Um dos principais alvos dos ataques feitos por hackers, o procurador da República Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, ainda não entregou seu celular para perícia da Polícia Federal (PF), segundo disseram duas fontes a par da investigação ao jornal O Estado de S. Paulo. O inquérito para apurar a invasão foi aberto há um mês, mas até agora os investigadores não tiveram como analisar o aparelho.

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, e a juíza federal Gabriela Hardt, que sucedeu Moro na 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, já enviaram seus aparelhos. Os inquéritos para apurar os ataques aos dois foram abertos na semana passada.

As apurações ainda são iniciais, mas até agora os peritos acreditam que as mensagens que vieram a público foram retiradas do celular do Dallagnol. A verificação feita até o momento no aparelho de Moro não indicou extração de informações.

O Estado apurou que outros procuradores também não enviaram seus aparelhos de celular para a PF, o que não dificulta o trabalho para identificar o autor dos ataques, uma vez que as informações estão armazenadas na nuvem. Além dos procuradores e juízes, três delegados da PF de São Paulo foram alvo. Um inquérito já foi instaurado.

A assessoria de imprensa do Ministério Público Federal (MPF) afirmou que Dallagnol não irá comentar, já que “se trata de questão de segurança” e o caso é “alvo de inquérito da PF”. A assessoria de Moro confirmou o envio do celular e disse que ele ainda não foi devolvido. A reportagem não conseguiu localizar Gabriela Hardt. A PF não comentou.

Preocupação

Desde o mês passado, quando os primeiros ataques foram identificados, a Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu ao menos cinco alertas com instruções de segurança aos procuradores de todo o País.

O primeiro foi feito no dia 8 de maio. Na ocasião, a Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (STIC) produziu uma cartilha com medidas a serem adotadas para evitar fraudes, como manter os sistemas operacionais dos celulares sempre atualizados.

Cinco dias depois, foi feito um reforço nesse alerta, com orientação específica para que os procuradores habilitassem a verificação em duas etapas nos aplicativos de mensagens, que monitorassem onde as sessões de uso dos aplicativos estavam ativas e que não realizassem backups das conversas.

Na ocasião, a PGR avisou ainda que “ataques são mais comuns do que se imagina” e pediu que os procuradores dessem preferência ao uso do aplicativo eSpace, lançado pela PGR em dezembro do ano passado justamente para aumentar a segurança das comunicações do Ministério Público Federal.

O aplicativo próprio, que pode ser usado em celulares e no desktops dos procuradores, ainda não pegou, diz um procurador ouvido pelo jornal. Além de ser uma ferramenta recente, o uso do Telegram estava popularizado entre os procuradores, já que era considerado mais seguro que o WhatsApp.

Preocupada com novas notícias de invasões a celulares, a PGR emitiu um terceiro alerta no dia 17 de maio. Nele, anunciava que ataques estavam ocorrendo e ampliava o escopo das orientações de segurança.

Uma delas era a de não apagar as contas de WhatsApp e Telegram, já que o hacker poderia recriá-las, ativar a dupla verificação e utilizar a conta em nome da vítima. Se isso ocorresse, não seria possível recuperar a conta.

Quatro dias depois, a PGR emitiu um comunicado, indicando que uma “provável vulnerabilidade” dos aplicativos permitiriam o “sequestro” de mensagens de SMS e o “redirecionamento” de ligações telefônicas. O último alerta foi feito no dia 4 de junho, reiterando todas as recomendações anteriores.

Nesta semana, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou a unificação da investigação sobre os ataques a integrantes do Ministério Público. A PGR informou que não foi identificado o comprometimento a nenhum sistema, infraestrutura ou ferramentas usadas pelo MPF. Os ataques focaram no sequestro de contas de aplicativos de mensagens. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.