As cotações do Bitcoin voltaram a cair na manhã desta terça-feira (25). Após subirem mais de 6% na véspera, nesta manhã elas recuam 0,9%, para US$ 36,4 mil. Em comparação com os US$ 47,8 mil do dia 31 de dezembro, o Bitcoin acumula uma queda de 23,8% em 2022. E em comparação com o pico de novembro de 2021, quando as cotações chegaram a US$ 67,6 mil, a baixa supera 46%.

Uma “regra de bolso” dos investidores tradicionais é que quedas de mais de 20% em relação ao pico histórico indicam um mercado de baixa. Por esse indicador, que não é muito científico, mas serve como parâmetro, o Bitcoin está em um mercado de baixa. É o começo do fim das criptos?

+ Com foco em cripto, Mercado Livre compra participação no Mercado Bitcoin e Paxos

A resposta rápida é: não, as criptomoedas, o Bitcoin entre elas, ainda têm muito chão pela frente. Três argumentos comprovam isso.

Começando pela variação dos preços em si. Boa parte da queda decorre da desmontagem de posições mais especulativas. Desde o início do ano, os investidores recalcularam para cima as probabilidades de o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, elevar os juros no Estados Unidos ainda em 2022.

As medidas destinam-se a baixar a inflação, o que deve ocorrer. Há algum tempo as criptomoedas vêm funcionando como uma estratégia de proteção contra a inflação. Com menos necessidade de proteção, os investidores desmontam as posições e reinvestem o dinheiro em algo mais promissor.

Segundo argumento: quedas drásticas já ocorreram antes, e nem faz tanto tempo assim. Em janeiro de 2018 o Bitcoin chegou a US$ 17,1 mil. Quatro meses depois, em abril, as cotações haviam recuado 59,7%, para US$ 6,89 mil. Os preços só voltaram ao terreno positivo um ano depois, no segundo trimestre de 2019, quando as cotações subiram quase 90%.

Terceiro: se permanecermos comparando a queda de janeiro de 2018 com a que está ocorrendo agora, notamos que elas ocorrem em ambientes radicalmente diferentes. O mercado está muito maior, muito mais maduro e muito mais institucional. De novo, vamos listar alguns fatos.

Em junho do ano passado ocorreu a primeira listagem de uma exchange de criptomoedas em Wall Street. A Coinbase vendeu suas ações diretamente, sem passar pelo processo tradicional de abertura de capital.

Em outubro de 2021, a Securities and Exchange Commission (SEC), a CVM americana, autorizou o lançamento do primeiro Exchange Traded Fund (ETF) de contratos futuros de Bitcoin, negociados na Chicago Mercantile Exchange (CME).

Em novembro, Tim Cook, presidente de uma pequena empresa de tecnologia chamada Apple, declarou que investe parte de seu portfólio em criptomoedas e que a Apple estava “olhando para isso” de uma perspectiva tecnológica. Executivos experientes como Cook sabem que cada palavra que pronunciam é medida e pesada por centenas de analistas e por milhões de investidores. Assim, essa declaração não veio por acaso. O fato de Cook dizer que a Apple estar “olhando” para critptomoedas indica que já há vários grupos de trabalho, análises aprofundadas e protótipos rodando nos laboratórios da companhia fundada por Steve Jobs.

E no dia 19 de janeiro, outra pequena empresa de tecnologia. o Google, anunciou a contratação de Arnold Goldberg, executivo egresso do PayPal para reforçar seu sistema de pagamentos, o Google Pay, de modo a incluir criptomoedas.

Exchanges e ETFs listados em bolsa, e as gigantes da tecnologia interessadas no assunto. Apenas considerando esses fatos, é claro que as criptomoedas estão muito mais perto da economia “tradicional” do que na desvalorização anterior, em 2018.

Por isso, a conclusão que é o fim para as criptomoedas é incorreta. Qualquer mercado apresenta solavancos periódicos. As criptomoedas são um ativo arriscado e que, por isso mesmo, proporciona os maiores ganhos potencial. Assim, apesar da queda, a migração desses ativos para a economia real permanece. Por isso, não se descarta um movimento de recuperação, lento e sustentável, dos preços.