Na semana passada, ela voltou a trombetear essa máxima, apresentando com estardalhaço a informação de que teria crescido algo em torno de 9,4% no primeiro semestre – bem perto, portanto, dos 11,1% conquistados pelo PIB chinês no mesmo período. Pela estatística anunciada estaria nascendo assim na vizinhança um autêntico tigre sul-americano. Ledo engano. Os dados que sustentam a marca são de origem duvidosa e maquiam uma série de indicadores negativos que dão conta do real estado de saúde da economia do País. Analistas de lá mesmo apontam que o governo escamoteia informações relevantes, como a da inflação descontrolada, que mina parte dos resultados. 

 

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O ex-ministro Roberto Lavagna, que dirige a consultoria Ecolatina, crava que a Argentina continua em recessão, com problemas graves de financiamento, deterioração fiscal, pressão tributária recorde e fuga de capitais. Somente nos últimos quatro anos, cerca de US$ 50 bilhões saíram do sistema financeiro argentino. A economia local ainda convive com sérias dificuldades estruturais de desemprego, desindustrialização e extrema dependência do parceiro Brasil que, na base da benevolência, é responsável pela sustentação de empresas-chaves na atividade interna. 

 

Um em cada três argentinos permanece pobre e a herança do calote financeiro nos organismos internacionais ainda pesa fortemente sobre toda a população. Os nós do parque produtivo que levaram à bancarrota, com o pedido de moratória em 2001, não foram desatados. A agricultura e a pecuária seguem desarrumadas e em estado de batalha campal com o governo. 

 

E, se o cenário não é o bastante para desmistificar a aura resplandecente dos números oficiais, a desconfiança que paira sobre o casal Kirchner deveria ser o suficiente para desaconselhar apostas no futuro brilhante que se alardeia por ali. Tudo está maquiado, gritam os próprios argentinos! 

 

E o movimento gerado nas hostes governamentais para chamar a atenção para a sua economia tem razão de ser. No momento em que os olhos dos investidores do mundo miram mercados emergentes de larga perspectiva de crescimento como o Brasil, a Argentina quer pegar carona na onda e arrancar uma parte das inversões para lá. A questão é que com todo o seu histórico negativo e a falta de credibilidade será difícil.