Um açougue familiar em Mogi-Guaçu, no interior paulista, foi o lugar onde o ainda garoto Marcos Molina dos Santos aprendeu as bases do ofício que nas décadas seguintes o levaria a construir um império global. Atrás do balcão, como haviam feito o avô e o pai, Molina aprendeu a cortar e servir as peças de um jeito que encantava a clientela, a cuidar do caixa para nunca faltar troco e a comprar dos fornecedores pagando o preço justo a quem oferecia a melhor qualidade. O aprendizado daqueles tempos foi fundamental que ele entendesse as oportunidades que o mercado oferecia. A primeira delas foi precoce: aos 16 anos ele quis ser emancipado para abrir sua própria distribuidora de miúdos. Logo depois, passaria a fornecer cortes para churrascarias de alto padrão na capital paulista. Com o passar do tempo, sua empresa foi crescendo até se tornar uma das líderes globais em carne bovina, além da maior produtora de hambúrgueres.

A simplicidade, contudo, permaneceu como marca registrada da Marfrig Global Foods, empresa que faturou perto de R$ 50 bilhões no ano passado, com 32 mil colaboradores e resultados que a fazem merecer o título de Empresa do Ano segundo os critérios de avaliação do anuário AS MELHORES DA DINHEIRO 2020. “A Marfrig tem humildade. Ela sempre pensa que pode melhorar”, afirmou o diretor-presidente Miguel Gularte.

Por “melhorar” entenda-se não apenas a busca de recordes ano a ano (o que de fato tem ocorrido), como também a adoção de práticas de administração eficientes, com inovação, qualidade e compromisso com o meio ambiente – algo de que a Marfrig pode se orgulhar como poucas empresas que atuam no setor de carne bovina em todo o mundo. Prova de que a sustentabilidade é uma das diretrizes estratégicas da empresa foi o anúncio, em julho, do plano de visão até 2030 desenvolvido em parceria com o IDH (The Sustainable Trade Initiative). O plano é baseado nas premissas da rastreabilidade completa da cadeia de suprimentos, na inclusão de produtores no manejo sustentável dos recursos naturais, no combate ao desmatamento e na total transparência para que a sociedade possa acompanhar os desdobramentos da iniciativa (leia mais sobre compromissos ambientais da Marfrig na página 102).

Para alcançar seus objetivos ambientais de longo prazo, a Marfrig tem inovado o ecossistema em que atua. Exemplo do pioneirismo nesse quesito é a marca Viva, linha de carnes “carbono neutro” desenvolvida em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo a Marfrig, os produtos da linha Viva são provenientes de animais inseridos em um sistema de produção pecuária-floresta que neutraliza as emissões de metano. A compensação é assegurada a partir da certificação e verificação por auditorias independentes. Antes da carne carbono zero, a Marfrig havia lançado o Revolution Burger, linha que ampliou o portfólio da empresa no quesito de produtos de base vegetal. “Logo que começaram a surgir as ‘carnes alternativas’, no Vale do Silício, eu fui lá visitar. Em 2016, começamos uma conversa com a ADM, uma das líderes daquele movimento nos Estados Unidos”, disse o fundador e presidente da Marfrig, Marcos Molina. “A ideia era oferecer uma alternativa ao consumidor que passou a comer menos carne. Apesar de a base de clientes veganos ainda ser pequena, ela vem crescendo a uma média de dois dígitos ao ano.” Este ano, a Marfrig e a ADM anunciaram o acordo para criação da PlantPlus Foods, joint venture para a comercialização de produtos de base vegetal por meio dos canais de varejo e food service nos mercados da América do Sul e América do Norte. “Nossa capacidade de produção e distribuição, combinada Para alcançar seus objetivos ambientais de longo prazo, a Marfrig tem inovado o ecossistema em que atua. Exemplo do pioneirismo nesse quesito é a marca Viva, linha de carnes “carbono neutro” desenvolvida em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo a Marfrig, os produtos da linha Viva são provenientes de animais inseridos em um sistema de produção pecuária-floresta que neutraliza as emissões de metano. A compensação é assegurada a partir da certificação e verificação por auditorias independentes. Antes da carne carbono zero, a Marfrig havia lançado o Revolution Burger, linha que ampliou o portfólio da empresa no quesito de produtos de base vegetal. “Logo que começaram a surgir as ‘carnes alternativas’, no Vale do Silício, eu fui lá visitar. Em 2016, começamos uma conversa com a ADM, uma das líderes daquele movimento nos Estados Unidos”, disse o fundador e presidente da Marfrig, Marcos Molina. “A ideia era oferecer uma alternativa ao consumidor que passou a comer menos carne. Apesar de a base de clientes veganos ainda ser pequena, ela vem crescendo a uma média de dois dígitos ao ano.” Este ano, a Marfrig e a ADM anunciaram o acordo para criação da PlantPlus Foods, joint venture para a comercialização de produtos de base vegetal por meio dos canais de varejo e food service nos mercados da América do Sul e América do Norte. “Nossa capacidade de produção e distribuição, combinada à excelência técnica e de desenvolvimento da ADM, fazem da PlantPlus uma empresa que desde o início estará preparada para atender a evolução desse mercado”, afirmou Molina.

O aumento de portfólio a partir do aproveitamento da capacidade de produção e distribuição e da oferta de itens de maior valor agregado havia sido desenhado anos atrás. “Desde 2018 nosso planejamento consistia em eficiência na fábrica, investimento em capex e aumento de processados”, afirmou Molina à DINHEIRO. Capex é a sigla para “capital expenditure”, expressão inglesa que se refere ao montante despendido na aquisição de bens de capital de uma determinada empresa. Em 2018, os investimentos da Marfrig, incluindo a aquisição de 51% da National Beef Packing (NBP), nos Estados Unidos, foram de R$ 4,3 bilhões. Em 2019, a participação foi ampliada para 81%. O retorno veio de forma rápida. No primeiro trimestre de 2020, a Operação América do Norte, comandada pelo CEO Tim Klein, teve receita líquida de R$ 9,7 bilhões. “O resultado é reflexo de diversos fatores de mercado”, afirmou Klein, destacando a maior disponibilidade de gado aliada ao aumento no volume de vendas de produtos prontos no mercado americano.

BASE VEGETAL A produção em larga escala de hambúrgueres sem carne posiciona a empresa junto a uma tendência de consumo que cresce dois dígitos ao ano. (Crédito:Divulgação)

Se as notícias foram boas no Hemisfério Norte, por aqui foram ainda melhores. A receita líquida da Operação América do Sul foi de R$ 3,8 bilhões, crescimento de 26,1% sobre o primeiro trimestre de 2019. Pesa nessa conta o aumento substancial das exportações, que cresceram 65% no período. “Somos a empresa com o maior número de plantas habilitadas para exportar para a China e isso fez enorme diferença”, disse Miguel Gularte. “Quando a China começou a deixar para trás a crise do novo coronavírus, fomos beneficiados.” As exportações representam 60% das receitas totais da operação da Marfrig América do Sul. E a receita vinda de fora continuou crescendo nos meses seguintes, o que contribui para que a Marfrig alcançasse um número capaz de orgulhar qualquer executivo. Ao encerrar o segundo trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 1,59 bilhão, a empresa cravou exatos 1.743% de alta em relação ao lucro obtido no mesmo período um ano antes (que havia sido de R$ 87 milhões).

As condições externas que permitiram esse avanço, incluindo a depreciação do real e toda a turbulência decorrente da pandemia poderiam ter sido desperdiçadas caso a empresa não estivesse devidamente preparada. A Marfrig estava. Várias medidas de aumento de produtividade haviam sido executadas. Unidades pouco produtivas, como a de Tucumã (PA), foram encerradas. A produção se concentrou em plantas com maior escala, como a de Várzea Grande (MT), de onde saem inclusive os hambúrgueres vegetais.

A empresa não mirou apenas no portfólio. No aspecto financeiro, ações de liability management com a liquidação antecipada das operações de capital de giro resultaram numa redução de despesas com juros de cerca de R$ 135 milhões. Com recursos próprios, a Marfrig liquidou, em janeiro deste ano, US$ 446 milhões em Notas Sênior com vencimento para 2023 e juros anuais de 8%. Ao mesmo tempo, liquidou o equivalente a R$ 938 milhões em operações de capital de giro, atingindo um custo médio de dívida de 5,8% ao ano, o menor de sua história.

Em um mundo que se tornará mais pobre e com menos empregos devido aos impactos da pandemia de Covid-19, haverá espaço para uma empresa do porte da Marfrig continuar crescendo? Para o diretor presidente Miguel Gularte, sim. “Nós estamos em um segmento onde a demanda supera a oferta”, afirmou. “Isso não mudou, nem mesmo com toda a alteração econômica mundial decorrente da Covid-19.” Para ele, o que houve foi uma mudança de canal comercial. Enquanto os restaurantes estão demandando menos, até por terem reaberto com restrições de ocupação, por outro lado, há maior venda de carne no atacado. “Sempre que surge um advento econômico transformacional ele vem acompanhado de uma revisão nas prioridades de alocação dos recursos. E alimentação segue como uma prioridade para as famílias”, disse, citando também o aumento da preocupação com a saúde e a procedência dos alimentos. No novo normal pós-pandemia, ter confiança naquilo que se põe na boca pode ser tão vital quanto usar máscara ou álcool gel. E essa confiança passa pelos valores que uma empresa cultiva no dia a dia. E nisso,a simplicidade pode fazer toda a diferença.