Do fundo do Oceano Atlântico, uma nova conexão vai potencializar os estudos de fenômenos cósmicos a milhares de quilômetros de distância da Terra. Esse é um dos muitos resultados previstos para a rede EllaLink. Trata-se de um cabo com quatro pares de fibra óptica ligando diretamente o Brasil e a Europa. Inaugurado semana passada, quando também começou sua operação comercial, o cabo tem suas ancoragens nas cidades de Fortaleza (Ceará) e Sines (Portugal). São 6,2 mil quilômetros de fio submerso no Atlântico, com seu ponto mais profundo a 4 mil metros debaixo d’água. A estrutura também contém sensores para avaliação das condições do solo oceânico em tempo real. Conectado a computadores na superfície terrestre, o sistema gera desenvolvimento de pesquisas do céu, do mar e da terra. “Estamos orgulhosos por liderar o caminho para uma nova era em que os sistemas de cabos submarinos apoiam o avanço científico”, afirmou Philippe Dumont, CEO do Grupo EllaLink.

O cabo demorou dez anos para ser concretizado, em uma verdadeira operação de guerra. Foram investidos 150 milhões de euros — quase R$ 1 bilhão. O principal investidor é o Marguerite II, fundo de ações pan-europeu que atua nos setores de energias renováveis, energia, transportes e infraestrutura digital. A expectativa é de que atenda demandas de tráfego de dados em alta velocidade — até 100 terabits por segundo — pelos próximos 25 anos.

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A redução da latência em 50% (calculada em 60 millisegundos) é um dos trunfos da EllaLink para conquistar clientes. Hoje, as conexões da Europa passam pela América do Norte antes de chegar à América do Sul. O cabo inaugura uma rota de alta velocidade direta. “Latência é a nova moeda de nosso mundo digitalizado”, disse Ivo Ivanov, CEO da DE-CIX International, operadora de interconexão de redes entre provedores de internet, que firmou parceria com a EllaLink. “Cada milissegundo conta quando se trata de aplicações críticas para diferentes setores.”

A Rede Nacional de Pesquisa (RNP), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, faz parte do consórcio Bella, que une uma rede de pesquisas europeia (Gèant) e latino-americana (RedeClara). O grupo investiu 25 milhões de euros no cabo — sendo 7,5 milhões de euros apenas da RNP —, principalmente para transmissão de dados do Cherenkov Telescope Array (CTA), maior e mais sensível observatório terrestre do mundo para astronomia de raios gama em energias muito altas. O CTA tem mais de 100 telescópios em dois observatórios nos hemisférios Norte (Espanha) e Sul (Chile). Uma conexão terrestre atravessa Chile, Argentina e Brasil para alcançar a Praia do Futuro, em Fortaleza. A partir da capital cearense, usará o cabo submarino EllaLink para enviar informações pesadas à rede acadêmica europeia.

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“Estamos orgulhosos por liderar o camiho para uma nova era em que os sistemas de cabos submarinos apoiam este avanço científico” Philippe Dumont CEO do Ellalink

No fundo do mar, a exploração de dados oceânicos será pela EllaLink GeoLab, parceria entre a EllaLink e a Emacom-Telecomunicações da Madeira. Sensor acústico distribuído pela fibra recolherá dados ao longo do trajeto do cabo submarino, que serão depois transmitidos para a costa. Contribuirá com pesquisas nas áreas de sismologia, vulcanologia e ecologia marinha, entre outras.

OUTROS FOCOS A contribuição em pesquisa e desenvolvimento é apenas uma das possibilidades do cabo EllaLink. Os principais focos para o aproveitamento da alta capcidade de tráfego de dados são as companhias de telecomunicações, que atendem empresas e pessoas físicas, e as OTTs (Over The Top), plataformas de distribuição de conteúdos pela internet sob demanda. Mas já existe interesse de pequenos e médios clientes que visam acessar diretamente o EllaLink, segundo o CEO Philippe Dumont. “O conteúdo vai ficar cada vez mais próximo de onde ele é usado”, afirmou.

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Na prática, a redução da latência em milésimos de segundos, principal carta na manga do EllaLink, pode resultar na compra de ações mais baratas no ramo financeiro, dar (ou levar) um tiro em um game no e-sports ou fazer uma cirurgia remota com mais precisão na área médica. São inúmeras possibilidades. Seja no céu, no mar ou na terra, as conexões rápidas e seguras são fundamentais neste mundo hiperconectado.