Paulo Guedes chegou ao governo atacando a política. Em 17 meses, pegou o pior dos políticos. A falácia. Mas pelo menos um mérito ele tem. A persistênca, já que não desiste da ideia de ser o bastião que irá sustentar a moral do governo para as próximas eleições. Para isso prepara um pacotaço de concessões e privatizações que servirá de boia para segurar a perda de popularidade em velocidade pandêmica. “A economia brasileira está emergindo com a pauta das privatizações e reformas estruturantes”, afirmou o ministro, em encontro com um grupo de cerca 40 executivas em São Paulo na última semana. O problema entre o que ele fala e a realidade é que as reformas estão travadas e sem menor cheiro de andar no Congresso. Assim como a tal pauta de privatizações. O máximo nesse sentido foi a agenda de leilões do Ministério da Infraestrutura.

No mesmo encontro com as executivas, o ministro afirmou que a economia brasileira caiu criando empregos. “Inédito. Somos a única economia do mundo que caiu criando empregos” De novo o que ele diz e a realidade não se encontraram ainda. Pelo PNAD, a taxa de desocupação do trimestre encerrado em fevereiro, último número disponível, bateu em 14,4%. Talvez ele prefira olhar para os dados do Caged, que gira em 13%, mas envolve empregos temporários e é questionado por especialista sobre a veracidade.

SONHO MEU Fora o otimismo inerente ao cargo, o fato é que o pacote de privatizações teria de potencial de captar bilhões e reconquistar o eleitor que acreditou na redução do inchaço estatal durante a campanha da última eleição. Na visão de Guedes, a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) é um abre-alas para atrair investimento da iniciativa privada e desestatizar parte da máquina sob controle da União, a começar pelos Correios e Eletrobras, holding que controla as estatais federais de energia elétrica. “Isso [as privatizações] vai fazer o País disparar”, disse.

De novo a realidade e seu discurso vivem em continentes distintos. Pelas contas do governo, a privatização da Eletrobras poderia gerar R$ 100 bilhões. A projeção considera a soma do valor da outorga, a fatia da União na companhia e a venda de ações no mercado secundário. No entanto, o sinal verde para o leilão ainda depende da Câmara e do Senado, em votações por maioria simples. Mas não há o menor indício de que a galinha de ouro de empregos e poder da Eletrobras saia da asa pública. Nem Congresso, nem alguns dos colegas ministros de Guedes e nem seu chefe querem.

Claro que o mercado anseia por isso. Foi promessa de campanha, aliás. Para Marcos Ganut, diretor da consultoria Alvarez & Marsal e especialista da área de infraestrutura e investimentos de capitais, o ambiente atual é propício para o pacote de privatizações, já que há a desvalorização do real tornou ativos brasileiros atraentes aos investidores estrangeiros e o Brasil tem se beneficiado com um “superciclo vigoroso” de demanda global. “As exportações recordes de commodities agrícolas e minérios, que vai durar pelo menos mais uns dois anos, impulsionar os investimentos em infraestrutura de transporte”, afirmou Ganut.

Entre esses ativos a serem privatizados há até cartões postais. Na primeira fase do plano, batizado de Praias do Brasil, a concessão será oferecida em Angra dos Reis (RJ), Maragogi (AL), Cairu (BA), praias da região de Florianópolis (SC) e o Forte do Morro de São Paulo, na Bahia. Na avaliação do economista Elimar Nascimento, cofundador do Laboratório de Estudos de Turismo Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), as iniciativas de atração de investimento ao setor serão muito positivas. Seria bom saber se desta vez o plano de Paulo Guedes será bem-sucedido ou apenas mais um apresentação de slide no PowerPoint.