Se o Brasil quiser ter crescimento sustentável e duradouro nos próximos anos, precisará ajustar as contas públicas. É o que defende o gerente-executivo de Economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, moderador de um dos painéis do 12º Encontro Nacional da Indústria (Enai), dias 17 e 18 de novembro. Com a participação da economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, e do economista Eduardo Gianetti, o painel Perspectivas para a Economia Brasileira jogou luz sobre assuntos prioritários para a indústria — mas que também são importantes para os demais setores da economia.

A responsabilidade fiscal foi um dos focos do debate. Se as medidas emergenciais adotadas pela pasta de Paulo Guedes tiveram impacto positivo para o enfrentamento da pandemia, agora é preciso criatividade para cortar despesas de forma a não desrespeitar o teto de gastos. “Precisamos dessa ancoragem fiscal, por meio de uma reforma administrativa”, disse Gianetti, acrescentando que o futuro exige uma pauta de privatizações e concessões, além da manutenção da taxa de juros baixa. Outra reforma necessária, na visão dos especialistas, é a tributária, que tornará o ambiente de negócios mais atrativo. “Trazer eficiência nesse campo poderá aumentar a arrecadação via uma economia mais pujante”, afirmou Ana Paula Vescovi, do Santander.

Se as reformas são essenciais para o Brasil, a atividade industrial precisa de algo mais: uma nova política para o setor. Essa foi uma das conclusões do painel mediado pelo gerente de Políticas Industriais da CNI, João Emilio Gonçalves, com as participações do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, e do CEO da Fator Administração de Recursos (FAR), Paulo Gala. O painel tratou dos componentes que devem integrar uma política industrial eficiente, capaz de reforçar a participação do Brasil no mercado global. “Empresas como Samsung ou Hyundai não nasceram do espírito empreendedor de um coreano, mas de uma política bem desenvolvida e articulada entre governo e iniciativa privada”, afirmou Paulo Gala, ao defender que uma política industrial eficiente deve ter uma meta clara, com um espaço de tempo bem definido e a missão objetiva de conquistar mercados internacionais. Para Roriz, é fundamental levar em consideração o efeito multiplicador que o setor tem sobre a economia. “A cada real produzido pela indústria, são gerados R$ 2,32 para a economia brasileira como um todo.”

EXPORTAÇÕES As medidas comerciais restritivas adotadas durante a pandemia de Covid-19 pioraram o acesso de 12,2% das exportações brasileiras a outros países. Ao todo, 238 medidas adotadas por diversos países foram prejudiciais à comercialização de produtos brasileiros e outras 130 foram positivas. Os dados foram apresentados pelo coordenador do Global Trade Alert, Simon Evenett, durante o painel Inserção Internacional como Estratégia para a Retomada da Indústria Brasileira. “Com as medidas implementadas ao redor do mundo, 2,4% das exportações de bens tiveram seu acesso ao mercado melhorado. Mas 12,2% enfrentaram situações mais difíceis”, afirmou Evenett. Para ele, esse cenário evidencia a importância de se reduzir o custo Brasil e aumentar a competitividade dos produtos nacionais para que eles superem a desvantagem criada pelas medidas protecionistas de outros mercados.

As discussões, evidentemente, não se limitaram às demandas do setor junto ao governo brasileiro ou à superação de desafios originários de outros países. O painel Redefinindo o Supply Chain tratou da integração dos pequenos negócios à cadeia de valor das médias e grandes empresas. Um processo que pode gerar novos negócios, mas exige qualificação. “As pequenas empresas precisam adquirir novas competências, como processos e tecnologias, para conseguir ingressar nessas cadeias”, afirmou o gerente da Unidade de Competitividade do Sebrae Nacional, Cesar Rissete. João Pedro Branco, partner na McKinsey & Company, ressaltou o ganho que as empresas de diferentes portes têm ao integrar suas cadeias de produção. Rissete destacou três pontos: a compreensão do modelo de abastecimento; a melhoria dos processos de gestão e planejamento; e a eficácia dos processos produtivos.

O encontro foi encerrado com um debate sobre os desafios trazidos pela quarta revolução industrial, a chamada indústria 4.0. Os altos custos para implantação desse novo modelo de produção foi apontado como a principal causa do atraso brasileiro. Mas há também aspectos de cunho educacional e cultural que tornam-se entraves para o setor vencer esse desafio. Durante o debate foram apresentadas algumas iniciativas bem sucedidas como o programa Rota 2030, que promove o fomento à pesquisa e à inovação com contrapartida tributária.

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