Eis o dilema que toma conta dos analistas de mercado por esses dias: como destravar a economia sem comprometer o ajuste fiscal. Nas duas vertentes, soluções e diagnósticos diferentes são apontados. Muitos acham que a economia só irá andar mais rápido com investimentos públicos, o que afeta significativamente a meta de controle dos gastos. Outros acreditam que o simples estímulo aos agentes, via juros baixos e inflação controlada, vai fazer florescer um impulso de expansão natural na iniciativa privada. Ajuste fiscal passa necessariamente por aumento da arrecadação. Juros em queda são essenciais para os agentes do setor produtivo, mas desestimula inversões do capital externo.

Como em um cobertor curto, se puxar muito de um lado vai faltar do outro. Na prática mesmo o que se nota é que a recuperação está vindo de forma mais lenta e gradual do que a esperada. Não é fácil sair de uma recessão explosiva, recorde, da ordem de 3% do PIB a cada ano, e voltar a crescer. Também não é mais suportável aguardar tanto tempo para o mercado respirar aliviado com uma folga nos resultados. A terrível política de desarrumação do parque promovida na gestão de Dilma Rousseff pode levar mais de uma geração para ser contornada. As fórmulas empíricas, tratadas nos laboratórios acadêmicos, não trazem soluções garantidas. É preciso ousar.

Buscar caminhos novos nas exportações, na atração de demanda, no “modus operandi” da geração de riqueza. Meros incentivos, de natureza temporal, não serão suficientes. A produtividade, a renda e a expansão dos negócios não podem ser almejadas sem criatividade. Já é uma excelente notícia que a crise de expectativas tenha sido debelada. O ânimo no País é outro e isso conta muito na hora de vislumbrar a retomada. No curto prazo existem ainda muitos sinais de incerteza, a começar pelas eleições. Polos de capital como os EUA e a China entraram em perigoso conflito. A autoridade americana hesita no campo das medidas monetárias, gerando temores de toda ordem. O câmbio, especialmente aqui no Brasil, reflete a instabilidade.

O Banco Central já teve que intervir na semana passada para conter a escalada do dólar e nada garante que essa tenha sido a última vez. O fortalecimento da economia interna passa, antes de tudo, pela atitude de seus agentes de seguirem em frente. Seria muito bem-vindo, é claro, gestos do setor financeiro facilitando crédito e refletindo em suas taxas de empréstimos a política de queda praticada na Selic pela autoridade monetária. Isso ainda não acontece, o que é lamentável. Se o acerto em favor do crescimento não for geral o Brasil não destrava.

(Nota publicada na Edição 1068 da Revista Dinheiro)