Os partidos políticos alemães se propuseram a formar uma coalizão governamental “antes do Natal”, depois das eleições legislativas de domingo, que produziram resultados bastante equilibrados.

Um governo tripartido liderado pelos social-democratas (SPD), que terminaram em primeiro, ou pelos democratas-cristãos (CDU), em colaboração com os Verdes e os Liberais do FDP seriam as opções mais prováveis.

Mas cada uma das partes enfrenta “desafios programáticos bastante fortes, que vão apresentar problemas”, alerta Paul Maurice, pesquisador do Comitê de Estudos Franco-Alemães do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).

“O maior obstáculo será a incompatibilidade dos programas” dos Verdes e do FDP, prevê.

A seguir, os temas que provavelmente estarão no centro das discussões:

– Orçamento e dívida –

A questão orçamentária será um dos principais obstáculos.

O FDP é um forte defensor da ortodoxia orçamentária. O partido é totalmente hostil à modificação da regra constitucional de freio do endividamento, que impede o Estado de tomar emprestado mais de 0,35% do PIB a cada ano.

Posição que a CDU também defende.

Os Verdes e, em menor medida, o SPD, pelo contrário, estão prontos para mais flexibilidade.

Os ambientalistas querem tirar esse freio para financiar os investimentos caros que a transição verde exige.

A única esperança de se chegar a um acordo viria do “desejo” do FDP de entrar no governo para atuar como “corretivo” e impedir que as propostas mais progressistas dos Verdes e do SPD sejam implementadas, considera Paul Maurice.

– Políticas sociais e impostos –

O SPD fez do aumento do salário mínimo e das pensões uma de suas promessas. Olaf Scholz, o atual ministro das Finanças, está sob grande pressão da ala esquerda de seu partido.

Para reduzir as desigualdades, o partido defende igualmente o aumento dos impostos para os mais ricos e quer reformar o imposto sobre a herança, que deixa de fora boa parte das transferências das empresas familiares, a espinha dorsal da economia alemã.

Um objetivo compartilhado pelos Verdes.

Mas isso é algo difícil para o FDP aceitar, que defende cortes de impostos para a economia e as famílias.

“Impostos, política social, papel do Estado e do mercado: o FDP e os Verdes ainda não estão unidos nessas questões”, listou o co-líder verde Robert Habeck.

Os social-democratas, com base nos seus resultados eleitorais, poderão “impor estas questões” aos seus futuros parceiros de coalizão, mas terão de fazer “alterações em benefício do FDP”, estima por sua vez o investigador.

– Política externa –

Os Verdes se manifestaram claramente contra o gasoduto Nord Stream 2, que conecta a Alemanha com a Rússia, enquanto o SPD apoiou o projeto.

O gasoduto já está terminado, mas ainda não entrou em funcionamento e a candidata verde reafirmou em campanha eleitoral que é contra a sua exploração, acusando os social-democratas e conservadores de terem “prestado um péssimo serviço à Alemanha” ao apoiar “um projeto que só beneficia [o presidente russo, Vladimir] Putin”.

Além da firmeza para com a Rússia, os Verdes também defendem uma atitude mais intransigente para com a China, enquanto as outras partes promovem o diálogo com este parceiro comercial essencial para a Alemanha.

Por outro lado, o partido ambientalista se opôs fortemente à compra de drones de combate para o Exército alemão, enquanto o SPD pede um “debate profundo” sobre o assunto.

O FDP, por outro lado, é favorável a essa compra, como a CDU/CSU.

– Clima –

Acelerar a transição energética está no centro da agenda dos Verdes.

O partido ambientalista quer antecipar o prazo para a Alemanha deixar de usar usinas a carvão de 2038 a 2030.

Muitos dos liberais do FDP são céticos em relação a essa medida, que favorece a competitividade da indústria alemã e a inovação.

Os liberais pedem a neutralidade do carbono até 2050, ou seja, cinco anos depois do planejado.

Os Verdes, por outro lado, também querem adiantar esse prazo, para 2040.

No entanto, o partido liberal afirmou que seguirá as orientações da União Europeia (UE) se as suas instâncias “decidirem algo diferente” que também abre a “porta a um compromisso”, ao deslocar o debate para o nível europeu, aponta Paulo Maurice.