O procurador da República Luiz Francisco Fernandes de Souza é uma força do mercado. Assim como as crises externas e as reuniões do Copom têm o poder de desestabilizar as bolsas, Souza, com meia dúzia de laudas de texto, já pôs o mundo das finanças mais de uma vez de pernas para o ar. Saíram de sua pena decisões explosivas como o pedido de liminar que atrasou em mais de dois meses a privatização do Banespa e o recurso que quase impediu a posse de Tereza Grossi na diretoria do Banco Central, após a ajuda aos bancos Marka e FonteCindam. Foi ele também quem fez o governo suar para vender a Vale do Rio Doce e quem assinou o pedido de prisão contra o ex-senador Luiz Estevão. O mercado enlouquece. ?Os processos atrapalham o mercado. Tanto que as ações do Banespa caíram 3,7% enquanto o Ibovespa subiu 86,3%?, diz Marcelo Bessan, sócio da KPMG. A esquerda gosta. ?Ele é um exemplo. Nunca se detém diante de ameaças?, defende o deputado federal Ricardo Berzoini, do PT. Já o governo detesta. Gilmar Mendes, advogado-geral da União, acusou veladamente Souza de contestar a venda do Banespa a pedido do senador Eduardo Suplicy.

A polêmica não o assusta. Essa cruzada particular no mundo das finanças e do poder é o que mais dá prazer ao procurador. ?O poder econômico nunca foi punido no Brasil?, afirma. ?Meu hobby é perseguir os criminosos de colarinho branco.? Souza tem um bom salário, mas vive de modo espartano. Sempre almoça no escritório e se locomove em um fusca cinza ano 1985, caindo aos pedaços. Parte do salário ele doa para entidades assistenciais. Os hábitos franciscanos vêm dos tempos em que sonhava em ser padre. Souza freqüentou um seminário em Cascavel, no Paraná, onde trabalhava junto a bóias-frias. O sonho acabou quando foi atropelado e passou dois meses internado. O motorista que o atingiu levou bananas para ele no hospital. ?Não o processei. Era uma pessoa simples e não teve intenção?, diz.

Para dar corpo a sua campanha messiânica, ele trabalha 12 a 13 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. Mas o melhor , diz, são as férias. ?É quando tenho mais sossego e posso me dedicar aos casos mais complexos?, diz o procurador, que não tira férias há sete anos. Sousa gostaria de ter mais gente como ele ao seu lado. ?Deveriam criar delegacias especializadas em operações financeiras. É a lavagem de dinheiro que faz o crime valer a pena?, diz.
O setor financeiro e seu regulador, o BC, são os alvos preferidos. ?Algumas instituições que já deveriam estar fechadas ainda estão operando e, quando quebrarem, vão lesar milhares de pessoas. A fiscalização do BC deveria ser punida?, protesta. Souza se diz social-democrata, mas tem um discurso mais à esquerda. Ambições políticas? ?Jamais deixarei de ser procurador. Mas quando me aposentar, quem sabe??