Desde que o executivo Paulo Leme anunciou, no fim do ano passado, que deixaria a presidência do Goldman Sachs no Brasil, o nome de Maria Silvia Bastos Marques aparecia como o preferido nas listas de apostas para ocupar a vaga de CEO. No início, o banco americano, fundado em 1869 em Nova York, mas que só desembarcou no Brasil em 1995, tentou despistar sobre o processo de escolha do substituto de Leme. Mas o mistério não durou muito tempo: dois meses antes de ser oficialmente empossada, Maria Silvia foi confirmada como presidente da instituição financeira no País. “A Maria Silvia ficará focada em ajudar o nosso negócio no Brasil a crescer”, afirmou, em comunicado oficial, Ram Sundaram, coresponsável pela América Latina, ao lado de Gonzalo Garcia. “Estamos confiantes de que ela levará adiante o que começamos a construir durante todos esses últimos anos de serviço excepcional para nossos clientes. A contratação reforça o comprometimento do Goldman Sachs com o País e com a América Latina.”

A verdade, porém, é que Maria Silvia precisará mexer na filial brasileira e dar a ela alguma importância nos negócios globais. Nos últimos anos, o banco de investimentos encolheu no País. Com patrimônio líquido de R$ 1,4 bilhão, a operação é deficitária. Até maio do ano passado, o prejuízo era de R$ 1,1 milhão (veja quadro na pág. ao lado). Desde 2012, o banco de investimento participou de 13 ofertas iniciais de ações na B3, entre elas as do Carrefour, da Via Varejo e do BTG.

Na área de fusões e aquisições, por exemplo, onde o Goldman Sachs é muito forte globalmente, a última grande transação ocorreu em 2016, com a venda do HSBC para o Bradesco. No ano passado, a instituição financeira ocupava apenas a 11ª posição no ranking da Anbima com menos de R$ 1 bilhão do volume total de transações, no final do primeiro semestre (dado mais recente disponível). Agora, seu trabalho mais importante é a assessoria à rede varejista americana Walmart, que procura um sócio para sua operação no Brasil.

Eu quero ser grande?: a operação do Goldman Sachs é deficitária e encolheu nos últimos anos.
A nova presidente chega para virar essa página (foto acima) (Crédito:Divulgação/Goldman Sachs)

Embora a capacidade de gestão de Maria Silvia não esteja em jogo, é preciso entender qual executiva assume o Goldman Sachs: aquela que ficou conhecida como a dama de aço, por comandar com pulso firme a Companhia Siderúrgica Nacional e enfrentar os desmandos do acionista Benjamin Steinbruch, ou a que sucumbiu nas duas últimas missões? No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ela assumiu em junho de 2016 para acabar com os privilégios aos campeões nacionais. Montou uma equipe técnica e começou a reestruturar o banco. Mas, antes de completar 12 meses na presidência, alegou “razões pessoais” para se demitir.

Nos bastidores, dizem que Maria Silvia estava sob forte pressão para ajudar grandes empresas em dificuldade de crédito. Além disso, funcionários de carreira enxergavam uma caça às bruxas nas investigações sobre privilégios aos empréstimos no período do ex-presidente Luciano Coutinho. Caso semelhante aconteceu na Empresa Olímpica Municipal, responsável pelos Jogos Olímpicos de 2016. Maria Silvia pediu demissão, em 2014, após uma visita do Comitê Olímpico Internacional, que pediu mudanças e celeridade nas obras.

Ainda não se sabe qual será o papel de Maria Silvia dentro do Goldman Sachs. Nos últimos anos, Leme ocupou a presidência como um reconhecimento à carreira de mais de 20 anos dentro do banco. Ele assumiu o cargo em setembro de 2014, quando o mexicano Alejandro Vollbrechthausen foi enviado de volta a Nova York. O estrangeiro não havia conseguido gerar o resultado esperado pela matriz e nem ampliar as relações institucionais com o governo. Leme assumiu para conduzir um processo de transição, tanto do Brasil, que vivia a turbulência pré-impeachment, como do Goldman.

Nesse período, manteve-se reservado. Numas das poucas aparições públicas, no ano passado, em evento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), disse esperar que as reformas continuassem em andamento no Congresso, embora sua grande preocupação fosse com a profundidade das medidas. Em abril, ele passa a cadeira para Maria Silvia, com a economia brasileira em recuperação e uma perspectiva melhor para qualquer banco de investimento. É a hora de a dama de aço voltar ao jogo.