Durante quase 40 anos, o slogan da Semp Toshiba foi: “os nossos japoneses são mais criativos do que os japoneses dos outros.” A criatividade emprestada ajudou a empresa a crescer no mercado de TVs, mas falhou com os celulares, ao ponto da operação ser abandonada. Agora, a nova joint-venture da Semp, firmada em agosto de 2016 com a chinesa TCL, pretende mudar esse cenário. O primeiro passo foi dado na primeira semana de abril, com a compra da subsidiária brasileira da Alcatel, revelada com exclusividade pela coluna MOEDA FORTE, de Carlos Sambrana.

Na operação, a Semp TCL também adquiriu o direito de uso da marca Alcatel no Brasil, que já havia sido licenciada pelos chineses até 2024. A próxima etapa é o lançamento de uma linha de celulares da marca TCL e a tentativa de uma ressurreição da BlackBerry no País. “Nossa ideia inicial era apenas substituir a Toshiba no mercado de televisores, que sempre foi o nosso forte”, diz Ricardo Freitas, presidente da Semp TCL. “Com o tempo, vimos que a entrada nos celulares era um passo natural.”

Nesta primeira etapa, os brasileiros vão ter que esperar um pouco pela marca BlackBerry, a mais famosa do portfólio da Semp TCL. Ela deve chegar ao mercado somente em 2019. “Planejamos iniciar a operação no fim do ano”, diz Freitas. A grande novidade deverá ser o aparelho Luna. O modelo, que traz o característico teclado físico da marca, ainda está em desenvolvimento e tem previsão de lançamento para o primeiro trimestre do ano que vem. A batalha imediata da Semp TCL está em duas apostas: os mercados de smartphones de entrada e intermediário.

Alcatel e Blackberry: comandada por Fernando Pezzotti, a Alcatel vai vender celulares por até R$ 700. Os smartphones da BlackBerry, por sua vez, chegam ao País em 2019 e serão a linha corporativa de celulares da Semp TCL (Crédito:Gabriel Reis | Divulgação )

O primeiro, com preços até R$ 699, representou 22% dos 47,7 milhões de aparelhos vendidos no Brasil em 2017, segundo dados da consultoria IDC. Nesse nicho, os celulares virão com a marca Alcatel, que terá mudanças em sua operação. Uma delas, de endereço. “Eles trabalhavam com uma fábrica alugada em Manaus”, diz Freitas. “Nós temos uma com espaço ocioso que fica a cinco minutos de distância.” Outra alteração será a ampliação dos pontos de venda. “Fechamos 2017 com 10 mil pontos de venda. Em 2018, esperamos que esse número cresça 50%”, afirma Fernando Pezzotti, presidente da Alcatel Brasil, que ficará à frente da operação, agora como uma unidade da Semp TCL.

Já nos smartphones intermediários, a bola da vez é a criação de uma linha própria com a marca TCL. Os produtos vão custar até R$ 1.500 e têm previsão para chegarem ao mercado brasileiro no segundo semestre de 2018. A categoria também é promissora. Em 2017, ela foi responsável por 20% das vendas totais de celulares inteligentes no País, percentual que equivale a 9,7 milhões de dispositivos. “A venda de aparelhos intermediários premium (entre R$ 1.100 e R$ 1.999) deverá ganhar tração neste ano”, diz Leonardo Munin, analista da IDC. “O usuário que já teve uma primeira impressão com um celular de entrada tende a gastar mais na próxima compra.”

Nos dois segmentos, a Semp TCL terá uma disputa acirrada pela frente. “Eles vão brigar com marcas menores”, afirma Ivair Rodrigues, diretor de pesquisa da IT Data. “A barreira de entrada para uma nova marca no País é muito alta. A Asus, por exemplo, tem uma marca conhecida e ainda está longe das líderes.” Além da fabricante taiwanesa, a disputa também inclui empresas brasileiras. “A Alcatel é uma das nossas concorrentes”, diz Renato Feder, CEO da Multilaser. “Nos aparelhos de entrada, ela é a nossa principal rival.”

Mas o obstáculo não virá somente dos concorrentes diretos. O mercado brasileiro de smartphones fechou o ano passado com 85% de suas vendas concentradas entre quatro grandes fabricantes mundiais: Samsung, Motorola, LG e Apple. Segundo apurou DINHEIRO, esse percentual já está em 89%. Ou seja, a concentração está aumentando, dificultando bastante a vida dos fabricantes menores. É um cenário bastante diferente de 2016, quando a Alcatel era a quarta maior fabricante de aparelhos do País, com 5,5% das vendas totais, segundo a consultoria americana Counterpoint Research. Sinal de dificuldade para a Semp TCL, que dessa vez terá que contar com muito mais do que a criatividade asiática para conquistar o mercado.