O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participará nesta quinta-feira (25), por videoconferência, de uma cúpula europeia centrada nos problemas de abastecimento de vacinas no bloco, em um gesto claro de que as relações transatlânticas entraram em uma nova fase.

Os líderes dos 27 países da UE iniciaram a reunião por videoconferência para analisar as dificuldades das campanhas de vacinação, os problemas com as entregas do laboratório AstraZeneca e as restrições aos cidadãos do bloco para conter a pandemia.

“Acelerar a produção, entrega e distribuição de vacinas é essencial e urgente para superar a crise. Os esforços nesse sentido devem ser intensificados”, afirmam os líderes europeus em um rascunho das conclusões consultado pela AFP.

A situação geral provocada pela pandemia levou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a decidir que esta cúpula se realizasse virtualmente.

A participação de Biden na reunião traz uma espécie de ar fresco para a UE, após as enormes tensões nas relações transatlânticas durante a gestão de Donald Trump.

O contato deverá ser breve, mas representa a reabertura do canal de diálogo com um aliado essencial da UE e o primeiro passo para a retomada da cooperação.

O último presidente dos Estados Unidos a participar de uma cúpula europeia foi Barack Obama, em 2009.

Fontes da Casa Branca disseram que a mensagem de Biden será curta, embora o gesto represente o primeiro passo na tentativa de reconstruir as relações após as tensões dos últimos anos.

– Controle sobre as vacinas –

Os líderes da UE deverão se concentrar em uma questão urgente: a marcha lenta das campanhas de vacinação em todo bloco.

A Comissão Europeia reforçou drasticamente o sistema de controle das exportações de vacinas produzidas em seu território para países fora do bloco, na tentativa de resolver um problema evidente.

Esta decisão provocou uma irritação do Reino Unido, principal país destinatário das vacinas produzidas na UE e exportadas pelos próprios laboratórios.

O dispositivo permite à Comissão e aos países do bloco proibir exportações de vacinas para países que produzem doses, mas que bloqueiam os envios para a UE.

As exportações para países, cujas populações já estão amplamente vacinadas, ou que vivem uma melhor situação epidemiológica, também poderiam ser bloqueadas.

A iniciativa gerou posições conflitantes dentro da UE.

Alguns países, como a França, defendem o mecanismo de controle, alegando que ele permite à Europa “defender seus interesses”.

O presidente francês, Emmanuel Macron, fez uma crítica sutil à UE, ao elogiar a estratégia dos EUA: “Eles têm sido mais ambiciosos do que nós”, comentou.

Outros países, como a Irlanda, opõem-se a qualquer “bloqueio” na exportação de doses, e a Bélgica, que funciona como centro de distribuição, expressou preocupação com os efeitos nas cadeias de abastecimento.

A chefe de governo da Alemanha, Angela Merkel, disse aos legisladores que a decisão de centralizar as compras de vacinas na Comissão Europeia foi acertada.

“Não gostaria de imaginar o que aconteceria, se alguns países [do bloco] tivessem vacinas, e outros, não. Isso abalaria nosso mercado interno até a raiz”, comentou.

Até agora, a UE aprovou o uso das vacinas desenvolvidas pela Pfizer/BioNTech, Moderna, AstraZeneca e Johnson & Johnson.

A AstraZeneca está no centro de uma controvérsia sobre seus atrasos na produção e entrega, além das suspeitas da UE de que usa vacinas produzidas em solo europeu para enviá-las para o Reino Unido.

Os dirigentes também vão discutir a proposta do passe verde de saúde, um certificado de vacinação, com o qual se espera reativar o turismo, fonte de renda essencial para muitos países do bloco.

Na segunda etapa da cúpula, os líderes da UE irão se concentrar em questões internacionais, em particular nas relações com a Turquia, outro aliado fundamental da UE e membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), com quem as tensões recentes geraram enorme preocupação.

Bruxelas e Ancara procuram melhorar as relações, embora a UE não esconda sua preocupação com a situação do Estado de direito na Turquia.