A bril de 2021 será lembrado como o marco zero do mercado de criptomoedas. Dois fatos justificam essa afirmação. Um deles foi a abertura de capital da Coinbase, maior corretora americana de criptoativos, dia 14. Ela listou suas ações no mercado eletrônico Nasdaq. Pela primeira vez, o universo das exchanges e corretoras virtuais passou a conversar com um pregão estruturado. Uma semana depois, na terça-feira (20), encerrou-se na B3 o período de reserva do Hashdex Nasdaq Crypto Index. O nome difícil refere-se ao primeiro Exchange Traded Fund (ETF) de moedas virtuais a ser negociado na Bolsa de São Paulo. Parece complicado, mas é simples. Há vários ETFs na B3. O mais negociado é o BOVA11, cujas cotas reproduzem o Ibovespa. O fundo Hashdex será negociado com o código HASH11 e buscará reproduzir o Nasdaq Crypto Index (NCI). “É uma grande conquista. Esse lançamento mostra a maturidade do mercado de criptomoedas, que conquistou um patamar de respeito em 2020”, disse o CEO da Hashdex Marcelo Sampaio. A gestora que desenvolveu o fundo pretende que ele funcione como alternativa para pequenos investidores. Em vez de terem de recorrer a exchanges e corretoras internacionais, os interessados poderão fazer negócios com os sistemas oferecidos pelas corretoras ligadas à B3.

A demanda foi grande. As reservas movimentaram cerca de R$ 600 milhões, em pedidos realizados por 30 mil pessoas físicas e fundos de investimentos. A cifra é quase o triplo do valor inicialmente ofertado, que era de R$ 250 milhões. As negociações devem começar na segunda-feira (26).

Os lançamentos nos Estados Unidos e no Brasil mostram que as criptomoedas deixaram de ser um investimento de nicho e estão caminhando para o rol das aplicações financeiras tradicionais. Grandes empresas americanas estão alocando recursos em bitcoin. O exemplo mais conhecido é a Tesla, montadora do empresário Elon Musk que se tornou a mais valiosa do setor no mundo. Há ainda a Square, empresa de pagamentos de Jack Dorsey, fundador do Twitter, e a desenvolvedora de software Microstrategy.

A chegada de novos participantes tem feito os preços oscilar bastante. Ao longo dos últimos dias, as cotações do Bitcoin, a mais popular das moedas virtuais, chegaram a um recorde de US$ 63 mil, para retornar a US$ 55 mil menos de uma semana depois. Nenhuma notícia específica provocou esses solavancos, apenas as movimentações normais de um mercado em formação. Por isso, os analistas avaliam que o momento atual dos criptoativos é diferente do que ocorreu em 2017, quando houve todas as características de uma bolha especulativa. A irracionalidade fazia pessoas colarem adesivos com o símbolo do Bitcoin em seus veículos, além de abrir espaço para golpes e pirâmides.

FASE SUPERADA Atualmente, o que vem crescendo é o dinheiro institucional. As criptomoedas e o blockchain, a tecnologia em que elas são criadas, estão migrando para o mundo dos pagamentos. Por exemplo, transações internacionais, uma vez que, além do custo baixo e da velocidade de processamento, os gastos com a conversão são menores do que nos mercados cambiais tradicionais. Ao listar sua empresa na Nasdaq, o CEO da Coinbase, Brian Armstrong, afirmou que “estamos vendo as criptomoedas evoluírem”. Segundo ele, os primeiros usos foram especulação e pagamentos fora dos radares das autoridades, mas essa fase foi superada.

E para o investidor brasileiro, o que mudou? As criptomoedas, especialmente as mais negociadas, estão deixando de ser um território sem lei. Ou seja, os riscos são menores. Disso decorre uma segunda mudança: ao se tornarem mais transparentes e entrarem no radar dos grandes investidores, elas também perdem espaço para movimentos especulativos. Assim, as promessas de começar com o dinheiro de um cafezinho e comprar o cafezal seis meses depois tornam-se muito menos prováveis. No entanto, o surgimento de alternativas mais seguras e controláveis é um bom incentivo a que você comece a olhar com menos desconfiança para esse mercado.