Os Estados Unidos têm a responsabilidade moral de pressionar Ancara para frear a ofensiva turca no enclave curdo de Afrin, afirmou nesta terça-feira (23) em Washington a representante desta região do norte da Síria.

A Turquia lançou no sábado uma ofensiva aérea e terrestre neste reduto da Unidades de Proteção do Povo (YPG), uma milícia curda qualificada de “terrorista” por Ancara, mas apoiada por Washington.

“Para nós, os Estados Unidos têm a obrigação moral de proteger a democracia e o sistema democrático nesta região”, disse à imprensa Sinam Mohamed, representante da federação curda síria (Rojava).

A Turquia faz parte da Otan e os Estados Unidos devem pressionar seu aliado para frear esta ofensiva que já deixou muitas vítimas civis, acrescentou.

Mas as relações entre Ancara e Washington pioraram fortemente nos últimos meses.

O presidente americano, Donald Trump, expressará a seu contraparte turco, Recep Tayyip Erdogan, sua preocupação com esta ofensiva durante uma conversa por telefone que manterão na quarta-feira, anunciaram funcionários de alto escalão do país americano.

Washington já pediu a Ancara que aja com “moderação”, enquanto reconhecia “o direito legítimo” da Turquia de “se proteger”.

Ancara acusa as YPG de serem o braço sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que promovem uma guerrilha em solo turco desde 1984.

Para os governantes locais dessa região fronteiriça com a Turquia, a federação é uma experiência democrática que poderia servir de exemplo ao resto da Síria quando o país superar a guerra civil desatada em 2011.

As YPG “não dispararam uma só bala” na direção da Turquia em Afrin, assegurou Mohamed, para quem o PKK é um problema interno da Turquia.

Ancara lançou sua ofensiva depois que a coalizão internacional anti-extremista conduzida por Washington anunciou a criação de uma “força fronteiriça” de 30 mil homens integrada, entre outros, pelos combatentes curdos, o que suscitou a ira das autoridades turcas.

As YPG são a coluna vertebral de uma aliança entre curdos e árabes apoiada por Washington na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico na Síria.

Mas em Afrin os curdos não contam com o respaldo americano e devem combater as forças turcas e seus aliados árabes sírios.