasileiro, ecoou forte nos corredores da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Mais precisamente nos ouvidos de David Zylbersztajn, diretor geral do órgão. Richard T. Dobson, presidente da ExxonMobil Inter American Inc., a controladora da Esso, ?soltou as feras? em cima dos mandatários do setor no País. Em entrevista a DINHEIRO, criticou duramente as distribuidoras que adulteram combustível ou recorrem à Justiça para não pagar impostos. Disse que, assim, não é possível competir. E terminou mirando (e acertando) na ANP: ?Não entendo a decisão federal de adiar a importação de petróleo por empresas instaladas aqui?, disse. Ele se refere à atividade que, por enquanto, é exclusiva da Petrobras. Pela legislação, a estatal deveria perder a regalia em agosto próximo, mas o atraso na aprovação da reforma tributária levou a ANP e o Ministério das Minas e Energia a enviarem um projeto de lei ao Congresso propondo a dilatação do prazo até dezembro de 2001. Dobson, então, desabafou. ?Estamos decepcionados com o governo brasileiro.?

Ao tomar conhecimento das críticas, Zylbersztajn devolveu na mesma moeda: ?Ele não sabe o que é o governo brasileiro. Democracia é isso, temos de negociar. O que ele quer? Que a gente dê uma paulada no Congresso??. Sobre o recolhimento da Cofins, o executivo da ANP foi seco. ?Eles (a Esso) ficaram um bom tempo sem pagar a Confins e se aproveitaram disso?, diz. A diretoria da empresa apenas confirmou, pela assessoria de imprensa, que desde o ano passado está obrigada pela Justiça a depositar a Cofins em juízo até que o mérito da ação seja julgada. A estimativa de técnicos do setor é de que a multinacional já desembolsou perto de R$ 1 bilhão.

O primeiro resultado prático do bate-boca entre Dobson e Zylbersztajn foi a decisão da multinacional de reduzir seus investimentos no País. Os desembolsos nas áreas de distribuição de combustíveis e de marketing foram cortados pela metade. O volume, que deveria ser de US$ 70 milhões, cairá para algo entre US$ 35 milhões e US$ 30 milhões.

Não é de hoje que a Esso vem perdendo espaço para as chamadas distribuidoras independentes. No primeiro trimestre de 1998, a multinacional detinha 10,14% do mercado brasileiro de gasolina e diesel. Nos primeiros três meses deste ano, a participação caiu para 9,33%. Dobson reconhece que a concorrência desleal das distribuidoras independentes não foi o único fator que acelerou as mudanças na filial brasileira da Esso. Já existia a idéia de mudar o foco da companhia por aqui. A nova Esso vai diminuir a presença na área de distribuição, onde tem uma rede com mais de três mil postos, o que lhe dá a quinta posição no ranking nacional de distribuidoras ? nas décadas de 60 e 70 era a líder no mercado. O executivo negou que a empresa pretenda vender parte de sua rede de postos, como fez a Shell. A estratégia é dar mais atenção às áreas de lubrificantes e exploração de petróleo.

A nova fase da Esso no Brasil começou com a posse de Ricardo Gehrke, no começo deste ano. Ele é o primeiro brasileiro a comandar a filial da gigante norte-americana, que chegou por aqui em 1912. A Esso do Brasil foi dividida em cinco áreas de atuação: combustíveis, refino, química, exploração e produção e lubrificantes. A estrutura segue o modelo da matriz, que com a fusão Mobil/Exxon foi dividida em 11 unidades de negócios independentes. Na área de lubrificantes, a empresa tem duas fábricas, ambas no Estado do Rio. Juntas, detêm 12% do mercado brasileiro. Na área de exploração de petróleo, a nova Exxon-Mobil participa dos estudos de avaliação de oito blocos em bacias brasileiras. Desses, seis são em parceria com a Petrobras e dois foram arrematados no primeiro leilão de bacias petrolíferas brasileiras, realizado pela ANP no ano passado. A Esso, segundo a Dobson, estudou a participação no segundo leilão da ANP, que aconteceu no começo deste mês no Rio. Mas, para surpresa de muitos, a companhia não ofereceu um lance sequer, apesar de estar inscrita.

Mais calmo e seguindo a diplomacia que o cargo e o órgão exigem, Zylbersztajn tratou de amansar o tigre Dobson com algumas novidades. Uma delas: a partir de 1o de julho, o recolhimento do PIS e da Cofins deixará de ser feito pelas distribuidoras e passará a ser responsabilidade das refinarias. Com isso, diz Zylbersztajn, a ANP espera dar um golpe mortal na indústria de liminares. Atualmente existem cerca de 300 liminares que isentam distribuidoras de recolherem esses tributos.