O fóssil de um exemplar de uma espécie extinta de crocodilo africano revelou semelhanças com os répteis norte-americanos modernos, dando suporte à teoria de uma possível travessia do oceano Atlântico há 5 milhões de anos. Essa é a conclusão de um estudo publicado nesta quinta-feira (23).

Os autores do trabalho, publicado na revista Nature Scientific Reports, especulam que os atuais jacarés dos Estados Unidos são descendentes de uma única fêmea desta antiga espécie africana. Fecundada, ela teria sido arrastada pelas correntes oceânicas para o continente americano.

Um crânio de crocodilo de 7 milhões de anos da espécie “C. checchiai” foi descoberto em 1939 em As Sahabi, na Líbia, e mantido em boas condições no museu de Ciências da Terra da Universidade Sapienza de Roma.

Recentemente, o crânio de quase 50 centímetros de comprimento foi escaneado e imagens tridimensionais revelaram segredos de sua anatomia: “C. checchiai” tinha uma protuberância na mandíbula, conferindo a ele um perfil convexo.

Essa característica não é encontrada em nenhuma espécie de crocodilo de outras partes da África, porém é encontrada em quatro espécies que hoje vivem na América e também em uma espécie extinta que habitava o território da atual Venezuela. Essa estrutura esquelética comum sugere uma evolução compartilhada entre a espécie do fóssil e os crocodilos americanos.

Análises morfológicas e moleculares complementares apoiam a tese, concluindo que esse ancestral africano pode ser encontrado na base da árvore filogenética – representação das relações evolutivas entre várias espécies ou outras entidades – de crocodilos. Ele pode ser o elo perdido entre as linhagens africanas e americanas.

Para explicar como essas ramificações se misturaram, a pesquisa sugere que os grandes répteis poderiam ter migrado da África para a América e depois se dispersado pelo continente, na era do mioceno, entre 11 e 5 milhões de anos atrás.

O Atlântico, na época, já era uma barreira enorme em termos de distribuição geográfica de organismos, afirmou à AFP o principal autor do estudo, Massimo Delfino. Segundo o pesquisador da Universidade de Turim, entretanto, a existência de diversas correntes oceânicas provavelmente facilitou a dispersão dos animais.

O extinto “C. checchiai” também está próximo de uma espécie australiana atual, “capaz de percorrer quase 500 quilômetros em um mês simplesmente flutuando e sendo levada pelas correntes, como mostraram imagens de satélite”.