Depois de ter adiado em uma semana a divulgação dos dados da Pesquisa nacional por Amostra de Domicílios Contínua referente a junho, divulgada enfim nesta quinta-feira, 6, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou uma mudança completa no cronograma de divulgações até o fim deste ano, abrangendo até a divulgação referente a novembro.

No novo calendário de divulgações da Pnad Contínua, há adiamentos que superam um mês em relação ao cronograma original. Segundo o IBGE, a coleta foi prejudicada pela suspensão da coleta presencial de informações, consequência da pandemia do novo coronavírus. A coleta da PNAD Contínua vem sendo feita pelo telefone desde 17 de março.

“O desenho da amostra da Pnad Contínua introduz a cada mês um conjunto de novos domicílios, portanto, os números de telefones destes domicílios não foram levantados pelo IBGE. Tendo em vista que as visitas aos domicílios selecionados para responder ao IBGE foram suspensas desde março, tem sido um desafio realizar a pesquisa pelo telefone em todos os domicílios, especialmente nestes domicílios de primeira visita. Para conseguir realizar estas entrevistas, a coordenação estadual envia cartas e telegramas informando que o domicílio foi selecionado para a pesquisa e que, diante da situação atual, a coleta está sendo realizada por telefone, solicitando que entrem em contato com o IBGE”, informou o IBGE, em nota.

O adiamento das divulgações tem como objetivo “alcançar uma maior cobertura”.

Segundo Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender os efeitos da Medida Provisória (MP) 954, editada em meados de abril para obrigar as operadoras de telefonia a passar dados telefônicos de seus usuários para o IBGE, afetou negativamente o trabalho de coleta da Pnad Contínua.

Os pesquisadores do órgão vêm trabalhando com a base de dados de contatos telefônicos de 2019, recebida por meio da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O IBGE e a Anatel anunciaram convênio para o compartilhamento no início de abril, após o órgão de estatísticas suspender entrevistas presenciais em março, por causa da pandemia. Segundo advogados especializados, embora a decisão do STF não invalide automaticamente compartilhamentos anteriores, dá diretrizes para o uso de dados pessoais. Como mostrou o Estadão/Broadcast em abril, fontes que acompanharam o processo disseram que o IBGE já tinha acesso às informações, com base na legislação vigente, o que dispensaria a MP.

“Se tivesse a liberação (dos dados das operadoras telefônicas) teria facilitado, mas a gente está trabalhando com uma outra realidade”, disse Adriana. “Mas certamente impacto teve, e a gente está tendo que viabilizar alternativas”, completou.

Apesar da flexibilização das medidas de isolamento social País afora, ainda não há previsão de retorno do trabalho presencial de integrantes da rede de coleta do IBGE junto aos domicílios da amostra.

“Até agora a gente não recebeu essa recomendação, não sei se há algum planejamento nesse sentido, até agora não”, afirmou Adriana.

Quanto à Pnad Contínua referente a junho, a taxa de resposta ficou em torno de 57%, após ter superado os 70% nos meses de abril e maio. A média do trimestre ficou acima de 70%, disse Adriana, e os testes metodológicos confirmaram a adequação e consistência dos resultados para divulgação.

“A média permite que a gente ainda tenha boa taxa de resposta para poder construir os indicadores”, garantiu Adriana.