Em um claro sinal da retomada da economia do setor industrial brasileiro, após o enorme tombo no segundo trimestre, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) conseguiu reverter prejuízo de R$ 871 milhões, registrado no terceiro trimestre de 2019, para lucro líquido de R$ 1,27 bilhão no período de julho a setembro deste ano, motivado principalmente pelo aumento de 27% na venda de aço no terceiro trimestre em relação ao segundo deste ano, quando foram comercializadas 1,28 milhão de toneladas, ante 1 milhão no segundo trimestre. “Preparamos a companhia para uma guerra e trouxemos ao máximo a competitividade. E os resultados apareceram”, disse Benjamin Steinbruch, presidente do Conselho de Administração da CSN, durante a apresentação do resultado do terceiro trimestre aos investidores.

O destaque no período foi o aumento na venda para o segmento automotivo, com alta de 165%, e da linha branca, com 108%. O resultado de mais volume comercializado refletiu no Ebitda, com R$ 3,5 bilhões, 124% superior ao terceiro trimestre do ano passado. Somente no mercado interno, a produção de aço cresceu mais de 50% do segundo para o terceiro trimestre, com 924 mil toneladas, ante 615 mil toneladas produzidos no trimestre mais atingido pela crise a partir da pandemia. A receita líquida do período alcançou R$ 8,7 bilhões, 40% acima do registrado no segundo trimestre deste ano. A siderúrgica também conseguiu, entre julho e setembro, reduzir significativamente o endividamento em R$ 2,5 bilhões, alcançando R$ 30,6 bilhões, 8% a menos do que a dívida líquida do período de abril e junho deste ano. Para absorver essa demanda crescente e até surpreendente da indústria siderúrgica brasileira, o charmain da CSN anunciou, durante a conferência, o religamento do alto forno 2, na segunda quinzena de novembro, que foi desligado no dia 29 de maio, quando a siderurgia sofria o forte impacto provocado pelo isolamento social imposto pela Covid-19. “Com o retorno do forno 2, a gente começa a trabalhar full a partir do mês que vem, o que ajudará a diminuir ainda mais os custos”, disse o presidente do Conselho de Administração.

“Preparamos a companhia para uma guerra e trouxemos ao máximo a competitividade. E os resultados apareceram” Benjamin Steinbruch presidente do Conselho de Administração da CSN. (Crédito:Flavio Florido)

FORNO Entre as principais siderúrgicas do País, a CSN foi uma das últimas e a desligar o forno e, por consequência, a retomar as atividades. Segundo a companhia, o forno 2 tem capacidade anual de produção de 1,5 milhão de toneladas de ferro-gusa, matéria-prima para a produção do aço, o que representa 30% da total produzido pela CSN. O alto forno 3, que não foi interrompido, é responsável pela produção anual de 3,4 milhões de toneladas. O próprio setor vem diminuindo, nos últimos meses, as projeções negativas de produção de aço para este ano, por causa da forte reaceleração do segmento. Segundo o Instituto Aço Brasil, em abril a perspectiva era de que houvesse queda de 18,8% ao fim deste ano, em relação ao registrado em 2019. Em julho, o índice foi reavaliado para retração de 13,4%. Em setembro, nova análise, com perspectiva de queda de apenas 6,4%, levando-se em conta, evidentemente, o quanto se imaginava do tamanho do monstro logo no início do isolamento social.

A percepção dos industriais vai nesse caminho, já que o Índice de Confiança da Indústria do Aço (ICIA) registrou 85,2 em outubro, melhor resultado do ano. O fundo do poço foi abril, quando o ICIA atingiu 16,3. Para o analista de siderurgia e mineração do Itaú BBA, Daniel Sasson, mais relevante do que a reversão do prejuízo é a análise do crescimento do Ebitda no trimestre. “Isso reflete, a melhora em todas as unidades de negócios da CSN e a saúde financeira da companhia”, disse. “No quarto trimestre, ela deve manter essa recuperação da atividade, ainda que em um período historicamente mais fraco”, disse.

No mesmo momento em que a siderurgia retoma o ritmo, a CSN volta as atenções para a unidade de mineração. O volume de vendas do segmento, que representa 77% do Ebitda ajustado, também cresceu. Foram comercializados 18% a mais do que o registrado no segundo trimestre. Na produção, a alta foi de 27%. Em fato relevante publicado na segunda-feira, a companhia informou ter apresentado registro para oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês) da área de mineração na B3. Embora a empresa não revele, a perspectiva é de que o pregão ocorra até fevereiro, antes da divulgação do resultado do quarto trimestre de 2020, e que movimente R$ 10 bilhões.