Povos indígenas que patrulham a Amazônia peruana equipados com smartphones e dados de satélite conseguiram reduzir drasticamente o desmatamento ilegal, de acordo com os resultados de um experimento publicado nesta segunda-feira (12).

O estudo, que saiu na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), mostrou que reconhecer os direitos dos povos indígenas ao seu território pode ser uma força poderosa contra a crise climática, afirmaram os autores.

Os especialistas avaliaram o impacto das patrulhas de monitoramento das comunidades florestais indígenas na redução do desmatamento quando equipadas com alertas baseados em satélites.

Assim, foi encontrada uma queda de 52% no desmatamento em 2018 e uma diminuição de 21% em 2019 nas aldeias que receberam equipamentos e treinamento, em comparação com aquelas que não receberam, numa distribuição aleatória.

Essa redução na perda de florestas concentrou-se principalmente nas comunidades que enfrentam as ameaças mais imediatas derivadas da extração ilegal de ouro, o corte ilegal de árvores nativas e o cultivo de plantas ilícitas como a folha de coca, que é usada para produzir cocaína.

Embora os governos nacionais tenham investido muito no monitoramento por satélite, o empoderamento dos povos indígenas reduz a dependência da aplicação da lei pelas forças locais.

Além disso, os alertas de desmatamento raramente chegam às comunidades da floresta tropical, que carecem de acesso confiável à internet, o que deixa os habitantes locais vulneráveis aos invasores que exploram suas terras.

– Nas mãos dos locais –

O novo estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Nova York e da Universidade Johns Hopkins em colaboração com a Rainforest Foundation US (RFUS) e a Organização dos Povos Indígenas da Amazônia Oriental (ORPIO).

“O objetivo é colocar as informações sobre o desmatamento nas mãos dos mais afetados por suas consequências e quem pode tomar medidas para contê-lo”, explicou Tom Bewick, diretor da RFUS no Peru.

O estudo foi realizado nas comunidades indígenas Shipibo de Patria Nueva e Nueva Saposoa, na Amazônia peruana, com fotos proporcionadas pelo Peru SAT-1, um satélite lançado em 2016 que sobrevoa o país 14 vezes por dia.

Trinta e seis aldeias foram designadas aleatoriamente para a intervenção, cada uma identificando três representantes que deveriam conduzir patrulhas mensais para verificar os relatórios de desmatamento. Eles receberam 8 dólares por cada patrulha.

Como grupo de controle, foram escolhidas 37 aldeias para manter suas práticas habituais de manejo florestal.

Uma vez por mês, mensageiros navegavam pelo rio Amazonas e seus afluentes para entregar drives USB contendo fotos de satélite e informações de GPS a aldeias remotas.

Os monitores designados baixavam essas informações em aplicativos especializados de smartphone, que usavam para guiar suas patrulhas na região.

Quando encontravam desmatamento não autorizado por estranhos, que extraíam madeira ou removiam terras para mineração ou plantio de coca, eles apresentavam as evidências a uma assembleia de membros da comunidade para consideração.

Eles então decidiam como lidar com a situação, seja expulsando os invasores que infringiam a lei em suas terras ou entrando em contato com a polícia em alguns casos, como quando estavam envolvidos traficantes de drogas.

Durante o estudo de dois anos, as comunidades que realizaram patrulhas usando dados de satélite evitaram a destruição de aproximadamente 456 hectares de floresta tropical, o que impediu a liberação de mais de 234 mil toneladas métricas de emissões de CO2.

Um terço da floresta amazônica se encontra dentro de cerca de 3.344 territórios indígenas formalmente reconhecidos.

“As descobertas constituem um forte caso para aumentar o investimento e escalar o modelo”, disse Bewick. “Seria bom para o futuro: não só para o Peru, mas para o nosso planeta”, frisou.