POR IMPULSO: Miguel José Ribeiro de Oliveira, da Anefac: falta planejar melhor as despesas.

De agosto de 2016 até agora, a queda da taxa básica de juros da economia (Selic) foi histórica. De 14,25% ao ano, ela foi gradualmente reduzida até chegar aos atuais 4,25%. O último corte foi em janeiro. Para a atividade econômica como um todo, juros baixos são bem-vindos. Quando se observa a tomada de crédito (empréstimos e financiamentos), o resultado prático da redução da Selic é irrisório. As instituições financeiras continuam cobrando juros altos de quem pede dinheiro emprestado. No caso dos empréstimos pessoais, a taxa dos bancos chega a quase 50% ao ano. E é bem maior no caso das financeiras, que cobram 111%. O cartão de crédito permanece o recordista dos juros: 261,36% ao ano.

“O consumidor olha mais para o valor da parcela do que para o preço final que vai pagar pelo produto”, diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). O executivo afirma que é perceptível uma melhora no planejamento, mas falta educação financeira. “Ao invés de olharmos as taxas e ver se compensa comprar determinado produto a prazo, o brasileiro acaba agindo muito pelo impulso, principalmente em datas comemorativas como dia das mães e Natal”, diz ele.

Para Silvio Paixão, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), o brasileiro está mais confiante em tomar crédito: “As pessoas estão mais confortáveis para um endividamento a partir do momento que percebem as reações positivas do governo para a economia”. Segundo ele, quem hoje tem aplicação com taxa baixa e sente qualquer incômodo, procura outros meios e as fintechs estão aí para isso.

REFORMAS JÁ: Nicola Tingas, da Acrefi: otimismo para gastar de forma consciente. (Crédito:Mario Bock)

“Estamos bem otimistas para um crescimento econômico em 2020 e não enxergamos problemas na inflação, que deve se manter bem baixa. Só precisamos manter esse ritmo de ações positivas para que o consumidor continue confiante”, diz Nicola Tingas, economista chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). “Os gargalos são o endividamento da população e o desemprego”, afirma.

As reformas tributária e administrativa são os fatores decisivos para que a onda de otimismo entre os consumidores continue e o crédito seja cada vez menos necessário para ser usado como pagamento de dívidas. Os especialistas consultados pela DINHEIRO compartilham desta mesma opinião. Para Nicola Tingas, é preciso que as reformas aconteçam. “Isso dá confiança ao consumidor para manter o controle e otimismo para um gastar de forma mais consciente”, afirma.

RESPONSABILIDADE Com mais crédito, os mercados se desenvolvem, as empresas investem, ampliam suas vendas, geram empregos e as pessoas antecipam a realização de seus sonhos. Tudo isso é muito bonito, desde que as pessoas saibam o que está por trás do dinheiro que pegam emprestado. A educação financeira é fundamental para gastar com responsabilidade. “Um quarto dos brasileiros que estava endividado continua da mesma maneira. As pessoas gastam mais do que tem facilmente em uma compra parcelada no cartão de crédito, por exemplo. No final, dá na mesma e acaba se livrando de uma dívida contraindo uma nova”, afirma Silvio Paixão, da Fipecafi.

Para o governo federal, a redução da Selic significa reforço no caixa. Com juros menores, os gastos no pagamento da dívida pública também caem. O Ministério da Economia estima que a redução da taxa básica de juros gerou, ao longo de 2019, uma economia de cerca de R$ 69 bilhões. Assim como todos os brasileiros, o governo também precisa aprender a gastar de forma consciente.