Cenário de retração econômica, fechamento do comércio e superendividamento não são os únicos sufocos vividos pelos micro e pequenos empresários brasileiros desde o ano passado. A liberação de crédito ficou menor, mais rigoroso e mais difícil para quem tem pouca garantia a oferecer, principalmente via Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), uma das principais ferramentas do governo para negócios menores. Na comparação entre 2019 (período pré-pandemia) e a primeira metade de 2021, a fatia de crédito para as MPEs caiu de 4,12% para 2,96% do total do País. Passou de R$ 60 bilhões para R$ 53,5 bilhões. Na outra ponta, o dinheiro disponível para as grandes companhias cresceu mais de R$ 144 bilhões, uma fatia de 60% do total.

Segundo a economista Isabela Tavares, especialista em crédito da consultoria Tendências, o maior risco fez com que as PMEs tivessem menos disponibilidade de linhas de financiamento. “Como as grandes empresas têm garantias maiores, tiveram mais acesso”, disse. “Os pequenos, sem garantias, sofrem com menos acesso ao sistema financeiro.” Isso, segundo ela, prejudica principalmente a geração de empregos, já que 72% das vagas formais geradas no País nos últimos 12 meses foram nos micro e pequenos negócios. Foram 2 milhões de postos com carteira assinada gerados no acumulado de junho de 2020 a junho de 2021, contra 900 mil nos demais portes de empresas, segundo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

2,9% foi a participação das MPEs na obtenção de crédito no País no primeiro semestre de 2021

Para o presidente da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas e dos Empreendedores Individuais, Ercílio Santinoni, as ações do governo para incentivar o crédito tem sido insuficientes para acelerar os menores. “A procura mais que triplicou”, disse. Em nota, o Banco Central informou que em 2020 o saldo das operações de crédito para as empresas menores cresceu “aproximadamente o dobro do saldo das grandes empresas, e sua fatia no total do crédito aumentou”. Para o BC, “as microempresas, apesar de mais numerosas, representam, em conjunto, um porcentual menor da economia e a afirmação de que houve agravamento na assimetria de crédito não pode ser deduzida simplesmente tomando as participações relativas no mercado de crédito”. De qualquer forma, a tirar pelos dados do Caged, é esse “porcentual menor da economia” que tem dado o pouco de combustão no motor do emprego neste momento.